A incitação ao ódio e à violência como política de governo

"A ameaça da violência e do ódio ronda Porto Alegre", aponta o colunista Jeferson Miola; segundo ele, "a tradição de convivência democrática, tolerância e respeito às diferenças de opinião está sendo ameaçada pelo prefeito Marchezan Júnior, do PSDB, que faz da intolerância, do preconceito e da incitação ao ódio e à violência a política oficial do seu governo"; Miola diz ainda que "Marchezan Júnior não esconde a raiva arraigada que nutre pelos trabalhadores em geral e pelos servidores municipais em particular, o que é mera conseqüência do desprezo que ele tem por tudo o que é público e por tudo o que diz respeito aos pobres e ao povo humilde"

30/09/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Nelson Marchezan Jr, candidato à prefeitura, concede coletiva para explicar ação da polícia federal em empresa de limpeza contratada pela campanha. Foto: Guilherme Santos/Sul21
30/09/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Nelson Marchezan Jr, candidato à prefeitura, concede coletiva para explicar ação da polícia federal em empresa de limpeza contratada pela campanha. Foto: Guilherme Santos/Sul21 (Foto: Jeferson Miola)


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A ameaça da violência e do ódio ronda Porto Alegre, uma cidade que em tempos nem tão distantes se notabilizou no Brasil e no mundo com as experiências democráticas avançadas como o Orçamento Participativo; e foi a capital que um dia sediou a enorme pluralidade mundial dedicada à construção de um futuro de generosidade, de paz, igualdade e justiça para a humanidade.

Esta tradição de convivência democrática, tolerância e respeito às diferenças de opinião, todavia, está sendo ameaçada pelo prefeito Marchezan Júnior, do PSDB, que faz da intolerância, do preconceito e da incitação ao ódio e à violência a política oficial do seu governo.

A postura do tucano Marchezan Júnior, que como liderança política maior da cidade deveria servir de referência de comportamento na sociedade, libera o espírito autoritário e truculento de alguns vereadores da sua base de apoio, a ponto de encorajar um deles [do PMDB] a se dirigir até uma repartição pública com o intuito exclusivo de vingança, para agredir um funcionário municipal que criticou seu voto na Câmara de Vereadores favorável ao aumento da alíquota previdenciária.

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Os conflitos de interesse, as diferenças de posição e de opinião política são naturais em qualquer sociedade. É, contudo, somente no terreno da democracia, da discussão racional e do confronto político organizado – que pode, às vezes, ser duro e áspero – que se consegue encontrar denominadores comuns para a abordagem dos conflitos existentes na sociedade.

Marchezan Júnior não esconde a raiva arraigada que nutre pelos trabalhadores em geral e pelos servidores municipais em particular, o que é mera conseqüência do desprezo que ele tem por tudo o que é público e por tudo o que diz respeito aos pobres e ao povo humilde.

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Valendo-se de um dicionário ideológico rasteiro e embolorado, o prefeito faz do trabalhador municipal um sinônimo de comunista – que deve ser, por isso, agredido e eliminado, como pretexto para a destruição das políticas e dos serviços públicos que “tais comunistas” executam.

No subterrâneo do facebook, imaginando-se num esconderijo fora do alcance da arena e da vista pública, o prefeito não desperdiça oportunidades para disseminar o discurso do ódio e de incitação à violência.

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Nos ridículos “decretos de fim de semana” por ele criados, e em outras publicações bizarras que faz nas redes sociais, não perde oportunidade para xingar os funcionários públicos de “vagabundos”. Ele também desqualifica as opiniões divergentes, porque provindas dos “vermelhos”; seres que considera inferiores e que por isso, na visão dele, devem ser agredidos e exterminados.

O desprezo pelo debate democrático e plural é uma realidade nova na vida política porto-alegrense. A indisposição ao diálogo; a truculência e a intolerância em relação a quem pensa diferente e tem necessidades diferentes, contrasta com a tradição de relação democrática e respeitosa do prefeito da cidade com os próprios secretários municipais, com os vereadores, com a população, com os conselhos temáticos, com os empresários, com a comunidade escolar, com os trabalhadores ambulantes, com os permissionários do Mercado Público, com os funcionários públicos etc.

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Esta política oficial de governo, que incita o ódio e a violência, tem como contraparte a ação miliciana do MBL na sociedade – um agrupamento que, embora carregue no nome a palavra “movimento”, não pode continuar sendo considerado um movimento político, porque age como uma verdadeira milícia paramilitar, nos mesmos moldes que agiam os “camisas negras” da Itália dos anos 1920 – as milícias criadas e treinadas por Benito Mussolini para agredir e matar os comunistas, os operários, os camponeses, os gays, os pobres e todos os segmentos sociais que divergiam ou não eram tolerados pelo regime fascista.

O confronto político e ideológico é legítimo e próprio de sociedades democráticas e civilizadas. A intolerância política e a violência desfechada contra pessoas pelo simples fato de pensarem diferente, todavia, são práticas ofensivas à democracia e ao Estado de Direito.

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Porto Alegre está marchando perigosamente nesta direção. Esta é uma circunstância em que a mídia, o Ministério Público, as instituições do judiciário, as organizações democráticas da sociedade, os trabalhadores, empresários e o conjunto da população devem se unir contra os riscos gestados por esta política irresponsável de incitação ao ódio e à violência.

É necessário um compromisso imediato da sociedade para conter esta loucura, antes que a barbárie se aposse da cidade.

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