A nau carcomida e sem rumo
A questão dos diamantes que seriam destinados a Michelle Bolsonaro são apenas a joia da coroa de escândalos que encobrem a quadrilha familiar desde sempre
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Lula continua fazendo de tudo para conseguir assegurar uma base parlamentar para o governo.
E por esse “de tudo” devemos entender negociar com a pior ralé que foi eleita para o Senado e para a Câmara, literalmente alugando parlamentares picaretas ou simplesmente ávidos de poder e, claro, de recursos públicos.
Sabe que tem pela frente um sacripanta tão hábil como asqueroso, que atende pelo nome de Arthur Lira e preside a Câmara de Deputados.
Tampouco se deve esquecer que o atual Congresso, eleito no ano passado, está coberto de aberrações tipo Nikolas Ferreira, Eduardo Pazzuelo, Damares Alves e por aí vai, além de indecências ambulantes tipo Sergio Moro e Ricardo Salles, para ficarmos em apenas uns poucos e contundentes exemplos. É gente dessa laia, que não tem outro objetivo que embarreirar Lula e seu governo, que deve ser enfrentada.
Sabe ele, e sabemos todos (ou deveríamos saber), que graças ao absurdo cenário brasileiro, único no mundo – nunca será demais recordar que temos parlamentares que representam 21 partidos na Câmara e 12 no Senado –, o atual governo foi forçado a convocar gente que oscila entre patética e bizarra, mas sempre perigosa.
Basta recordar a ministra que é íntima de milicianos, ou o que navegou águas bolsonaristas, ou ainda o que só cuida dos seus, os equestres.
Nesses mares procelosos navegam Lula, seu governo e as expectativas dos brasileiros que confiam na sua capacidade de recuperar o país das ruínas deixadas por Jair Messias e seu bando.
Enquanto isso, do lado de lá explode um escândalo atrás do outro, deixando mais que claro que tanto sua avidez como seu talento para negociatas não conhecem sequer vestígio de limite.
Cada vez soa mais alto a pergunta óbvia: como é que ninguém fez nada para conter sua roubalheira e deixar que ele chegasse onde chegou? Das rachadinhas que encheram pai e filhos de dinheiro até chegarmos às tais joias supostamente dadas para sua senhora esposa e que Jair Messias quis enfiar noi bolso, ficou mais que claro que para essa trupe não há limites. Como foi possível chegar a esse ponto tão absurdo?
Chama a atenção, enquanto isso, que nunca antes um expresidente se viu tão jogado ao léu.
Com exceção da Justiça de um lado, e de um bando de desmiolados do outro, quem mais se interessa pelo seu destino?
É verdade que o grosso do Congresso foi eleito com seu apoio ou usando seu nome e sua imagen.
Mas daí a que essa trupe mantenha lealdade a Jair Messias há um longo, nebuloso e tortuoso caminho, que ninguém parece disposto a trilhar.
Há quem ainda perca tempo tentando adivinhar quando ele sairá de seus refúgios na Flórida para voltar ao Brasil.
Pois ele continua por lá, firme, forte e bizarro.
Já se escondeu na casa de um lutador aposentado, depois foi para a de um latifundiário. Qual a próxima parada? A casa de um desses exploradores da fé e da miséria humana que se autointitulam de “pastor” ou “bispo”?
Nunca será demasiado realçar que essa grotesca figura conta, e de maneira firme, com uma base de radicais desmiolados que vão atrás de tudo que ele diz. Só que essa base dá mostras de que, ao menos por agora, não tem para onde crescer. Vai continuar fazendo barulho, e só.
A questão dos diamantes que seriam destinados a Michelle Bolsonaro são apenas a joia da coroa de escândalos que encobrem a quadrilha familiar desde sempre.
Ela diz que não sabia de nada. Pode até ser verdade. Mas com certeza sabia e sabe de muitíssimas outras, que fazem dela uma cúmplice exemplar.
Se Lula e seu governo são um navio valente e ousado, que trata de buscar a saída do breu e navegar rumo a um bom porto, a cada dia que passa fica mais e mais claro que Jair Messias é uma nau carcomida e sem rumo.
Calculista experiente, já deixou claro que se sua inteligência é raquítica, sua esperteza é robusta.
Ele sabe que na sua volta podem até acontecer atos de apoio da parte dos fanáticos mais fanatizados.
Mas sabe também que seu primeiro pouso será nos tribunais. De saída, se torna inelegível. E depois, sabe-se lá o que ainda terá pela frente.
Nesse amontoado de dúvidas, o mais provável é que ele continue como está: ainda que não saiba, certamente pressentirá que não passa de uma nau carcomida e sem rumo, prestes a enfrentar temporais fatais.
E que é melhor continuar singrando as águas serenas da Flórida que se arriscar nos temporais da Justiça brasileira.
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