A guerra do marco fiscal: direita prepara endurecimento

O êxito do governo Lula depende fundamentalmente de seu sucesso econômico, sem o qual a frente lulista poderá ter dificuldades para se manter no governo em 2026

(Foto: Ricardo Stuckert)


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Pelo menos um favor a direita parlamentar já fez ao governo: o relator do projeto de regra fiscal de Haddad, deputado Claudio Cajado, trocou a horrível palavra arcabouço pelo nome mais sonoro de “Regime Fiscal Sustentável”. Em compensação, o relator e turma de Lira, a direita da “frente ampla”, prepara o endurecimento das regras propostas, criando mais travas contra o gasto público, o que na prática significa cerceamento ao investimento e às políticas sociais

A guerra está em curso e o governo sabe que é imperioso vencê-la para alcançar seus objetivos econômicos, e por decorrência os objetivos políticos. O êxito do governo Lula depende fundamentalmente de seu sucesso econômico, sem o qual a frente lulista poderá ter dificuldades para se manter no governo em 2026 (e nas eleições municipais do ano que vem). E o sucesso econômico, vale dizer, crescimento, emprego, renda e mais conforto para a população, depende muito da regra fiscal e da reforma tributária.

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É preciso compreender o ambiente político em que o novo Regime Fiscal será votado. Neste momento, tomando como pretexto  iniciativas do Governo como a indicação de Gabriel Galípolo para a diretoria do Banco Central e a ação judicial da AGU para alterar a regra de participação do governo na gestão da Eletrobrás, a direita parlamentar e as forças pró-mercado alinharam-se para colocar “travas” mais duras na proposta e limite à ação do governo, como a dizer:  daqui não passarão.

Nada traduz melhor esta disposição das forças liberais-conservadoras do Congresso do que a declaração do presidente da Câmara, Arthur Lira, anteontem em Nova York: “A maior reforma que o atual Congresso fará será não deixar retroceder as reformas liberalizantes que já aprovamos”.

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Diante da clara movimentação conservadora, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, já deu o grito hoje: “estão querendo é ressuscitar o teto de gastos”.

Em fina sintonia com Lira, o relator Cajado prepara um substitutivo em que endurece as regras de controle dos gastos, o que ele está chamando de “enforcement”, dourando a pílula amarga com a palavra em inglês. Ele disse hoje que tem ouvido pedidos neste sentido de quase todas as bancadas. Ele já se reuniu com as do União Brasil, PP, Podemos, Republicanos, PSDB/Cidadania, PT e PL. Para hoje estavam previstas reuniões com PSB e PSD, partidos que por sinal estão conversando com o governo sobre a (in)fidelidade de seus deputados. O PSB já esteve no Planalto hoje e saiu jurando lealdade, ao mesmo tempo que o governo prometeu agilidade no atendimento dos pleitos.

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Qual é o “enforcement” de Cajado? Ele diz que não proporá o crime de responsabilidade (que pode dar impeachment do presidente) para o caso de descumprimento das metas. Mas, em troca, proporá metas mais “ambiciosas”, vale dizer, mais duras. Por exemplo: o texto de Haddad autoriza o governo a gastar até 70% do crescimento da receita. Ele quer reduzir isso para 60%. Já o PT, quer ampliar o limite para 80%. Haddad estará entre dois fogos, um pela esquerda e outro pela direita.

Cajado quer trazer de volta o contingenciamento obrigatório (congelamento temporário dos gastos orçamentários, exceto despesas obrigatórias) quando as metas não forem cumpridas em um trimestre. Isso é gesso nas pernas do governo.  Quer também proibir que, enquanto durar eventual descontrole, o governo ficará proibido de conceder aumentos salariais acima da inflação, realizar concursos públicos ou conceder incentivos fiscais. Outras travas estão sendo analisadas. Propostas de emendas já lhe chegaram em profusão.

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Nesta quarta-feira, finalmente, o governo resolveu se movimentar com mais vigor para se acertar com os aliados. Houve uma grande reunião palaciana reunindo Lula, os ministros Rui Costa e Alexandre Padilha, o líder do governo na Câmara, José Guimarães e outros mais. Em seguida houve a reunião com o PSB, presente o vice-presidente Geraldo Alckmin, que é do partido. Já deve ter ocorrido o encontro com o PSD e haverá também “discussões da relação” com o MDB e União Brasil. O ministro Rui Costa fez autocrítica sobre o atraso na liberação de emendas e a falta de diálogo com as bancas. À tarde Padilha foi ao Senador reunir-se com o líder Jaques Wagner buscando resolver ali um outro problema: barrar o projeto de decreto legislativo que a Câmara aprovou na semana passada, derrubando trechos de um decreto de Lula sobre o marco do saneamento.

O governo está dizendo que vai pagar o preço. O marco fiscal será aprovado mas o próprio Haddad já sabe que haverá endurecimento. Realista, ele calculou no início que a proposta poderia sofrer alterações em 40% de sua essência.  Se ficar só nisso, estará de bom tamanho.

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