A herança política de Eduardo Henrique de Acioly Campos

O Brasil precisa muito de renovação política. Mas esta não se confunde com renovação da faixa etária, de membros de uma mesma família no poder

O Brasil precisa muito de renovação política. Mas esta não se confunde com renovação da faixa etária, de membros de uma mesma família no poder
O Brasil precisa muito de renovação política. Mas esta não se confunde com renovação da faixa etária, de membros de uma mesma família no poder (Foto: Michel Zaidan)


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É muito cedo para fazer a autópsia da obra administrativa e política do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Henrique de Acioly Campos. Mas uma coisa pode se dizer: ela não se compara com a do avô, nem em qualidade nem em extensão. Neste caso, o mero sobrenome da família Arraes não garante a continuidade da obra do velho Miguel Arraes de Alencar. As obras são dessemelhantes e de duração muito diferente. Além, é claro, da história de vida de cada um. Arraes era um político da geração pós-45, banhado no nacional desenvolvimentismo, injustamente classificado como "populista".

O neto é da era da globalização e dos gerentes do mercado, políticos ironicamente designados como "salesmen", vendedores de ativos públicos, receitas, reservas ambientais e vantagens locacionais a empresas estrangeiras. O velho Arraes nunca foi a favor da guerra fiscal e da desrregionalização da economia brasileira. Pelo contrário, sempre defendeu as políticas de desenvolvimento regional integrado e reforma agrária.

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Causa espanto a aproximação do neto com o PSDB de Fernando Henrique Cardoso e caterva. Porque o seu avô foi hostilizado até o fim pelo governo tucano e seus aliados em Pernambuco (Marco Maciel, Jarbas Vasconcelos, Sérgio Guerra etc.). Se herdou alguma coisa do velho, certamente não foi o sentimento do mundo e as duas mãos, como ele disse uma vez. Foi o caráter oligárquico, autoritário, centralizador e familista do avô.

A propósito, uma repórter do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, perguntou o que eu achava da continuidade desse legado pelas mãos do filho mais velho de Eduardo Campos, João Henrique. Sinceramente, a se confirmar a informação, seria o carimbo decisivo da reprodução de mais uma oligarquia familiar em Pernambuco: do avô para o neto: do neto para o filho. Ocorre que o herdeiro de Eduardo Campos é um ilustre desconhecido. Não sei, se como o pai, fez política estudantil. Mas sei que por imposição paterna ia se transformando em presidente da juventude socialista-familiar. O que provocou uma rebelião da prima de Campos, Marília Arraes, que o chamou de "coronel". Coronel?

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De toda maneira, se o filho de ex-governador vai mesmo seguir a carreira política do pai, "carregando a sua bandeira" e "os ideais político" do seu ilustre genitor, deveria prestar atenção em alguns conceitos muito importantes da ciência política: "familismo amoral", "nepotismo", "publicização das políticas sociais", "socialização das perdas" e "privatização dos lucros", "propaganda enganosa", "estado de exceção episódico", "transferência de responsabilidades para a sociedade civil", "terceiro setor", "guerra fiscal ou a destruição do pacto federativo", "entropia" e "parceria-público-privado" ou "capitalismo sem risco". Ia acrescentar "ambição política" e "deslealdade", com disse a repórter da TV Globo.

Em resumidas contas, o rapaz é jovem, tem muito tempo de aprendizagem pela frente, e pode aperfeiçoar a sua formação política. Espírito público e tirocínio político não são transmitidos geneticamente. Aprende-se com a boa educação republicana, com os bons exemplos, com oportunidades e a punição exemplar de condutas não recomendáveis. E são muito ajudados por instituições sólidas e boas.

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O Brasil precisa muito de renovação política. Mas esta não se confunde com renovação da faixa etária, de membros de uma mesma família no poder. A juventude é uma promessa, não é um destino ou condenação. Vamos apostar nela.

 

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