A patifaria da financeirização contra o consumidor brasileiro
O Banco Central é inútil. Uma pequena agência, tipo a Sumoc do passado, poderia perfeitamente desempenhar seu papel. Com isso economizaríamos os maiores salários da República, com a provável exceção do Judiciário e outros privilegiados
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Um amigo comentou meu último artigo sobre o assalto dos bancos à própria clientela, com cumplicidade de lojas, mediante artifícios de financeirização. Acrescentou os seguintes argumentos aos meus, mostrando que a vigarice é infinita. Eis o passo a passo: negocia-se entre bancos e fabricantes um pacote de 100 aparelhos de alguma coisa. Em média, 20 são vendidos à vista e 80 a prazo, conforme esclarecimento de um vendedor.
As vendas à vista subsidiam o financiamento de todos os aparelhos. Os bancos sempre ganham pela venda das 100 unidades, pois o preço de venda tem obrigatoriamente que ser o mesmo, em qualquer loja, à vista ou a prazo. O comprador é “obrigado” (ou induzido) a comprar a prazo e, dessa forma, pagar os juros embutidos no preço. Se comprar à vista melhor ainda: o banco encaixa a grana de uma única vez, com os juros.
Que o fantástico capitalismo brasileiro, excepcionalmente criativo na extorsão dos consumidores, tenha estabelecido um mecanismo tão infame de ganhar dinheiro em cima de sua clientela não deve surpreender. O que surpreende é que essa patifaria tenha a cobertura do Banco Central, justamente o encarregado de supervisionar o sistema financeiro e estabelecer limites a sua atuação.
Contudo, se conversarem com algum dirigente do Banco Central ele dará de ombros e dirá que é o mercado o grande regulador financeiro. Isso me leva a concluir que o Banco Central é inútil. Uma pequena agência, tipo a Sumoc do passado, poderia perfeitamente desempenhar seu papel. Com isso economizaríamos os maiores salários da República, com a provável exceção do Judiciário e outros privilegiados.
Na realidade, os banqueiros centrais brasileiros gostam mesmo é de se sentar à mesa com os grandes bancos centrais e receber instruções diretamente deles em Washington, Londres, Paris ou Berna. Essa grande orquestra de patifaria contra os povos é orquestrada pelo Banco de Compensações Internacionais, que veio da impotência contra a grande crise financeira do início dos anos 30, sobreviveu a uma decisão de extinção nos anos 40 e reina soberano desde então.
Entre as regras do BIS está a de que os tesouros não podem emprestar a empresas estatais. Se, em 2009, nos tivéssemos submetido a essa restrição o Brasil não teria tido o espetacular crescimento de 7,5% em 2010, pois foi uma injeção de R$ 180 bilhões de recursos do Governo na economia, através do BNDES, que possibilitou esse desempenho. Na verdade, o que o BIS quer é filtrar através do sistema privado todos os recursos governamentais.
Fui um conselheiro econômico informal do saudoso vice-presidente José de Alencar, o mais inconformado dos brasileiros com as altas taxas de juros. Fiz para ele vários memorando reforçando essa convicção. Tendo percebido que estaríamos inapelavelmente derrotados, apelei para o humor. Quando ele assumiu o Ministério da Defesa, sugeri: “Presidente, aproveite essa posição. Mande uma divisão de tanques cercar o prédio do Banco Central, tirar os funcionários e abatê-lo com um bombardeio de saturação. Acho que assim eles baixam os juros.”
Infelizmente ele não me levou a sério!
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247