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A martelada de Tarcísio na cabeça dos paulistas: grupo que levou Rodoanel foi responsável pelo apagão no Amapá

Starboard floresceu no rastro da ruína provocada pela Lava Jato e governo Bolsonaro, e controla empresa que deixou estado inteiro sem energia elétrica

Leilão que deu vitória ao fundo Via Appia contou com a cena grotesca das marteladas de Tarcísio na B3
Leilão que deu vitória ao fundo Via Appia contou com a cena grotesca das marteladas de Tarcísio na B3 (Foto: Rogério Cassimiro/GovSP | Reprodução | GovSP)
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Ao bater o martelo com violência, no leilão do trecho norte do Rodoanel, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, parece ter tentado demonstrar virilidade, mas, visto por outro ângulo, o ato não passou da consolidação de covardia administrativa que, em última instância, acertou a cabeça dos usuários de rodovias em São Paulo.

Antes de adentrar nas possíveis irregularidades no processo de escolha de uma empresa para a construção do trecho da rodovia que custará, em princípio, R$ 3,4 bilhões, é preciso registrar que o líder do consórcio que venceu a disputa, a Starboard Partners, controla a empresa de energia que, em 2020, deixou os moradores do Amapá em completa escuridão.

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O blecaute no Amapá foi ocasionado por um incêndio em uma subestação da concessionária Linhas do Macapá Transmissora de Energia (LMTE), da Gemini Energia, controlada pela Starboard Partners.

A subestação tinha três transformadores. Um pegou fogo, o outro estava em reparo fazia mais de um ano. O único que sobrou não suportou a carga e, por isso, os moradores do Amapá ficaram na escuridão.

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A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) responsabilizou a empresa controlada pela Starboard e aplicou multa de R$ 9,3 milhões, que até alguns meses atrás ainda não tinha sido paga. A Aneel foi procurada nesta tarde, mas até o fechamento deste artigo não tinha respondido.

Na época, o então ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque (sim, aquele das joias), disse que uma investigação poderia levar até à cassação da concessão da Gemini Energia para operar no Amapá, mas nenhuma penalidade foi aplicada.

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"É inadmissível e inaceitável o que ocorreu", afirmou, à época, no programa do Datena.

Bento Albuquerque não era desconhecido de um dos sócios da Starboard Partners. Pedro Bianchi é filho de um dos conselheiros do Iate Clube do Rio de Janeiro, cuja diretoria recebeu comenda das mãos do então ministro, em fevereiro de 2022.

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Sem punição pelo caso do Amapá, a Starboard Partners, que tem como imagem principal em seu site um barco a vela, aportou em São Paulo, estado que é governado por um ex-colega de Bento Albuquerque no ministério de Jair Bolsonaro.

Para levar a concessão do Rodoanel, a Starboard Partner contou com um empenho poucas vezes visto no governo de São Paulo. O leilão havia sido suspenso na tarde de segunda-feira, por decisão da juíza Simone Gomes Rodrigues Casoretti, da 9a. Vara da Fazenda Pública.

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Ela aceitou os argumentos da Associação Brasileira de Usuários de Rodovias Sob Concessão (Usuvias), que reclamavam da falta de transparência e atropelo por parte do governo do Estado. 

O trecho norte do Rodoanel foi planejado para ser construído na modalidade convencional de licitação. O estado arcaria com os custos e depois cobraria pedágio de R$ 3,80, de acordo com edital lançado em 2021.

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No ano seguinte, a gestão de João Doria e depois a de Rodrigo Garcia alteraram o modelo de construção para parceria público-privada, e o pedágio foi elevado para R$ 6,50. Em nenhum dos casos, o governo apresentou planilha de custos para justificar o preço, segundo o advogado Edison Araújo da Silva, que é diretor-executivo da Usuvias.

"Com a PPP, o governo do Estado colocará dinheiro do contribuinte na obra, e mesmo assim o pedágio sobe. Não há explicação", disse Araújo da Silva ao 247. 

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"A legislação estadual e a federal determinam que, antes de um edital de PPP, é preciso realizar audiência pública, para que o povo tenha oportunidade de se manifestar. O governo anterior, de Rodrigo Garcia, e o atual, de Tarcísio de Freitas, passaram por cima das normas legais e não realizaram nenhuma audiência pública", acrescentou.

A decisão da juíza Simone Casoretti vigeu durante algumas horas. À meia noite e meia desta terça-feira (14/03), horas antes do leilão, o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ricardo Mair Anafe, cassou a decisão, mas não fechou a porta. Até porque não podia. "Vamos recorrer", afirmou Araújo da Silva.

A Starboard Partners se estabeleceu no Brasil em 2015, e aproveitou as oportunidades de negócios que surgiram com a ruína empresarial provocada pela Lava Jato. 

Assumiu o espólio da Ricardo Eletro e também obteve concessão para explorar poços de petróleo colocados à venda pela Petrobras na administração de Pedro Parente.

Com o bolsonarista Tarcísio de Freitas à frente do Estado mais rico da federação, a empresa amplia seus negócios. O consórcio que a Starboard lidera poderá cobrar pedágio na rodovia durante 31 anos, a partir de 2026, ano de eleição e prazo fixado para o término da obra.

Resta saber se os paulistas terão a mesma infelicidade dos brasileiros do Amapá, e sofrerão um apagão rodoviário. 

 

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