A narrativa do governo Dilma

Muita coisa já mudou, mas a defesa do modelo de partilha no pré-sal e da política de conteúdo nacional na Petrobras permanecerá intocável porque será a essência do discurso de Dilma ao fim do mandato



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Na última quinta-feira, ao participar da inauguração de novos navios, fabricados por estaleiros nacionais, que serão usados pela Petrobras, o governo Dilma demarcou uma área essencial – e que permanecerá intocável – neste seu segundo mandato: a defesa irredutível do modelo de partilha no pré-sal e na política de conteúdo nacional, nas compras da estatal. "Conteúdo local e política de partilha, no meu governo, estão mantidos", disse ela, colocando um ponto final num debate aberto por importantes senadores da oposição, como José Serra (PSDB-SP), Aécio Neves (PSDB-MG) e Aloysio Nunes (PSDB-SP), mas também alimentado pelo próprio ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, que é do aliado PMDB.

Os que defendem a volta ao regime de concessões alegam que, por estar endividada, a Petrobras deveria ser liberada da obrigatoriedade de atuar em todos os campos do pré-sal, com participação mínima de 30%. Argumentam que, se for mantido o modelo de partilha, o petróleo do pré-sal permanecerá nas profundezas do mar. Uma tese que vem sendo rebatida com recordes sucessivos da empresa. Na semana passada, a Petrobras anunciou a marca de 800 mil barris/dia no pré-sal. Além disso, projeções da Agência Nacional de Petróleo apontam que a produção brasileira dobrará até 2025.

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Esse debate, no entanto, vai além da questão puramente econômica, sobre os prós e contras e de um modelo ou de outro. Entre o primeiro e o segundo mandato, Dilma já deu praticamente um cavalo de pau na política econômica. Nada mais distante dos estímulos anticíclicos do ex-ministro Guido Mantega do que o ajuste fiscal promovido pelo sucessor Joaquim Levy. Um garrote tão duro que gerou frustrações no eleitorado de Dilma e acusações de estelionato eleitoral na oposição. E também situações extravagantes, como a derrubada do fator previdenciário, implantado no governo FHC, com o voto de 45 deputados do PSDB. Ou seja: Dilma faz um ajuste com DNA "tucano", combatido por parlamentares do PSDB.

Dito isso, o fato é que o governo pode mudar em quase tudo, menos no que lhe parece essencial. Sem a defesa explícita do modelo de partilha e da política de conteúdo nacional, que mantém viva a esperança de desenvolvimento de uma importante cadeia de produção nos setores naval e de óleo e gás, Dilma perderia qualquer possibilidade de construir uma narrativa positiva no seu segundo mandato. O que poderá ser contado por ela, depois desse começo extremamente turbulento, é uma única narrativa: a de que resistiu ao mais duro ataque já sofrido por um governo, que tinha, como agenda oculta, a entrega das riquezas nacionais, do pré-sal, a grupos internacionais. Por isso mesmo, a partilha e o conteúdo nacional, como diria o ex-ministro Antônio Rogério Magri, são "imexíveis".

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