A insurgência popular e a liderança do governo derrotaram o golpe na Turquia

"É evidente que os golpes no Brasil e na Turquia têm características e particularidades singularíssimas. Além disso, os golpistas de cada país têm suas especificidades próprias", diz o colunista Jeferson Miola; "Sem perder este critério de vista, porém, uma constatação se impõe: no enfrentamento do golpe jurídico-midiático-parlamentar no Brasil de 2016, não se soube extrair os ensinamentos da resistência democrática e da épica Campanha da Legalidade de 1961 conduzida pelo então governador gaúcho Leonel Brizola"

"É evidente que os golpes no Brasil e na Turquia têm características e particularidades singularíssimas. Além disso, os golpistas de cada país têm suas especificidades próprias", diz o colunista Jeferson Miola; "Sem perder este critério de vista, porém, uma constatação se impõe: no enfrentamento do golpe jurídico-midiático-parlamentar no Brasil de 2016, não se soube extrair os ensinamentos da resistência democrática e da épica Campanha da Legalidade de 1961 conduzida pelo então governador gaúcho Leonel Brizola"
"É evidente que os golpes no Brasil e na Turquia têm características e particularidades singularíssimas. Além disso, os golpistas de cada país têm suas especificidades próprias", diz o colunista Jeferson Miola; "Sem perder este critério de vista, porém, uma constatação se impõe: no enfrentamento do golpe jurídico-midiático-parlamentar no Brasil de 2016, não se soube extrair os ensinamentos da resistência democrática e da épica Campanha da Legalidade de 1961 conduzida pelo então governador gaúcho Leonel Brizola" (Foto: Jeferson Miola)


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O filósofo e analista político Juan Domingo Sánchez Estop, que trabalha e vive em Bruxelas, oferece uma síntese muito interessante sobre o fracasso da tentativa do golpe de Estado na Turquia, cujo conteúdo está adiante traduzido para o português.

Juan Domingo expõe com poucas palavras como o golpe foi derrotado pelo povo insurgente que tomou as ruas. A insurgência popular, de outra parte, – e isso não está mencionado neste rápido relato dele – foi correspondida pela liderança exercida pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan, quem soube dirigir com firmeza a resistência contra o golpe, e soube instruir com clareza o combate aos golpistas.

É evidente que os golpes no Brasil e na Turquia têm características e particularidades singularíssimas. Além disso, os golpistas de cada país têm suas especificidades próprias. Sem perder este critério de vista, porém, uma constatação se impõe: no enfrentamento do golpe jurídico-midiático-parlamentar no Brasil de 2016, não se soube extrair os ensinamentos da resistência democrática e da épica Campanha da Legalidade de 1961 conduzida pelo então governador gaúcho Leonel Brizola.

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A corajosa resistência democrática turca não significa, automaticamente, alinhamento com o presidente e com o governo Erdogan; porque representa, antes disso, a defesa intransigente da democracia e das regras do jogo vigentes, mesmo que da débil e insuficiente democracia liberal-burguesa imposta.

Isso não é uma apologia da verdadeira democracia, a democracia socialista; mas simplesmente a defesa da democracia sem adjetivos, porque a democracia em si, mesmo que incompleta quando exclusivamente representativa do modelo liberal, é um valor mais substantivo que todos os regimes plutocráticos.

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O golpe na Turquia confirma que a burguesia, talvez por ser uma classe que se torna dominante na base da violência e da opressão sobre outra classe, é autoritária; na ânsia de aprofundar a acumulação capitalista, é incapaz de respeitar até mesmo um mero arremedo de democracia.

As pessoas comuns, desarmadas e indignadas pelo enésimo intento de golpe de Estado, disseram basta a um exército autoritário, corrupto e intervencionista.

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A gente normal saiu à rua defender a democracia – que na Turquia é de baixa intensidade – contra um poder baseado na pura violência. E o fez com seus corpos e com suas palavras, subindo nos tanques, conversando com os militares.

Emociona a imagem dos capacetes e fuzis abandonados por centenas de soldados numa ponte em Bósforo. Os soldados deixaram de ser soldados quando lhes mandaram disparar contra o povo, e se fundiram com esse mesmo povo na sua indignação e na sua valentia.

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Isto nos permite chegar a três conclusões provisórias:

1) nenhum exército é invencível, pois ainda que um poder militar pretenda se impor através da violência, este poder é sempre uma relação: só existe quando logra ser obedecido. Se não logra, simplesmente não existe.

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2) hoje, quando o poder fundamental é o financeiro – que dá golpes de Estado tão eficazes e dificilmente resistíveis, como o do verão passado na Grécia – resulta anacrônico e folclórico um golpe de Estado militar, com suas espadas, seus gritos, seus tanques etc.

3) temos de aprender a parar os golpes de Estado financeiros e temos de aprender a derrubar as ditaduras das finanças. Para isso, é preciso articular formas originais de desobediência e de solidariedade, construir as bases materiais da resistência”.

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