A humanidade atingida
A urgência do que se nos revela, em nossos princípios de humanidade, ainda que abalados, não pode ser posta de lado. É possível que Jair Bolsonaro e seus filhos durmam bem, enquanto nós perdemos o sono. Seja como for, há algo de podre no Palácio do Planalto. Afinal, “navegar é preciso; viver não é preciso” – já diziam os argonautas
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A CPI da Covid-19 termina com um balanço desconcertante e aterrador. Poucas vezes se imaginou, neste país, um panorama de descontrole em tais dimensões. Atingimos a cifra de 600 mil mortos, vitimados pela epidemia. Numa medida recente da pasta da Saúde, depois revertida graças ao escândalo provocado, suspenderam as vacinações para jovens e adolescentes. O Presidente, em mais um gesto de frieza, vetou projeto do Congresso Nacional estendendo às moças pobres o direito de receber absorventes gratuitamente. Mais perdido do que cego em tiroteio, o governo torceu abertamente pela chamada imunidade de rebanho e propagou aos quatro cantos a prescrição de remédios ineficazes. Na Assembleia-Geral das Nações Unidas, pregou, sem pudor, suas convicções em torno da cloroquina e dos tratamentos precoces. Foi uma vergonha. Realmente, ultrapassamos limites inimagináveis!
Com a Revolução Americana, nós nos habituamos a nos ver sob a ótica da civilização. O conceito ganhou força e convicção com a Declaração dos Direitos do Homem, por criação da Revolução Francesa. Nenhuma constituição depois dela, inclusive a brasileira de 1988, a ignorou, estampando-a como prólogo imprescindível entre os prerrequisitos das sociedades modernas. Sabemos como nos Estados Unidos o gosto pelos filmes de cowboy e os confrontos armados levam à morte, vez por outra, nos colégios ou nas ruas, pessoas inocentes. Não é bom exemplo. No entanto, de repente, com as últimas eleições, uma propaganda em favor da morte ganhou as manchetes dos jornais e se iniciou uma pregação (fascista) a favor das armas, numa espécie de versão piorada do que se passa nos seriados de TV e filmes de Hollywood. São fatos que nos levam a refletir sobre o postulado de Humanidade. O que fizemos com ele?
A Filosofia e a criação artística como um todo, desde o século XVII, insistem em nos colocar ao lado, e não contra a ideia de Humanidade. O resultado é que, em semelhante plano, nós, brasileiros, passamos a caminhar em contracorrente com o restante do mundo. Antes, éramos vistos com simpatia, inclusive em momentos traumáticos da História, por ocasião da ditadura militar. Em Paris, havia gente que cantava músicas de Caetano e Chico Buarque. Nos cinemas, assistiam, extasiados, filmes de Glauber Rocha. José Celso Martinez Corrêa e Antunes Filho, com suas montagens extraordinárias, furavam o bloqueio da censura e se impunham. Não se deixavam dobrar. Exibíamos e defendíamos a nossa humanidade com orgulho e sentido de nacionalidade. Agora?!... Agora nos damos ao luxo de manter na Presidência da República um político que se expressa aos palavrões, despreza a ciência e as artes. Os órgãos de financiamento da pesquisa, CNPq e Capes, à beira da ruína, anunciam a possibilidade de fechar. Quanto à Cultura, nem é bom tocar no assunto.
No entanto, como o pior que pode piorar nunca piora tanto, a CPI, tratando com coragem de cada um dos temas em circulação, trouxe à tona faces do país que, uma vez reveladas, impossível permanecer indiferente. São debates para as próximas eleições? Talvez. A urgência do que se nos revela, em nossos princípios de humanidade, ainda que abalados, não pode ser posta de lado. É possível que Jair Bolsonaro e seus filhos durmam bem, enquanto nós perdemos o sono. Seja como for, há algo de podre no Palácio do Planalto. Afinal, “navegar é preciso; viver não é preciso” – já diziam os argonautas. Cabe-nos saber o que fazer com isso.
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