A mãe do Pasquim
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Mãe só tem uma.
Pai, ele teve vários: Tarso de Castro (editor), Jaguar (editor de humor), Sérgio Cabral (editor de textos), Carlos Prosperi (editor gráfico) e Claudio Ceccon.
O velho jargão, “mãe só tem uma”, ainda que em desuso, serve muito bem para ilustrar a história do semanário “O Pasquim” - depois apenas “Pasquim”, sem o artigo.
Reza a “lenda”, ou a “história” ( “se a lenda é mais interessante que a história, imprima-se a lenda”, ensinou o “historiador” do Oeste americano John Ford, em “O Homem Que Matou o Facínora”) , que a fundação do “Pasquim” aconteceu mais ou menos assim:
Com a morte do humorista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, Tarso de Castro foi convidado por Murilo Reis para editar o jornal “A Carapuça”.
Tarso de Castro não aceitou, preferindo criar um novo tablóide. “Vamos fazer um jornal marginal” - disse ele.
Tarso convidou Jaguar e Sérgio Cabral para a empreitada. Os primeiros a se juntar ao grupo foram Carlos Prosperi e Claudio Ceccon, o Claudius.
Millôr Fernandes foi convidado para participar do “Pasquim”, por Tarso, mas recusou — chegou a escrever um artigo prevendo o final da publicação em poucos números.
Tarso não deixou barato: “Coisas que se explicam pelo fato de que Millôr considera insuportável qualquer coisa que dê certo e que não o tenha como autor”. Ziraldo também preferiu ficar apenas como colaborador.
Assim, as negociações resultaram numa sociedade por cotas para dirigir o jornal: 50 por cento para Murilo Reis (dono da Distribuidora Imprensa) e 50 por cento divididos em cotas iguais para Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Carlos Prosperi e Claudius.
Até aí, tudo bem. O que a “lenda” ou a “história” dos “meninos” esqueceu de contar é que havia outro fundador (a): Olga Savary.
Olga era casada com Jaguar, na época. Participou ativamente das reuniões de criação do tablóide - que acontecia em sua casa ou nos botecos de Ipanema e Leblon.
Participava e editava as famosas entrevistas. Criou a seção “Dicas”, a mais lida do jornal. Foi a primeira mulher a dar preços e sugestões de restaurantes, tendência depois seguida por quase todos os jornais. Na década de 70, criou a editora Codecri, ligada ao semanário.
No entanto, o livro “O Som do Pasquim”, uma coletânea de entrevistas publicadas no tablóide, é a única publicação que cita o nome de Olga Savary, ligando-a ao semanário. Na página 86, ela faz “uma” pergunta a Waldick Soriano, numa entrevista que fizeram com o cantor, na Freguesia, Ilha do Governador.
Olga Savary é uma das mulheres mais inteligentes do Brasil. Poetisa, escritora, ensaísta, tradutora e jornalista. Ganhou trinta e seis prêmios nacionais de literatura (entre eles dois Jabutis). É a maior tradutora de Pablo Neruda no Brasil, além de ter traduzido importantes autores da literatura hispano-americana. Foi a primeira mulher a publicar um livro de poesias eróticas e escrever e traduzir haicais (a sintética poesia japonesa).
Festeira, foi a primeira mulher a frequentar bares, antes só frequentados por homens, e foi, também, criadora do “Bloco de Ipanema”, que resultou depois na “Banda de Ipanema”
Assim, por mais que omitam seu nome nos registros, ficará na "história" e na "lenda" como uma das criadoras do ‘Pasquim’”.
É verdade que mais na lenda do que na história — porque ela, afinal, é só a mãe.
N.A.: Olga Savary faleceu no dia 15 de maio de 2020, em Teresópolis, no Rio de Janeiro, aos 86 anos.
*Ediel é jornalista, cartunista e escritor.
*Crônica publicada no jornal O DIA, em fevereiro de 2017.
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