A médica cubana dissidente que saiu pela porta errada

E o hospital de Roraima, onde só havia índios e médicos cubanos. Eles me explicaram onde estavam os colegas brasileiros



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A doutora (será mesmo?) Ramona Matos, a tal médica cubana que pediu asilo diplomático na bancada do DEM na Câmara dos Deputados, parece meio confusa.

Se era para fazer de seu gesto uma "ação política" planejada, não deveria ter abandonado o programa "Mais Médicos" via deputado Ronaldo Caiado, uma espécie de ícone da bancada ruralista, personagem escancaradamente de direita, e alvo fácil de qualquer contra-ataque por parte dos defensores do programa, como, aliás, o 247 documentou.

Deveria, em resumo, ter saído por uma porta menos vulnerável. E havia dezenas de possibilidades, na própria Câmara, onde, dizem, trabalham 513 parlamentares.

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Não coloco em questão os argumentos da doutora (sic) Ramona, referentes à remuneração. Mesmo porque ela põe no mesmo saco reais e dólares, faz uma confusão monetária.

O que eu gostaria de contar aqui - e lá vem ele com as suas lorotas habituais, devem estar dizendo, esfregando as mãos, os chamados "comentaristas" - eu dizia que gostaria de contar aqui uma experiência vivida em Boa Vista, capital de Roraima, quando estive lá por vários meses, fazendo parte de um grupo de profissionais numa campanha eleitoral.

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Em primeiro lugar, Roraima, que hoje, dizem, progrediu muito, ficava literalmente - perdão mais uma vez pela linguagem um tanto chula - no "cu do mundo".

Sua ligação com o país Brasil dependia de um único voo da Varig por dia.

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Saía de São Paulo no fim de tarde, em Brasília recolhia o grosso de passageiros, fazia escala em Manaus e, se tudo funcionasse como um reloginho, por volta das 2 da madrugada sobrevoava Boa Vista.

Nunca funcionava como um reloginho...

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Nas quintas-feiras, era um voo especial. Em Brasília subiam à bordo todos os políticos roraimenses, governistas e oposicionistas, de volta para as suas "bases". Muitas vezes, também, o governador em exercício.

De modo que, se aquele avião caísse em algum ponto da floresta amazônica, Roraima ficaria literalmente acéfala.

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O que não seria de todo um mal, diga-se de passagem. O hoje progressista estado de Roraima poderia ter antecipado em vários anos o fim da "velha política" que tanto incomoda a candidata a vice Marina Silva.

A verdade é que fazer política naquelas longínquas paragens era um sacrifício muito grande. Pior ainda era fazer campanha para eleger político.

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Você, numa campanha, muda de hábitos, altera o seu comportamento. Eu, por exemplo, aprendi a comer cuscús no café da manhã.

A mudança de hábitos alimentares acabaria me levando, numa noite tórrida, ao Hospital Central, o único na cidade.

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Fui preparado para o pior, e ainda assim me surpreendi. No saguão do hospital, pelo menos uma dúzia de índios, dormiam enrolados em trapos. Na sala da enfermagem, sangue pelas paredes.

E surpresa maior: o médico que me atendeu era um cubano.

Apesar de ser especialista em doenças tropicais, e falar em portunhol, explicou que todos os médicos do hospital eram cubanos.

Tinham vindo num pacote do governo do Estado em convênios com Cuba, em função basicamente da sua especialização.

Embora eu não fosse um doente tropical, o diagnóstico do doutor cubano foi perfeito.

Indaguei então dele o porquê de não existir um médico brasileiro no hospital, já que estávamos no Brasil.

Ele deu um sorriso maroto e disse, no seu portunhol:

"E usted piensa que los médicos brasileños son locos de trabajar aqui, cuidar de llos índigenas... Ellos quierem es la buena vida do Rio, o de San Pablo".

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