A ninguendade busca sua identidade

Nas reflexões darcynianas, o antropólogo pondera em sua obra que “...nós, brasileiros, somos um povo em ser impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado"



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Darcy Ribeiro – ao articular uma teoria que explicasse o Brasil e suas características repletas de singularidades – baseia e conceitua sua obra 'O povo brasileiro' por meio do que ele chama de ninguendade.

O bom alvitre analítico perceberá que Darcy Ribeiro mergulha nas entranhas de nossa formação e que se fecunda pela desconstrução étnica de nossas matrizes formadoras. 

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Esta desconstrução, juntamente com o processo de miscigenação entre índios, negros e europeus, se coloca como um grito abafado, de uma nova humanidade em busca de si e que sofre os efeitos perversos de sua perda étnica, de seu desmanchar e de sua mestiçagem; deste complexo e intrincado sentimento de sentir-se, mas não se ver, que está na essencialidade do povo brasileiro.

Nas reflexões darcynianas, o antropólogo pondera em sua obra que “...nós, brasileiros, somos um povo em ser impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na ninguendade”.

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Com isso, esta orfandade resultada da ninguendade é o cerne do desafio de construir a nossa identidade nacional.

Nascida da mais atroz violência lavada em sangue indígena, europeu e negro, Darcy Ribeiro enxerga e teoriza uma nova humanidade; lecionando assim, de forma inequívoca, afirma “... Somos povos novos ainda na luta para nos fazermos a nós mesmos como um gênero humano novo que nunca existiu antes. Tarefa muito mais difícil e penosa, mas também muito mais bela e desafiante. Na verdade, das coisas, o que somos é a nova Roma. Uma Roma tardia e tropical (...). Mais alegre porque mais sofrida. Melhor porque incorpora em si mais humanidades.”

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Essa nova humanidade, a chamada nova Roma, surge da exclusão de um povo mestiço, híbrido e miscigenado; fruto das fusões étnicas e culturais de distintos povos desconstruídos de suas raízes que originaram o mameluco: o primeiro brasileiro. 

Nossa identidade surge da rejeição ao outro: em não ser português, nem índio e nem negro. 

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O que realmente somos é a síntese do mestiço que teve de criar critérios de pertencimento, muitas das vezes, de forma violenta para nos firmarmos enquanto povo de uma nova etnia-nacional.

Todo este processo de desfazimento e fazimento deixou grandes cicatrizes e feridas até hoje não curadas. Este povo  – que constitui a ninguendade – sofre as agruras da emersão de uma classe dominante, que também é despossuída de uma identidade nacional e colonizada na alma e na mente que serve, exclusivamente, aos interesses não pátrios, e que perpetua a visão desta ninguendade como semoventes.

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Continuamos, até hoje, a busca pela nossa identidade e por este pertencimento que nos é subtraído secularmente. Procuramos e lutamos por nossa soberania como povo, como Nação e dona de seu destino.

Afinal somos a nova Roma. Uma nova humanidade. 

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