A política brasileira e o paradigma dos atos “Retaliados-Retalhados”
Falta conteúdo e substância na ação objetiva de mudança paradigmática de nossa sociedade. Estamos alheios aos processos, ou em nosso mundinho (clubinho) egoísta, pouco empático de transformação social
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Charge: Diogo Salles
Numa sociedade de "jeitinhos", num arranjo societário de improvisos, onde todo instrumento de formatação sistêmica e estrutural é aviltado por consensos difusos e complexos, onde acordos denotam promiscuidade e não elementaridades e essencialidades da vida humana e do ordenamento civilizatório-cultural; sócio-histórico, podemos esperar o quê, senão o exercício permanente do ato, cujo paradigma centra-se no "Retaliando" e "Retalhando"?
Ora, não é difícil buscarmos na história (e na história bem recente, aliás, ali, ao lado, no atual processo político que vivenciamos) exemplos do que afirmo com dureza de palavras e dor na alma, afinal, sou brasileiro e sonho um dia vivermos em paz e fundamentalmente bem, sem que prevaleça na ordem do dia a bestialidade e a ganância setorizada de nossa classe política.
Retomando o debate. Não elegemos nem reformas, tampouco revoluções como nortes efetivos de nossa intervenção política e social. A Direita brasileira, sempre muito egoísta e unilateral, vive-se da derrocada subordinação absoluta diante das elites descontextualizadas quanto ao senso de humanidade. A Esquerda faz rupturas permanentes com a abordagem histórica, é medrosa, possui criatividade limitada e banha-se em minimalismos retóricos diante de seus gurus conceituais. A sociedade, de instrução bastante mediana, sobretudo, quanto às potencialidades de asserto político, não consegue avançar em seus manifestos que não passam de cartazes a pedir "Galvão, filma eu" e seus genéricos tão simplórios e pouco úteis. Ou seja: falta conteúdo e substância na ação objetiva de mudança paradigmática de nossa sociedade. Estamos alheios aos processos, ou em nosso mundinho (clubinho) egoísta, pouco empático de transformação social.
É óbvio que avançamos ao longo de 500 anos. Ganhamos experiências, nossa ciência corroborou muito com o mundo, nossos intelectuais influenciam acadêmicos em todo o globo terrestre. Nos últimos anos conseguimos também imprimir um pouco mais de dignidade a nosso povo mais pobre. É fato que há mais inclusão social, um pouco só de menos desigualdade, acesso a políticas, programas jamais visíveis aos miseráveis, oportunidades aos jovens que derivaram de esforços de uma coalizão administrativa, cuja eficácia pontual derivou melhor qualidade de vida aos pobres (parabéns!). Todavia, estamos longe, muito longe da maturidade político-social. A maldade da Direita de fazer uma administração de entreguismos (privatizações, ou intervenções institucionais aos privilegiados), e a covardia da Esquerda de recuos reformistas (nem menciono empreendimentos revolucionários; isso nem passou perto), fez com que perdêssemos a capilaridade do contexto mundial para liderarmos mais ao lado de outros a geopolítica, assim como – e principalmente – implementarmos um modelo desenvolvimentista exemplar ao Planeta, com respeito à distribuição justa de renda, reorganização dos processos sociais e pactuação com a sustentabilidade ambiental.
No entanto, e bem ao contrário desses conteúdos, sob à lógica do "poder pelo poder", da ganância exacerbada de nossa classe política, dos espaços corruptivos (com estribos empresariais), mais uma vez disputamos no andar de baixo (e na baixaria). Nossos políticos, ao invés de corrigir as distorções históricas, aproveitando o momento de investigação (diga-se: bem seletivas, mas, em geral, necessárias) que combatem a corrupção trazida pelos portugueses em 1500; ao invés de fazer frontes e alianças para enfrentamento da crise econômica do Capitalismo internacional que afeta EUA, União Europeia, China, Mercosul e todos os países com que o Brasil nutre relação comercial; ao invés debater generosamente direitos sociais e humanos que nos denotem um outro marco civilizatório, essa classezinha política vive de brigas imbecis e que não nos interessam no mundo real.
Penso que, como bons brasileiros que somos, devemos exigir de nossos eleitos (cada um votou, ou conhece quem votou neste Congresso Nacional e na Presidenta) que eles parem de agir no paradigma do "Retaliando" e do "Retalhando". Retaliando, como? Um implodindo o que o outro faz, os avanços, as propostas, os poucos programas que existem. E Retalhando como? Viver de políticas e arranjos improvisados, sem planejamento estrutural e de longo prazo que leve em conta fatores sociais, ambientais e econômicos, ou seja, uma ação colegiada, respeitadas as abordagens ideológicas e filosóficas, contudo, que tenha no centro da decisão, ao final dos diálogos a coerência com o povo, e sinceramente atenta às necessidades do povo, sem retóricas vazias de conteúdo ou sem-vergonha. Pactos efetivos e não coalizões fisiológicas que repliquem, ao final, o "mais do mesmo", melhorado ou piorado.
Destarte, peço-lhes, políticos: parem de Retaliar o tempo todo e Retalhar logo a seguir. E nos permitam viver em paz, por gentileza!
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