A medalha do Jaguar e a do Bolsonaro

Tem medalhas que justificam a devolução

(Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)


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Rio - Eu também já ganhei uma medalha da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, concedida pelo vereador Pedro Porfírio. Mas não devolvi, como fez Jaguar. Perdi a minha, depois de um porre no Amarelinho.

Tem medalhas, no entanto, que justificam a devolução. São honrarias também concedidas a corruptos, ditadores, genocidas e, portanto, ao invés de homenagear, denigre a imagem de quem recebe. Foram os casos das medalhas recebidas pelo cartunista Jaguar e pelo sertanista  Sydney Possuelo.

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Em 2006, Jaguar foi indicado pelo vereador Chico Alencar para receber a medalha Pedro Ernesto. Na mesma ocasião, a vereadora Cristiane Brasil, filha do Deputado Roberto Jefferson (PTB) - hoje aliado de Bolsonaro -, ofereceu a mesma comenda ao pai.

Jaguar fez questão de devolvê-la para não dividir a honra com Roberto Jefferson, o deputado bolsonarista que foi cassado por corrupção, admitiu ter recebido R$ 4 milhões e delatou o esquema do "mensalão".

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"O sujeito é réu confesso, embolsou R$ 4 milhões e foi condecorado pela filha, num ato de nepotismo. Não deu para engolir." - disse o cartunista.

Na última quarta-feira (16/3), Jair Bolsonaro (PL) foi condecorado pelo ministro da Justiça, Anderson Torres - pasmem -, com a Medalha do Mérito Indigenista. O titular da pasta também deu a medalha para si mesmo e para outros nove ministros do governo federal.

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Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o reconhecimento foi oferecido “pelos serviços relevantes em caráter altruísticos, relacionados com o bem-estar, a proteção e a defesa das comunidades indígenas”.

Esta é a segunda honraria concedida pelo governo federal a Bolsonaro somente nesta semana. Na terça-feira (15/3), ele outorgou a si mesmo a Ordem do Mérito do Ministério da Justiça por serviços voltados para o crescimento e fortalecimento da pasta.

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Em novembro de 2021, após uma série de declarações anti científicas em meio à pandemia de Covid-19, Bolsonaro se auto premiou com a Medalha de Ordem Nacional do Mérito Científico.

A homenagem com a Medalha do Mérito Indigenista gerou intensa controvérsia e  protestos contra a condecoração do presidente da República, já que sempre se mostrou inimigo dos indígenas, e contra a política adotada pelo governo em relação ao tema. 

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O presidente é defensor de agendas que são consideradas por especialistas da área como contrárias ao bem-estar das comunidades indígenas, entre elas a mineração em terras demarcadas. 

Na semana passada, ele afirmou que os indígenas “praticamente já são quase como nós”.

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Antes, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro, em manifestação na Câmara dos Deputados, afirmou: “A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema no país”. 

Presidente da Funai entre 1991 a 1993, o sertanista Sydney Possuelo devolveu ontem a Medalha do Mérito Indigenista que recebeu há 35 anos ao saber que o presidente Jair Bolsonaro foi agraciado com a mesma honraria. 

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Possuelo afirmou que a concessão do mérito ao presidente “é um flagrante, descomunal” e uma “ostensiva contradição” em relação ao trabalho que ele mesmo realizou e a todas as convicções cultivadas por homens de estatura dos irmãos Villas Boas”- escreveu o sertanista, em carta encaminhada a Anderson Torres.

Com tantas medalhas outorgadas a si mesmo e oferecidas por figuras bolsonaristas, o capitão corre o risco de se transformar em um novo ‘Zé das Medalhas’. 

Altair Domiciano Gomes, figura lendária de Copacabana, também conhecido como Zé das Medalhas, foi balconista da Farmácia do Leme, da Prado Júnior e chegou a ter 15 quilos de medalhas penduradas no peito.

A diferença, é que as medalhas do ‘Zé’ tinham mais valor que as do presidente. 

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