A mídia incensou Bolsonaro e quer esconder o seu exército de violentos. Perderam. As redes mostram

'A mídia tradicional não avaliou que atrás dele viria a horda que pulou da panela dos horrores, com tiro, porrada e bomba', analisa a colunista Denise Assis

Jair Bolsonaro e o massacre que terminou com a morte de quatro crianças em Blumenau (SC)
Jair Bolsonaro e o massacre que terminou com a morte de quatro crianças em Blumenau (SC) (Foto: Reuters | Divulgação/CBMSC)


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Quatro crianças mortas a golpes de machadinha. Não me apontem o dedo dizendo que estou sendo rude. Rude é o fato em si. Rude é a situação em que nos metemos. Desta vez, com arma branca. Não importa. A arma mais letal é o ódio. “Um fato isolado”, como se apressou em concluir, imediatamente após o crime horrendo, o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, responsável pelo crime, acontecido em Blumenau.

Às vésperas da Páscoa, quando esperavam ansiosas a visita do coelhinho, as crianças: Bernardo Cunha Machado (de 5 anos); Bernardo Pabst da Cunha (4 anos); Larissa Maia Toldo (7 anos) e Enzo Marchesin (4 anos), não mais estarão aqui, para receber os tradicionais ovos de chocolate. Alguém pulou o muro da creche onde elas estavam, - pensavam os pais, em segurança -, e com golpes violentos interrompeu as suas vidas.

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Quando disse acima, “alguém”, estou falando de Luiz Lima, 25 anos, sim, um bolsonarista, que coincidentemente escolheu o dia do depoimento de Bolsonaro, seu “mito”, à Polícia Federal, sobre as joias de 16,5 milhões, das quais tentou se apossar. Tal como naquele 6 de setembro de 2018, quando a pauta da eleição no noticiário foi substituída pelo “atentado” em Juiz de Fora (MG), nessa quarta-feira passou a ser a tragédia de Blumenau.

Nos últimos quatro anos, o que se observou foi o destampar da panela do ódio e da violência, onde fervilhavam todos os sentimentos reprimidos, os egos doloridos, os recalques e preconceitos. Esses demônios, libertos pelas mãos e o discurso do ex-presidente, levaram a que praticamente todos os episódios de violência tivessem como responsáveis os seus seguidores. Era noticiar um crime, e lá estava o autor, de camisa amarela, fazendo arminha com as mãos, nas redes sociais.

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Nesta semana, quando tivemos ações coordenadas na mídia, com o jornal Folha de São Paulo declarando em editorial que com menos fel no coração, até que Bolsonaro poderia ser reciclado, e outros veículos dando destaque à pesquisa que o colocam ainda “bem na fita”, apesar de todas as notícias ruins em torno dele, essa “coincidência” não foi bem digerida. Mais um assassino confesso, seguidor de Bolsonaro.

Diante do aumento dos ataques a escolas (o último foi há menos de um mês depois que um adolescente de 13 anos matou uma professora a facadas em uma escola estadual em São Paulo, no dia 27 de março), a professora Luciene Tognetta, do Departamento de Psicologia da Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), líder de um grupo de estudos de convivência nas escolas, disse ao Globo:

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“Quando acontece algo assim, chama a atenção. Isso também explica, em parte, porque os ataques têm aumentado em intensidade e frequência”. O que a professora apontou ecoa a teoria do pensador francês, Guy Debord, que nos falou do fenômeno em “A Sociedade do Espetáculo”, em 1967.  “O espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, a própria sociedade e seu instrumento de unificação. Enquanto parte da sociedade, o espetáculo concentra todo o olhar e toda a consciência”, escreveu.

De posse da convicção e do conceito emitido pela professora Tognetta, O Globo e a grande mídia de modo geral decidiu que não vai mais mostrar fotos ou tampouco maiores informações em torno dos assassinos desse tipo de ataques. Não vai permitir, como definiu Debord, que o espetáculo concentre todo o olhar e toda a consciência. Uma atitude com alguns anos de atraso e um quê de ingenuidade.

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Esses monstros, que até então habitavam a deep web e eram alimentados apenas por seus pares, na ânsia de projeção, agora afloraram nas redes, que se incumbem de difundir vídeos, imagens e os recados dessa gente. Não há como impedi-los de ganhar espaço. Tivessem pensado antes de incensar uma candidatura fascista, como foi a de Bolsonaro e não teríamos hoje o discurso de ódio escancarado.

Dados da ONG Anti-Defamation League (ADL) exibidos pela pesquisadora Adriana Dias, Doutora em Antropologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) – falecida recentemente -, em entrevista à jornalista Janaína Figueiredo, em 27 de fevereiro de 2022, mostram que hoje o Brasil é o país no mundo onde mais cresce o número de grupos de extrema direita. O estudo mostrava que eles estão concentrados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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A pesquisadora dava conta de que havia em todo o país, naquele ano, mais de 530 células extremistas, que Adriana dividiu em categorias, de acordo com as ideologias do grupo, como Hitlerista/Nazista, Negação do Holocausto, Ultranacionalista Branco, Radical Catolicismo, Fascismo, Supremacista, Criatividade Brasil, Masculinismo Supremacia Misógina e Neo-Paganismo racista. Em 2019, a especialista detectou 334 células. A mesma conclusão a que está chegando o ministro Flávio Dino, que mandou mapear com urgência os núcleos nazistas existentes no Brasil.

Quanto ao procedimento da mídia em tentar agora não dar palco para os seguidores do “mito” que perpetram crimes monstruosos País afora, melhor repensar a inutilidade da iniciativa, ante a sociedade do espetáculo das redes. Ao empurrar Bolsonaro rumo à ribalta, em 2019, ela não avaliou que atrás dele viria essa horda que pulou da panela dos horrores, disposta a ganhar espaço à base do tiro, porrada e bomba. Agora, eles são notícia em suas páginas, telas, ou na web. Inevitavelmente.

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