A mídia corporativa, o caos bolsonarista e a terceira via

"O 7 de setembro bolsonarista é o latido do cão acuado que mostra os dentes, mas não tem capacidade de morder e avançar para um golpe", escreve a doutoranda em História Carla Teixeira

(Foto: Reprodução | ABr)


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O fascismo é um vetor de subjetivação que trabalha a partir do medo. Ao insuflar a ideia de um golpe que não pode dar, Bolsonaro cria uma sensação de terror para paralisar qualquer tentativa de resistência. Esse entorpecimento é aditivado por lideranças de centro, como Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (REDE) e Marcelo Freixo (PSB), que deram recomendações aos seus seguidores para não comparecerem às manifestações populares que marcaram o “Grito dos Excluídos”, uma tradição há 27 anos. Os ataques de Bolsonaro ao STF se centram na figura do ministro Alexandre de Moraes (ligado ao PSDB), aquele que pode, a qualquer momento, prender alguém do clã devido às vastas provas de ilicitudes. O 7 de setembro bolsonarista é o latido do cão acuado que mostra os dentes, mas não tem capacidade de morder e avançar para um golpe.

A situação política segue polarizada entre Bolsonaro e Lula. A direita liberal-conservadora (isso só existe aqui no Brasil!), não dispõe de base social. Então, está em curso a missão de defenestrar Bolsonaro para se apropriar de seus adeptos – cães raivosos contra um comunismo imaginário – a fim de acossar o campo popular e garantir presença no segundo turno. Todas as pesquisas de opinião mostram que, em 2022, a “terceira via” só terá chances se Bolsonaro estiver fora da disputa. Esta é a única condição eleitoral para o desidratado PSDB despertar, tal qual Lázaro, e vislumbrar uma vitória eleitoral no ano que vem.

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Para tanto, os porta-vozes da candidatura natimorta do governador paulista (herdeiro direto dos engenhos de açúcar da colônia), João BolsoDória, precisam a qualquer custo inviabilizar Bolsonaro. A mídia corporativa se dispõe ao papel de destacar o terror e apresentar a terceira via como solução. A cobertura dos atos de sete de setembro procura oferecer ao leitor uma ideia de que o bolsonarismo possui uma capacidade de mobilização muito superior ao que realmente dispõe, suscitando uma ideia de aproximação do caos e da necessidade iminente de resposta à altura. Naturalmente, seria o impedimento da candidatura de Bolsonaro à reeleição.

A Folha de S. Paulo falha mais uma vez no equilíbrio e na isenção das reportagens, oferecendo um espaço muito maior às manifestações bolsonaristas. As imagens de hoje, obtidas com drones, mostram a amplitude das aglomerações. Chama a atenção a contraposição dada aos atos do “Grito dos Excluídos”. Com raras imagens, as poucas fotografias expõem os manifestantes de perto, oferecendo ao leitor a ideia de que a força de mobilização bolsonarista é maior do que a do campo popular. Apesar da esquerda contar com manifestações em mais de 200 cidades do Brasil e do mundo, nenhuma notícia foi dada nesse sentido. Até às 16H, a cobertura “ao vivo” mostrava dez menções aos bolsonaristas em Brasília e apenas duas do “Grito dos Excluídos”. Em São Paulo, foram nove citações aos golpistas e duas aos democratas; no Rio de Janeiro, sete registros de Copacabana e duas do campo popular.

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O Estado de S. Paulo repercutiu a fala do presidente, com destaque à foto dos seus seguidores, na avenida paulista. A legenda “milhares de manifestantes fazem ato em defesa de Bolsonaro” poderia honestamente ser “milhares fazem ato contra a democracia e as instituições, em defesa do golpe”. Mas isso seria pedir demais ao folhetim da “escolha muito difícil”. Destaca, também, a possibilidade do PSDB - que apoiou o golpe e chafurdou na lama bolsonaristas, em 2018 - aderir ao impeachment do rebento que tirou do esgoto para a cena pública. Uma notinha, abaixo das manchetes, aponta que manifestantes contra Bolsonaro pedem impeachment e mais vacinas, assim como as presenças de Boulos e Haddad em defesa da democracia.

O jornal O Globo destaca os atos em Brasília e no Rio de Janeiro, com especial cobertura à postagem de Fabrício Queiroz, operador do esquema de corrupção da família Bolsonaro que sorri para foto, livre, ao se juntar aos golpistas para atacar a democracia. Ao tratar da paulista, enfatiza que os apoiadores defendem intervenção no STF. As menções às manifestações da oposição são resumidas em matéria que destaca, com poucas fotografias, os atos no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Recife, Vitória e Macapá.

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Se considerarmos a cobertura dos três principais jornais do país, a impressão é que a hegemonia das ruas ficou com os fascistas neste sete de setembro. Em contrapartida ao avanço autoritário – e excluindo a dimensão do “Grito dos Excluídos” -, apenas a Grande Imprensa se apresenta, em posição olímpica, na defesa da democracia. Tudo isso depois de apoiar a Lava Jato, o impeachment de Dilma, a prisão ilegal de Lula e a ilegítima vitória eleitoral de Bolsonaro. O chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista – como diria o insubstituível Paulo Henrique Amorim), sem qualquer autocrítica, coloca-se como portador da solução para o problema que ajudou a criar. Fica claro que os grupos de mídia e a burguesia querem tirar Bolsonaro para abrir espaço para a terceira via. Dormindo (e provavelmente sonhando), a esquerda institucionalizada espera que as instituições (aquelas mesmas que deram o golpe em 2016 e 2018) assumam o protagonismo para dar um basta à sanha neofascista. Tal saída é um erro tático e estratégico.

Tático, porque impede a mobilização e a formação de uma consciência popular voltada para a defesa da democracia e das conquistas sociais alcançadas nos últimos trintas anos; estratégico, porque oferece o protagonismo aos agentes que foram ativos para que Bolsonaro chegasse ao poder, resultando no caos sanitário, político, econômico e social que agora vivemos. Está em curso o projeto para viabilizar a terceira via. Ao exaltar figuras como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, a esquerda cultiva seus próprios algozes. Precisamos aprender algo com o que houve em 2016 e 2018. Um eventual terceiro mandato de Lula apenas se sustentará com uma intensa e permanente mobilização popular. Não vale a pena esperar das instituições uma solução que só poderá vir das ruas. Lula precisa liderar, com o povo, a vitória da democracia no Brasil.

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