À morte de um canalha
"Não há porque gastar palavras com o monstro", escreve Tereza Cruvinel sobre a morte de Cabo Anselmo
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Por Tereza Cruvinel
Cabo Anselmo, que se vendeu à ditadura e empurrou companheiros para a tortura e a morte, foi falso até ao deixar a vida. Foi enterrado nessa quarta-feira, 16, com o nome de Alexandre da Silva Montenegro. Morreu aos 81 anos, impune como todos os canalhas da ditadura. Não há porque gastar palavras com o monstro. Como epitáfio, merece o poema que se segue, de Mario Benedetti.
À morte de um canalha
Vamos festejá-lo
venham todos
os inocentes
os lesados
os que gritam à noite
os que sonham de dia
os que sofrem no corpo
os que alojam fantasmas
os que pisam descalços
os que blasfemam e ardem
os pobres congelados
os que amam alguém
os que nunca se esquecem
vamos festejá-lo
venham todos
o crápula morreu
acabou-se a alma negra
o ladrão
o suíno
acabou-se para sempre
hip-hurra´
que venham todos
vamos festejá-lo
e não-dizer
a morte
sempre apaga tudo
a tudo purifica
qualquer dia
a morte
não apaga nada
ficam
sempre as cicatrizes
hip-hurra´
morreu o cretino
vamos festejá-lo
e não-chorar por vício
que chorem seus iguais
e que engulam suas lágrimas
acabou-se o monstro prócer
acabou-se para sempre
vamos festejá-lo
a não-ficarmos tíbios
a não-acreditar que este
é um morto qualquer
vamos festejá-lo
e não-ficarmos frouxos
e não-esquecer que este
é um morto de merda
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