A menina que disse não
"Veio mais uma vez de uma menina, o gesto que todos nós queríamos fazer", afirma Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia; "Negar a mão estendida ao presidente que não nos representa. Não sabemos o seu nome, mas somos gratas por nos representar a todas que abominamos 'tudo isso que está aí', com a sua recusa e a simbologia da sua atitude", afirma; "O 'mais uma vez' escrito acima, vem relembrar a mineira Rachel Coelho Menezes de Souza, que aos cinco anos se negou a cumprimentar o ditador João Batista Figueiredo"

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Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia
Veio mais uma vez de uma menina, o gesto que todos nós queríamos fazer. Negar a mão estendida ao presidente que não nos representa. Não sabemos o seu nome, mas somos gratas por nos representar a todas que abominamos "tudo isso que está aí", com a sua recusa e a simbologia da sua atitude.
O "mais uma vez" escrito acima, vem relembrar a mineira Rachel Coelho Menezes de Souza, que aos cinco anos se negou a cumprimentar o ditador João Batista Figueiredo. A foto correu mundo e Rachel, localizada em 2011 pelo jornal O Globo, pode contar a sua história. Em tempos tecnológicos, talvez não tenhamos que esperar tanto para conhecer a nova protagonista, quanto esperamos para tomar conhecimento do que foi pela cabeça de Rachel naquele momento tão crucial, em que a ditadura agonizava.
Era setembro de 1979, quando o encontro aconteceu, em Belo Horizonte. Rachel tinha apenas 5 anos. Na entrevista concedida ao Globo ela relembrou que, no dia anterior ao registro da fotografia, o pai dela havia comentado que iria almoçar com o presidente, o que a fez querer muito que a mãe a levasse para ver Figueiredo no Palácio da Liberdade.
Ao chegar, ela realmente conseguiu chegar perto do general. "Virei pra ele: 'você sabia que você vai almoçar com meu pai hoje'? Aí todo mundo ficava assim: 'dá a mão pra ele, dá a mão pra ele'. Eu detestei. Detesto que me mandem fazer as coisas. Não dei a mão porque eu não queria dar a mão pra ele, eu queria dar um recado pra ele".
O recado foi dado. Em nome de um país inteiro. A fotografia em que a Rachel aparece é de Guinaldo Nicolaevsky. Embora tenha feito várias incursões para saber o paradeiro da menina que tornou famosa a sua foto, ele morreu em 2008 sem conhecê-la. Publicada em diversos jornais e revistas, no Brasil e no exterior, a imagem se tornou símbolo da luta contra a ditadura.
Sim. Não gostamos de mandos, de salamaleques, de obrigações e de homens nos dizendo faça isto ou faça aquilo. Embora sem consciência política, devido à pouca idade, Rachel já sabia do seu querer, das suas vontades. Empoderou-se das suas convicções aos 5 anos e fez história. Breve saberemos quem foi a menina que, em cerimônia no Planalto, também assegurou o seu direito de dizer não. Justo para um machista confesso, homofóbico e racista.
Raquel morreu de parada cardiorrespiratória, em 11 de março de 2011, no hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte. Tinha então 40 anos. Segundo a assessoria da unidade de saúde, foram realizados procedimentos de ressuscitação, mas ela não resistiu. Sua história ficou.
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