A metástase da desigualdade

Imagine-se vivendo em um mundo em que padarias, bares, botecos, bancas de jornal, lanchonetes e restaurantes, todos os negócios, pequenos e grandes, estejam nas mãos de meia dúzia de empresários

Imagine-se vivendo em um mundo em que padarias, bares, botecos, bancas de jornal, lanchonetes e restaurantes, todos os negócios, pequenos e grandes, estejam nas mãos de meia dúzia de empresários
Imagine-se vivendo em um mundo em que padarias, bares, botecos, bancas de jornal, lanchonetes e restaurantes, todos os negócios, pequenos e grandes, estejam nas mãos de meia dúzia de empresários (Foto: Lula Miranda)


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Uma notícia chamou a minha atenção pelo seu caráter extraordinário, mas passou despercebida pela maioria dos leitores de jornais e sites: dois grandes empresários brasileiros uniram-se para investir em uma padaria.

Mas o que é que essa notícia tem de extraordinário? – você deve estar se indagando.

O detalhe – sim, o diabo mora nos detalhes – é que esses tais empresários atendem pelo nome de Abilio Diniz (ex-CEO do Grupo Pão de Açúcar), patrimônio líquido estimado de US$ 3,8 bilhões, e Jorge Paulo Lemann, dono da AB InBev, e uma das maiores fortunas do Brasil,  estimada em US$ 25 bilhões – estava em 26º no ranking dos mais ricos do mundo.

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O que esse dois grandes capitalistas estariam pretendendo ao adquirir esse singelo negócio? – você também deve estar questionando. E onde estaria a tal “metástase da desigualdade” nisso?

Então, sejamos honestos e mais “transparentes”: esses dois empresários pretendem, em verdade, transformar essa singela padaria de São Paulo, a Abraão – da qual fui cliente, inclusive – em uma rede de padarias espalhadas por todo o Brasil, quiçá pelo mundo.

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Você pode não acompanhar o mundo dos negócios, mas esse mesmo empresário, Paulo Lemann, já comprou, nos últimos anos, diversas grandes marcas ou empresas, agregando, cada vez mais, riqueza e renda ao seu já gigantesco patrimônio e fortuna.

E aí está o problema, que já venho acompanhando desde a adolescência, portanto desde o começo da década de 1980, por uma questão, digamos, doméstica, quando grandes empresários passaram a comprar as pequenas e médias empresas dos pais dos meus amigos (e do meu próprio pai), deixando-nos, a todos, mais pobres.

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Desde essa época, esse fenômeno não para de crescer na economia: a concentração da renda e da riqueza.

Ou seja: os pequenos e médios empresários são devorados pelos grandes; estes, por sua vez, nos dias atuais, são engolidos pelos megaempresários – como Abilio e Lemann – ou pelos vorazes fundos de investimento do capitalismo “globalitário”.

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Essa concentração da riqueza gera, por óbvio, como consequência imediata, como se sabe, e cada vez mais, a concentração da renda e dos investimentos nas mãos de poucas famílias – ou, no caso, de poucos indivíduos, poucos empresários.

Imagine-se vivendo em um mundo em que padarias, bares, botecos, bancas de jornal, lanchonetes e restaurantes, todos os negócios, pequenos e grandes, estejam nas mãos de meia dúzia de empresários.

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Essa concentração desmesurada, e não controlada (ou coibida) da riqueza e da renda gera desigualdade social, uma vez que, como dito anteriormente, a renda fica concentrada nas mãos de poucas famílias. Portanto, de poucos fornecedores.

E o consumo, também ele, fica concentrado em poucas famílias – uma vez que a maior parte da população é, progressivamente, alijada do sistema.

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Ou seja, um mundo para poucos privilegiados.

Tal fenômeno já se dissemina, há muito, pela economia local e mundial, tal qual num processo de metástase.

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As seguidas crises do capitalismo que temos vivido nas últimas décadas – agora essa última, mas recente, que se manifesta na crise na Bolsa da China – são os estertores de uma falência sistêmica e estrutural, sem solução aparente, uma vez que a solução “para valer” passa, necessariamente, pelo combate à concentração da renda (e da riqueza) e a essa (in)consequente e iníqua desigualdade social.

Terminamos – veja bem, quem diria? – encalacrados pela velha máxima de um velho pensador: o capitalismo traz dentro de si o germe de sua própria destruição.

Desgraçadamente.

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