A PF no centro da guerra entre as facções do Moro e do Bolsonaro

"Moro e Bolsonaro não queriam autonomia da PF, apenas disputavam qual facção teria controle sobre a corporação", escreve o colunista Jefferson Miola

URGENTE: Moro aceita convite de Bolsonaro para ser ministro da Justiça
URGENTE: Moro aceita convite de Bolsonaro para ser ministro da Justiça (Foto: Fotos: Reuters)


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O oportunista Sérgio Moro instrumentaliza a saída do governo Bolsonaro para turbinar sua falsa imagem de agente público probo, honesto, incorruptível. Aproveita para recuperar a imagem farsesca de símbolo do combate à corrupção e de defensor da autonomia da Polícia Federal, do MP e dos órgãos de investigação.

A simples participação dele num governo chefiado por um miliciano – que fosse por um único dia ou por 16 meses – despe Moro de quaisquer daqueles atributos virtuosos.

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Ele mente ao alegar que decidiu abandonar o governo por discordar da interferência política do clã Bolsonaro na PF. Na gestão dele no ministério, a PF foi totalmente aparelhada; todos cargos foram preenchidos a dedo por compromisso com ele, Moro, não com a Constituição.

Moro não aceitou perder poder ou ter de dividir com a facção bolsonarista o controle absoluto que exercia sobre a PF. A corporação foi transformada na sua Gestapo, em polícia política a serviço de um projeto de poder pessoal e partidário-lavajatista.

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Moro manteve a PF sob rédeas curtas e guiada por prioridades nada republicanas. Com a PF inteiramente sujeitada ao seu comando político, ele amealhou extraordinário poder de fogo, de chantagem e de intimidação contra inimigos de dentro e de fora do governo.

Ao mesmo tempo em que conhecia e protegia ilicitudes de agentes do governo, do PSL e, sobretudo, do próprio Bolsonaro e seus “pimpolhinhos” Zero1, Zero2 e Zero3, Moro direcionava o trabalho da PF contra a oposição, mais precisamente contra Lula e o PT.

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Ao direcionar politicamente o trabalho da PF, Moro prevaricou em várias situações; como, por exemplo, em relação: ao ministro do Turismo e o laranjal do PSL; às milícias digitais e disseminação de fake news; ao terrorista do PSL que jogou bombas na sede do Porta dos Fundos e fugiu do país; ao tráfico internacional de 39 kg de cocaína no AeroCoca presidencial; à tentativa de destruição de provas no caso dos supostos hackers; à não investigação das denúncias da Vaza Jato; à exclusão do miliciano preferido dos Bolsonaro, Adriano da Nóbrega, da lista de bandidos mais procurados; à indiferença em relação aos ataques de Eduardo Bolsonaro ao Estado de Direito; à omissão do escândalo de corrupção em Itaipu etc e etc [aqui].

Como se vê, é bastante extensa a lista de manipulações e interferências do Moro na PF para atender interesses políticos e partidários.

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A interferência do Moro na PF marca da carreira dele desde quando atuava como juiz. Ele sempre sujeitou a PF – e também o Ministério Público e, inclusive, desembargadores do TRF4 e ministros do STJ e STF – às suas estratégias políticas e ao seu projeto de poder.

O site The Intercept documentou amplamente as ilegalidades cometidas por Moro quando chefiava a organização criminosa de Curitiba, como Gilmar Mendes nomina a Lava Jato.

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Cabe recordar dois eventos-chave da trajetória de corrupção do sistema de justiça do Brasil promovida por Moro e seus comparsas por meio da PF manietada por eles.

O primeiro evento foi em 16 de março de 2016, quando Moro coordenou pessoalmente a gravação ilegal, feita pela PF sem autorização judicial, de conversas telefônicas da presidente Dilma com Lula e de Lula com outras autoridades. E, ao final daquele dia, Moro vazou criminosamente a gravação à Rede Globo para inviabilizar a posse de Lula na Casa Civil.

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O segundo evento foi em 8 de julho de 2018, quando Moro estava em férias no exterior e ordenou indevidamente ao então superintendente da PF no Paraná, delegado Maurício Valeixo [depois promovido por ele a Diretor da PF], que descumprisse ordem judicial de soltura do Lula, para impedir a candidatura do ex-presidente contra Bolsonaro.

A corrupção do sistema de justiça que originou o Estado de Exceção vigente até hoje no país só foi possível com a ação destrutiva e nefasta de Sérgio Moro e da facção Globo-lavajatista.

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As razões – e o oportunismo da ocasião – para Moro abandonar Bolsonaro não tem nada de republicano ou de decente. Tanto Moro como Bolsonaro não defendiam a autonomia e a independência da PF; eles apenas disputavam qual das duas facções criminosas – a lavajatista ou a bolsonarista – teria controle sobre a PF para materializar seu projeto de poder.

Moro armazenou muito conhecimento e informação sobre as práticas ilícitas e criminosas dos Bolsonaro e de outros agentes políticos. O uso desta arma poderosa para abater Bolsonaro era uma questão de tempo.

O avanço das investigações no Supremo sobre disseminação de fake news e sobre os organizadores dos atentados contra o Congresso e o STF [19 de abril] aumentou o desespero do Bolsonaro em trazer para seu domínio seguro a PF. E isso implicaria em tirar do Moro o único motivo que ainda o mantinha no governo.

Está oficialmente declarada a guerra entre as facções do Moro e Bolsonaro. Pela primeira vez a extrema-direita enfrenta uma crise aberta de disputa de hegemonia no seu interior. Nas redes sociais e mídias digitais, o tom desta disputa é cada vez mais beligerante.

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