A insônia de Sérgio Moro e a roleta russa do Brasil
Moro não sentenciou um tal ex-Presidente – somente. Moro vem condenando o povo brasileiro a ficar na mendicância dos países mundo afora. E não há pudor em Moro. Ele e o fantoche dos banqueiros, o Presidente desprezível e figurativo chamado Michel Temer, servem ao Mercado, à bolsa de valores, aos juros dos rentistas, aos magnatas da mídia e do petróleo, aos estrangeiros
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São 23h58. É dia 23 de janeiro de 2018. Sérgio Moro, o juiz, não consegue dormir. Talvez ansiedade andante por um júbilo de vanglória – daquele cujo pensamento estomacal nos faz rir copiosamente. Talvez medo do inesperado – o opaco óbvio que somente nós e os nossos não foram capazes de antever, e fugir, ao tempo. O fato é que daqui a poucas horas, o seu julgamento entrará para a história qualquer que seja o desenrolar do decisum colegiado do TRF4.
A questão para ele, porém, é mais crônica. Seus ensaios de ilegitimidade judicante começam a aflorar na modernidade tardia do Direito brasileiro. Trata-se de um julgado frágil, sem alicerce técnico e pouco procedimental para a esteira das leis vigentes. Um pêndulo hermenêutico fatídico, torto na origem. Moro sofre. Deve, mesmo vitorioso “proformemente” (tipo: corporativismo judiciário de sofisma delinquente), o Juízo ali tender a ruir e envergonhar[-se] nos anais da História do Brasil. É que o mundo já fotografa seu fracasso formal – em sucesso performático-midiático convenientemente superficial e artificial. Construíra uma decisão judicial aos moldes de um castelo de luxo à beira do abismo areal. Não tem fundamento jurídico, no entanto, força política das oligarquias seculares.
Moro é a incógnita que nos resta responder para desvendarmos o código que abre a porta do labirinto circular que faz da sociedade brasileira um atraso civilizatório-cognitivo[1]. Um fiasco de sociedade formal. Institucionalmente fracassada; economicamente desigual extremada; republicanamente demagógica; democraticamente falsária; socialmente esquizofrênica; culturalmente recalcada; ambientalmente volúvel; moralmente hipócrita. Moro é símbolo, elemento sintomático de nossa mesquinhez humana em cuja ação reproduz a lógica elitista, esmagando as classes abas/bes/tadas, estas que sem saber plenamente, servem de mola propulsora para a riqueza crescente de uma minoria feita casta alta e isolada em palacetes pujantes em ostentação. Moro é somente um ideário da metafantasia que nos faz brasileiramente patéticos, seguidores de gente como Bolsonaro’s (da violência gratuita e solene), Malafaia’s (da moral enviesada e sem sal), Huck’s (do espetáculo bestializado e alienante), Doria’s (da política demagógica e puritana).
Trata-se de uma anomalia. Moro é a tipologia do herói de gente besta, gente tola, gente ingênua ou de gente de pouco conhecimento (tem gente de má-fé aí, mas é a minoria deles). O conhecimento dessa gente se dá, hora por novelas da alienante Rede Globo, hora por informações de jornalecos da Band, hora por baixarias de auditórios do SBT, hora ainda pelo sensacionalismo piegas da Record. Ou seja: estamos cercados por idiotas que nos empurram seus esgotos culturais de entretenimento e informação. Conteúdos tão pertinentes à formação de uma consciência evoluída aos moldes de “Big Brother Brasil – BBB” (#SQN), doravante, a incapacidade de depuração crítica que denota uma crítica sem lógica, sem argumento, fraca, assim como a Peça Decisória do julgado de Lula perante Sérgio Moro.
Sinceramente, pouco menos me importaria a “briguinha” político-ridícula do Juiz com o ex-Presidente da República. Não fosse isso a política fundante. A política que está há 3 anos matando pais de família que perderem seus empregos a partir do momento em que a Petrobrás teve de se render à Shell e ao mercado estrangeiro. Isto posto, a economia cada vez mais fraca porque a prioridade do Governo Federal (im)posto é a de servir aos bilionários banqueiros, industriais, latifundiários, midiáticos etc.
Tanto o é verdade que pesquisa inglesa recentemente publicada[2] sobre as fortunas no mundo, acharam no Brasil outros [doze novos] bilionários, e os que já existiam (como o dono da cerveja Skol e outras, o Sr. Lemann) aumentaram bastante sua fortuna graças à desgraça imposta pelo governo e pelo Congresso Nacional aprovando a Reforma Trabalhista (para lascar trabalhador e ajudar o patrão com mais lucro), a PEC que congela por 20 anos o dinheiro da Educação e da Saúde (que esses ricaços nunca usarão: seus filhos estudam no exterior e não demandam hospital público), a Reforma da Previdência – que prejudica quem mais precisa se aposentar, e tantas outras medidas cruéis ao povo brasileiro. Ah, e lembremos que a fragilidade das instituições causadas por Sérgio Moro e pela covardia do Supremo Tribunal Federal (STF), permitiu aos governantes renunciar a bilhões e bilhões de impostos que deviam (sonegação gritante) as grandes empresas brasileiras. Com esse dinheiro, o País já teria saído da crise há muito tempo, e não sofreríamos tanto.
Moro não sentenciou um tal ex-Presidente – somente. Moro vem condenando o povo brasileiro a ficar na mendicância dos países mundo afora. E não há pudor em Moro. Ele e o fantoche dos banqueiros, o Presidente desprezível e figurativo chamado Michel Temer, servem ao Mercado, à bolsa de valores, aos juros dos rentistas, aos magnatas da mídia e do petróleo, aos estrangeiros. Faz três anos que esses caras entregam o Brasil ao ridículo e à dependência internacional (vide a doação do Pré-Sal, tanta riqueza para as empresas estrangeiras). E faz três anos que perdemos nossos empregos, nossas esperanças (em parte), nossos sonhos, nossas oportunidades (Universidade para nossos filhos etc.). Faz três anos, o Brasil está de cócoras; quando tenta levantar, Moro “empurra” e ficamos “de quatro”, sem reação, sofrendo, à espera de uma solução para essa novela jurídica sem fim.
Portanto, Moro não conseguirá dormir essa noite. Peso na consciência pelo atraso que vem gerando à economia[3] e ao povo. Não. Por correr o risco de virar um lixo para a História do Brasil, um resto rejeitável, uma figura repugnante para as futuras gerações. Moro está a temer que nossos netos e os dele evitem pronunciar seu nome sob pena de trazer má sorte.
Entretanto, não é somente Moro que tem insônia hoje[4]. Estou a escrever esse texto que ensaia varar pela madrugada. Sem sono. Aflito. Não pela confirmação da sentença de Moro a Lula junto a seus colegas do TRF4. Isso é como o óbvio cósmico. Porém, assusta-me imaginar que dezenas de milhares de mães de família em todo o território brasileiro também estão sem dormir nesse instante, certas de que cada vez mais nosso País está nas mãos de gente egoísta e elitista como Sérgio Moro, portanto, reféns de um nada que lhes sobre para o sustento e o crescimento de sua família.
Já que não dormimos até agora, melhor ficarmos acordados e lutarmos verdadeiramente, antes que seja tarde demais e a última bala do tambor [dessa guerra orquestrada em roleta russa] seja um concluso trágico para o Brasil; para todos nós...
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[1] É preciso fazer essa nota. Esclarecer. Quando me refiro a nosso fracasso civilizatório, não é com aquele viés dos imbecis que se mudam do Brasil para Miami (EUA). Não sou adepto à Síndrome do Vira-lata. Aliás, orgulho-me do meu País. E tenho muita esperança que ele sobreviva a toda essa turbulência antidemocrática, que sobrevenha o Estado de Direito e que nosso povo veja reduzida a quase zero as desigualdades sociais e ao fim da concentração de riquezas nas mãos de pouquíssimos (vide que 5 bilionários brasileiros têm a mesma quantidade de dinheiro da metade de toda a população, ou seja 5 pessoas concentram a grana de 102 milhões de trabalhadores e crianças brasileiras).
Ademais, sou otimista. Creio que evoluiremos. Mas para isso, ao menos três coisas são essenciais:
I – Devemos aprender a votar. Parar de votar por trocas de empregos, tijolos, favores imediatos, ou mesmo “papo bonito”. Votar em projetos e em candidatos que não tenham traído a sociedade no Congresso Nacional. Pesquisar cada candidato. Dá trabalho, contudo, é para o nosso bem comum;
II – Devemos parar de acreditar em tudo que se diz nos jornais brasileiros. Essa gente (mídia) defende apenas os ricaços. Estão pouco se importando com a sociedade em geral. Querem mais é ver o povo alienado, escravo, sem cultura melhorada; e
III – Devemos ampliar nossa visão de mundo, da própria política e senso crítico. Não uma crítica imbecializada, sem argumento. Todavia, uma crítica estudada, pesquisada, pensada.
Feito isso, seremos uma civilização moderna e rica, de fato, inclusiva, para todos e todas.
[2] Clique aqui e entenda mais sobre a pesquisa da Oxfam, Organização Não Governamental que mede periodicamente a concentração de renda e riquezas em todo o mundo, e apresenta seu relatório sugestivo. De 2017 para 2018, a única coisa que mudou no Brasil foi o número de bilionários. A desigualdade só piora no País (Compare).
[3] Já fomos a 6ª economia do Planeta; respeitado. Hoje o Brasil se curva mediocremente a vários países.
[4] O “hoje”, para Sérgio Moro, é figura atemporal. Sua insônia durará para sempre. Ao provérbio ensaiado por Jean Racine, referindo-se à personagem Madre Angélica (em um de seus livros), diz que “ela dormiu o sono dos justos”, quando de sua morte, não se aplica ao Juiz Seletivo que encolheu o Brasil alguns séculos coloniais para trás – e nos empobreceu, cultural, social e economicamente. Não terá paz!
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