A importância do reconhecimento do protagonismo Indígena

É impossível construir qualquer governabilidade sem essa presença, sem o conhecimento e a relação que os povos indígenas têm com a natureza

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


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“Não é a primeira vez que profetizam nosso fim; enterramos todos os profetas”. Ailton Krenak

A luta dos povos indígenas e das\dos indígenas pela sobrevivência nesse território invadido, ocupado e redesenhado para atender os interesses de alguns, tem sido uma constante nesses 523 anos. Em determinados momentos essa luta se agrava, em outros foi possível mitigar essa relação, mas na história recente não teve momento pior do que esses últimos 6 (seis) anos. Ainda não se tem os dados organizados da dimensão da violência que ocorreu nesse período, para que possamos comparar com outros momentos. Para de fato podermos ter um retrato fiel, do que foi pautado pelo governante do plantão e o setor mais atrasado desse país: o latifúndio-agronegócio-mineração, que, com total conivência do estado, definiu por fazer guerra total, contra aqueles que ousaram resistir a sua visão de mundo, ou seja, a maioria do povo, principalmente, aqueles que têm a terra território e a relação harmoniosa com a natureza. Aqueles que vivem uma visão mais ampliada da nossa existência, que são exatamente os indígenas.

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Nesses anos, não teve ação perversa que não tivesse sido utilizada, desde a política de desinformação, expulsão e ocupação de territórios já reconhecidos e demarcados, escravização, exploração sexual, assassinatos, destruição de recursos naturais, retirada de ações básicas do estado, como a garantia da integridade, ou mesmo velha e surrada tática da evangelização violenta, que desrespeita totalmente a construção cultural e espiritual dos povos indígenas.

Foi nesse permanente cenário de abusos violentos, que os povos indígenas, mostraram porque resistem a mais de 523 anos de ataques permanentes. O movimento de resistência indígena cresceu, foi o único setor com densidade em todo território, que manteve o processo de luta pela terra, não deixando de fazer retomadas de territórios reconhecidos, bem como lutando pelos territórios já reconhecidos, mas a ação foi além dessa, o movimento fez persistente e incisiva resistência contra todos os ataques do governo e seus asseclas. E fez mais, mobilizou para resistir aos retrocessos que o Congresso com uma expressiva bancada conservadora, avançasse ainda mais em suas pautas regressivas e destrutivas. Ampliou a percepção no judiciário para o fato de que o Marco Temporal seria um grande retrocesso, denunciou o governo genocida nos organismos multilaterais e, principalmente, ampliou a mobilização do movimento indígena, ano a ano no ATL- Acampamento Terra Livre.

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Sem dúvida, esse conjunto de ações, bem como outras ações, apresentou um protagonismo dos povos indígenas e das/dos indígenas, não visto nesse período recente da nossa história e só foi possível porque o movimento indígena foi, talvez, um dos únicos movimentos a fazer luta em todas as frentes, principalmente a frente de mobilização popular, para dentro e para fora do próprio movimento.

Essas ações se juntam ainda a outros processos importantes, como expressivos grupos de pessoas que viviam sobre o apagamento, a invisibilidade fruto do etnocídio, passaram em continuidade ao que vem acontecendo desde a Constituição Federal de 1988. Fazer o caminho de volta, auto afirmando as suas identidades indígenas, antes negadas, que vai se fortalecendo e ampliando o conjunto de reivindicações que consequentemente fortalecerá a luta indígena. Nesse sentido, a I Conferência Nacional Livre Popular de Indígenas em Contexto Urbano é uma das ações que pode vir a oferecer esse novo conjunto de reflexões para contribuir nessa ascensão do movimento no geral.

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O movimento das populações indígenas, de certa forma, surpreendeu diversos setores com a criação do Ministério dos Povos Originários, que vem com muito atraso com relação às históricas lutas travadas por tantos povos daqui desse chão que pisamos.  Entretanto, é o reconhecimento da importância do protagonismo indígena, aliado ao reconhecimento de que é impossível construir qualquer governabilidade sem essa presença, sem o conhecimento e a relação que os povos indígenas têm com a natureza, expertise fundamental nessa quadra histórica que se encontra a humanidade.    

Não, não é um novo protagonista, o que temos aqui são muitos e velhos protagonistas que assumem a importância que durante esses mais de 5 (cinco) séculos se tentou negar. É suficiente, não, não é. Mas é a possibilidade que esse patamar possa alcançar outros patamares de organização, de presença, de mudança de pensamento da relação com a natureza e planeta e a contribuição na construção de uma outra sociabilidade de fato humana.

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