A nova Ágora
Há uma nova expressão da cidadania que se manifesta negando tanto o Mercado quanto o Estado. Há uma ansiedade por se fazer presente, por ocupar espaços sem ter que pagar, sem ter que consumir ou depender de permissão e controle de autoridades
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Até bem pouco tempo a cidadania dependia exclusivamente da mediação dos partidos, dos sindicatos, dos movimentos sociais, enfim precisava de entidades que as representassem para expressar o seu descontentamento ou para reivindicar. Hoje, em função das Tecnologias da Informação e da Comunicação nasceram as redes sociais e daí um poder de auto-organização e de rápida mobilização, sem par na História. Há uma nova Ágora, a nova praça pública é virtual. Há uma nova expressão da cidadania que se manifesta negando tanto o Mercado quanto o Estado. Há uma ansiedade por se fazer presente, por ocupar espaços sem ter que pagar, sem ter que consumir ou depender de permissão e controle de autoridades.
A coisa toda pode começar com motivação única - a redução ou eliminação de uma tarifa (como foi o movimento do passe livre em São Paulo, 2013) ou a defesa de direitos ou qualquer outro anseio do povo, mas isso representa apenas uma cunha encravada no contexto sócio-político e econômico com o propósito de alargar o questionamento à sociedade contemporânea.
Ampliando o foco percebe-se que os modelos institucionais estão sendo arrostados – a Família (ou os seus valores tradicionais), a Escola (ou seu método renitentemente mecanicista e cartesiano), as Religiões (ou o choque entre fé e ciência), o Mercado (ou sua lógica excludente) e o Estado (ou sua missão estruturante) em síntese, tudo é questionável ou está em cheque. A contestação é geral e generalizada, o establishment está na pauta.
Mas, por quê? Parece que ocorreu uma exaustão do sistema, um desgaste das abordagens vigentes em todas as dimensões da vida humana associada, mas em especial na Política e na Economia. Nesta porque a sua instituição central, o Mercado, logrou invadir todos os espaços com sua lógica obliterante e excludente e, por conseguinte, tudo e todos podem ser comprados ou vendidos e com isso restou espaço nenhum para o convívio humano genuíno e restaurador. Na política, o embate raramente praticado em torno de ideias ou de propostas, pretendendo somente desqualificar o adversário, acabou por desconstruir a própria Política.
Para finalizar, há uma constante na história da humanidade – a linguagem da tensão. Eric Voegelin a considerava como expressão da tensão existencial; Platão a entendia como uma "metaxi". Estamos permanentemente na condição de "estar - no - meio", de "estar - entre" dois polos, duas tendências. Entre a vida e a morte; perfeição e imperfeição; ordem e desordem; direita e esquerda enfim, entre ideias divergentes, porém complementares.
Se separarmos esses pares de símbolos, se desconsiderarmos os polos de tensão haverá o risco de séria deformação. Na política, se um dos polos for reificado (contextualizado como algo isolado, único) abre-se espaço para o totalitarismo, ou seja, que o Estado fique sob controle de uma única pessoa, facção ou classe social.
É o risco que corre o Brasil dos nossos dias. A tentativa de impedir a eleição direta para Presidente, afastando o povo do processo decisório com o flagrante propósito de obliterar a esquerda da arena política, fatalmente conduzirá o país para uma ditadura, ainda que legalmente amparada.
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