A gaveta é uma tentação perigosa para Augusto Aras
Jornalista Moisés Mendes diz que "engavetador" é um adjetivo depreciativo, mas pode ser pouco para o que estão reservando ao PGR. "Augusto Aras encaminhou ao Supremo um pedido de suspensão do inquérito. Por que agora? É um movimento brusco, que Aras faz dois dias depois de receber a visita inesperada de Bolsonaro", avalia Mendes
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia
O procurador-geral da República pode se transformar no personagem mais atormentado do Brasil. Todos os seus gestos serão acompanhados até por gente que nunca soube qual é a real atribuição do chefe do Ministério Público.
Aras é a autoridade com poder para contribuir que sejam levados adiante ou para que se engavetem os procedimentos que envolvem Bolsonaro, seus filhos e uma rede de colaboradores e financiadores de um esquema mafioso de produção de mentiras e difamações.
Um ocupante do cargo que agora é de Aras ficou famoso como engavetador-geral da República. Foi o procurador Geraldo Brindeiro, do governo de Fernando Henrique Cardoso. Diziam que Brindeiro arquivou tudo, mas tudo mesmo, contra o governo de FH.
Brindeiro foi quem engavetou a representação para que Fernando Henrique fosse processado pela compra dos votos que garantiram no Congresso a emenda da reeleição, em junho de 1997.
Brindeiro engavetava tudo o que poderia atingir FH e seus ministros. Era tão engavetador que ficou oito anos no cargo. Oito anos!!! Era um servidor a serviço de FH.
Aras não terá a chance de imitá-lo, porque os tempos são outros. A imprensa era aliada de Fernando Henrique. A base de sustentação política do tucano era ampla e confortável.
Mas Brindeiro carrega até hoje o estigma de engavetador. Ninguém irá livrá-lo do apelido, que é terrível para alguém que ocupou cargo público e deveria defender a República e se transformou em advogado do homem de plantão no poder.
Engavetador é um adjetivo depreciativo, mas pode ser pouco para o que estão reservando a Augusto Aras. O atual procurador não terá como fazer impunemente as manobras que Brindeiro fazia. A imprensa não vai ser cordial, como foi quando dos delitos cometidos por FH.
Em abril do ano passado, num desafio ao Supremo, que havia deflagrado a investigação das fake news (admite-se que numa decisão ainda envolta em controvérsias), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou ofício a Alexandre de Moraes.
A procuradora informava que havia arquivado o inquérito aberto em março pelo presidente do STF, Dias Toffoli. Moraes, o relator, ignorou o recado e mandou que levassem em frente as investigações conduzidas pela Polícia Federal. Em decisão recente, o ministro determinou que ninguém troca os delegados encarregados das sindicâncias.
Hoje, depois das operações de busca e apreensão autorizadas por Moraes, Augusto Aras encaminhou ao Supremo um pedido de suspensão do inquérito.
Por que agora? É um movimento brusco, que Aras faz dois dias depois de receber a visita inesperada de Bolsonaro.
Não se tem notícia de alguma visita de Fernando Henrique a Brindeiro dias antes da decisão do procurador-geral de engavetar o processo da compra de votos da reeleição de 1997.
Aras sabe que a fama de Brindeiro é uma mancha que não se apaga. E que quase ninguém se lembra da passagem de Raquel Dodge pelo cargo, com ou sem manchas.
Mas é provável que daqui a alguns anos muitos se lembrem de Alexandre de Moraes como o juiz destemido que enfrentou o fascismo e os engavetadores.
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