A PERGUNTA DE 2014



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Os números do Ibope divulgados ontem mostram que Dilma Rousseff e Aécio Neves permanecem no mesmo patamar anterior a Copa, em 7 de junho: 38% e 22% das intenções de voto, respectivamente.

Os números do Ibope divulgados ontem mostram que Dilma Rousseff e Aécio Neves permanecem no mesmo patamar anterior a Copa, em 7 de junho: 38% e 22% das intenções de voto, respectivamente.

Quem caiu foi Eduardo Campos, rebaixado de 13% para 8%.

continua após o anúncio

A maioria dos analistas apressou-se em dizer que estes números mostram que a Copa das Copas não trouxe benefícios para Dilma. É uma tentativa de transformar uma derrota em vitória.

Explico. O que a oposição pretendia – e as bolas de Cristal da mídia sobre a Copa refletiam isso – era para arrancar eleitores do governo. Apostando numa profecia que se revelou um fiasco histórico, achava inevitável que Dilma  saísse da Copa menor do que entrou.

continua após o anúncio

Mas Dilma permanece  do mesmo tamanho  e os adversários não cresceram. O terceiro colocado até diminuiu. Quem você acha que ganhou?

Quem tem tamanho para jogar na defesa, sabendo que irá ganhar se impedir ataques adversários. Este é o retrato político que o Ibope desenhou. Não é uma surpresa.

continua após o anúncio

O sociólogo Antônio Lavareda, insuspeito de simpatias petistas, criou o Índice Band, que trabalha com votos válidos, universo que exclui nulos e brancos, de quem já resolveu em quem irá votar em 5 de outubro. O resultado é o seguinte:

50% para Dilma

continua após o anúncio

27% para Aécio

11% para Eduardo Campos

continua após o anúncio

4% para o pastor Everaldo

E só.

continua após o anúncio

Isso quer dizer que se as eleições fossem hoje, Dilma levava no primeiro turno por 50% a 42% sobre o conjunto dos adversários -- muito além de qualquer  margem de erro.

Você pode argumentar que os “votos válidos” irão aumentar até o dia da eleição – e isso é verdade.  Pode até calcular que nos próximos levantamentos, os adversários de Dilma irão ganhar num ritmo maior do que o dela – é possível, até porque ela já atingiu um bom tamanho, conquistou a metade dos votos de quem já sabe em que vai votar.

continua após o anúncio

Mas o retrato do momento, a eleição real, está aqui. Lavareda construiu o Índice Band fazendo uma média dos números dos principais institutos de pesquisa. É um índice válido, cada vez mais usado, por exemplo, em eleições norte-americanas. Tem um grau de confiança maior, mas não é infalível, evidentemente. Sua vantagem é que  ajuda a evitar que institutos que têm um viés – político, regional, ou qualquer outro – possam contaminar o resultado final.  A desvantagem é que, trabalhando com vários números, de datas diferentes, pode se mostrar mais lento para apontar tendências e mudanças de ultima hora.

O dado importante é que apesar de toda torcida Aécio Neves e Eduardo Campos tem caminhado bem devagar.

Compare com 2010. Em fevereiro daquele ano, quando já não podia ser chamada de poste,  Dilma  perdia de 28% a 35% para José Serra.

Mas em 23 de junho de 2010, a data em que o último Ibope foi fechado, Dilma já estava na dianteira, cravou 40% a 35% -- e não parou mais.

Em julho de 2014, com um mês a menos até a votação,  Dilma lidera as pesquisas e nenhum candidato representa como uma ameaça próxima. Aécio segue firme em segundo e Eduardo Campos ainda não chegou ao patamar que Marina Silva exibia em 2010, no mesmo período. Já em abril ela havia atingido 9 pontos.

Essa situação traduz um aspecto importante. A campanha de 2014 está longe de expressar um movimento irresistível contra o governo. Dilma entrou como favorita e segue nesta situação. Em 2010, mesmo em desvantagem numérica para Serra, nenhum observador atento deixaria de apontar a candidata do PT como provável vitoriosa.

Ainda assim, é razoável avaliar que o condomínio Lula-Dilma enfrenta, em 2014, a mais difícil disputa eleitoral em doze anos.

A eleição ocorre em ambiente político muito diferente.

Nem a primeira vitória de Lula, em 2002, quando o mercado financeiro ameaçou jogar o país no precipício como forma de terrorismo eleitoral, ocorreu num ambiente tão hostil e difícil.

Em 2002, um executivo do Goldman Sachs, um dos principais bancos de investimento do mundo, chegou a criar o Lulômetro, instrumento que servia para elevar o pânico junto aos eleitores de classe média. George Soros, um dos maiores  especuladores do planeta, chegou a dar declarações de espírito colonial intimando o eleitorado brasileiro a votar em José Serra.

Naquela eleição, no entanto, aceitava-se a vitória de Lula como simples evento democrático: é natural que, vez por outra, ocorra uma alternância no poder. Mas era uma visão formal. Não se imaginava que o governo vitorioso em 2002 fosse implementar um conjunto de mudanças em maior profundidade, que permitiram mais duas vitórias consecutivas e a possiblidade de entrar com uma candidatura favorita 12 anos depois.

Em 2014, o Lulômetro deixou de ser trabalho de uma instituição. A unidade entre a oposição e o grande poder econômico tornou-se explícita e abrangente, o que explica movimentos da Bolsa, que levantam e derrubam - artificialmente - os índices sempre que aparece uma novidade favorável a oposição. Se estivéssemos num ambiente político mais sério, plural, com debates consistentes, essas altas e baixas da Bolsa deveriam prejudicar a oposição. Pois seriam vistos como aquilo que são: prova de que ela faz a alegria dos especuladores, investidores que não geram um posto de trabalho, nem pavimentam o futuro do país, mas promovem um cassino onde a sociedade sempre perde e seus proprietários sempre ganham, como explicou o Premio Nobel Joseph Stiglitz ao falar do colapso de 2008.

São operações de valor 100% especulativo, já que não há a mais remota razão plausível para se imaginar que a vida dos brasileiros – nem das empresas com papéis na Bolsa, a começar pela Petrobrás, bussola dos investimentos no país  -- pode ficar melhor em caso de uma vitória dos adversários. Essa turma é contra a Petrobrás antes dela ter sido criada. Seus avôs e bisavôs políticos trabalharam pelo suicídio de Vargas, seu fundador, antes que ela começasse a explorar petróleo para valer no país.

O lugar de Dilma se explica por um motivo fácil de entender. No retrospecto, em doze anos a vida da maioria da população tornou-se reconhecidamente melhor. Na perspectiva dos próximos quatro anos, não se vê uma proposta dos adversários capaz de proteger as conquistas obtidas, muito menos ampliar o que já foi feito. Depois de fazer uma única afirmação consistente sobre o rumo de seu eventual governo – a aplicar “medidas impopulares” – Aécio Neves preferiu manter-se em conveniente silêncio a respeito de seus planos para o país.

Mas é este o ponto central da eleição, como explica o professor Fabiano Santos, em coluna recente no Valor Econômico:

“Há algo de novo no ar,” diz ele, comparando 2014 com os pleitos anteriores. “Não se percebia, no contexto do segundo mandato de Lula, o quanto havia de potencialmente conflitivo naquele modelo de crescimento, baseado em políticas de inclusão social. A economia crescia, todos ganhavam. O contexto mudou. Agora, perdas terão de ser impostas no curto prazo para que ganhos sejam retomados em bases mais seguras e promissoras no futuro. Quem pagará a conta?” pergunta Fabiano Santos.

Esta é a pergunta. Mesmo com a inflação em torno de 6%, e um crescimento fraco, ainda que real, o governo tem conseguido manter a opção que lhe permitiu chegar até aqui – e é isso que explica os números de Dilma.

Como explicou Ricardo Berzoini em entrevista para Carolina Oms, da revista Dinheiro:

“O governo busca o centro da meta, mas há duas maneiras de se tratar a meta da inflação. Uma é tratar como objetivo único da economia. Outra é tratar a meta combinada com outros objetivos como emprego, renda dos trabalhadores, crescimento econômico, investimento público e privado. Se o governo pudesse trazer a inflação para 4,5% ao ano, traria, mas temos uma série de pressões inflacionárias. Se você usar a política monetária de maneira demasiada, vai provocar uma recessão. É importante ter um olho na inflação e outro na geração de emprego e renda. A inflação incomoda os trabalhadores. Mas, para o trabalhador, pior do que inflação é desemprego alto e arrocho salarial.”

O debate é este.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247