A minha primeira vez

"É uma escolha entre terminar de destroçar o país inteiro ou tentar recomeçar da poeira dessa destruição", escreve Eric Nepomuceno

Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo e Jair Bolsonaro
Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução | Reuters)


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Por Eric Nepomuceno, para o 247 

 A exemplo de milhões de brasileiros da minha geração e das que vieram imediatamente antes e depois, foi em 1989, aos meus 41 anos, que votei para presidente pela primeira vez na vida.

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 Lembro perfeitamente que quando Leonel Brizola, por uma estreitíssima diferença de votos, não foi para o segundo turno, que seria disputado por Fernando Collor de Mello e Luis Inácio Lula da Silva, senti um rombo na alma: tive a certeza de que ali terminava um projeto de país.

 Lembro que bateu forte na alma a convicção de que Collor iria superar Lula nos debates, como de fato aconteceu. E isso que eu não podia prever que a Globo, através de um dos chefões do jornalismo, Alberico Souza Cruz, iria editar o debate favorecendo escandalosamente seu candidato contra Lula.

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 Perdi dois votos, em Brizola no primeiro turno e em Lula no segundo.  

 Na verdade, até as eleições de 2002 perdi meus votos, sempre de olho em Brizola, de quem tive a alegria de ser amigo.

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 Pois em 2002 votei em Lula, e pela primeira vez não perdi meu voto. Nem em 2006. Aliás, não tornei a perder, e tenho a plena convicção de que não vou perder o voto do dia 30.

 Neste 2022, porém, o Brasil vive um fenômeno absolutamente novo e especialmente preocupante.

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 Todos os que se elegeram depois do fim da ditadura herdaram, sem exceção alguma, um país dividido.  

 Porém nenhum deles, nem mesmo o sacripanta Collor de Mello, herdou um país tão radicalmente partido ao meio.  

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 Até agora, as divisões eram de três ou quatro grupos, uns maiores, outros menores. Havia o PSDB, havia o PMDB (agora MDB), e o PDT, e o PT, e os partidos de centro-direita e de direita.  

 Havia os progressistas, os liberais, os conservadores moderados, havia os reacionários, mas a extrema-direita e os decididamente radicais ainda estavam escondidos no armário.

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 Começaram a sair desse armário lá por 2013, com manifestações de rua impregnadas de jovens e incendiadas pelos grandes meios oligopólicos de comunicação, com a TV Globo na vanguarda. Mas ainda eram uma clara e palpável minoria.

 Pois vale a pena ser repetitivo: quem assumiu a presidência, e isso vale para todos a partir de Fernando Henrique Cardoso, encontrou um país dividido em vários blocos, e era a partir desse panorama que governou.

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 Contrariando as expectativas (exceto, claro, a dos radicais mais radicais), Jair Messias chegou ao segundo turno a poucos pontos da metade do eleitorado. E as pesquisas nesta nova etapa indicam que ele continua com mais de 40% de intenções de voto.

 Há quem descreva, e com razão, o cenário como polarizado.

 Para mim, a questão é outra: não se trata de uma polarização entre esquerda, centro-esquerda, centro e, do outro lado, centro-direita, direita e os reacionários.  

 Não, não: é uma escolha entre terminar de destroçar o país inteiro ou tentar recomeçar da poeira dessa destruição.

 E isso acontecerá diante da maior divisão jamais registrada na história das eleições desde a redemocratização. Não há grupos divididos, o que há é um país que se deixou dividir em dois.

 Resta saber qual dos dois cenários que se construíram no Brasil vai prevalecer a partir do ano que vem. Porque, se eleito, Lula vai enfrentar uma realidade que nenhum presidente enfrentou até hoje.  

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