A frente necessária é antineoliberal e democrática-popular
Colunista Milton Alves afirma que "a necessidade da construção de uma frente democrático-popular, com um projeto alternativo de governo em contraposição ao projeto da extrema-direita bolsonarista e dos velhos partidos da direita tradicional (PSDB, DEM, MDB, PP e etc), é uma tarefa irrecusável, inadiável"
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A intensa movimentação do governador maranhense Flávio Dino (PCdoB) articulando a chamada “frente ampla” em conversas com personagens de partidos de direita como o ex-presidente Fernando Henrique (PSDB), o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) e com apresentador Luciano Huck (Rede Globo) trouxeram à baila novamente o debate acerca da tática mais adequada e eficiente para derrotar o projeto do governo Bolsonaro, de caráter neoliberal, autoritário e excludente.
No geral, dois caminhos são preconizados. Uma posição coloca acento na centralidade da luta contra o autoritarismo do governo Bolsonaro como eixo de aglutinação de forças. Essa posição defende a constituição de uma “frente ampla”, que ultrapasse as forças de esquerda, aglutinando partidos e lideranças consideradas de centro e centro-direita do espectro político. Formações de esquerda como o PCdoB e setores do PDT defendem a tese da “frente ampla’, um bloco político que abarcaria desde Rodrigo Maia (DEM), MDB, PSDB e até bolsonaristas arrependidos.
O passaporte para ingressar no território dessa pretendida “frente ampla”, é a defesa da democracia no geral e sem a exigência de um programa de ruptura na economia e no restabelecimento dos direitos sociais retirados pelo golpe de 2016. Ou seja, uma frente de teto rebaixado, o que levaria a esquerda defender uma agenda aquém das necessidades impostas pela conjuntura política atual. É, na prática, marchar à reboque das velhas forças políticas da direita tradicional.
Os companheiros do PCdoB, por exemplo, argumentam que é necessário conter a polarização, desarmar o embate entre o bolsonarismo e o petismo, desanuviando o cenário político. É um esforço em vão. A polarização é um fator político e social objetivo. É o resultado do conflito entre dois projetos polarizantes para o país: O projeto de Bolsonaro e da burguesia nacional, aliada e sócia menor do imperialismo na pilhagem do Brasil, contra o projeto democrático-popular do campo de esquerda, liderado pelo PT.
Até porque as classes dominantes e seus representantes políticos resolveram partir para o golpismo em 2016, com impeachment da presidenta Dilma Rousseff, rompendo o pacto consagrado na Constituição de 1988. O que radicalizou o processo político facilitando, ao mesmo tempo, a emergência da extrema-direita bolsonarista.
Uma segunda posição entende que, numa conjuntura em que o governo Bolsonaro tenta impor uma agenda ultraliberal, de desmonte do estado nacional e dos direitos econômicos e sociais do povo trabalhador, é fundamental a constituição de uma frente de caráter democrático-popular, reunindo a esquerda partidária, os movimentos sociais e personalidades progressistas.
Tal frente, nucleada e conduzida pela esquerda – PT, PSOL PCdoB, setores do PSB e PDT, PCO, personalidades progressistas, frentes sociais Brasil Popular e Povo Sem Medo – tem a tarefa de derrotar globalmente o projeto antinacional e antidemocrático do governo Bolsonaro, apresentando uma programa de defesa da soberania nacional, dos direitos democráticos e sociais do povo trabalhador. Isso, tampouco, impede alianças pontuais e parciais com forças do centro em torno de objetivo políticos concretos e imediatos. Aliás, como já vem acontecendo.
A necessidade da construção de uma frente democrático-popular, com um projeto alternativo de governo em contraposição ao projeto da extrema-direita bolsonarista e dos velhos partidos da direita tradicional (PSDB, DEM, MDB, PP e etc), é uma tarefa irrecusável, inadiável. Um projeto político com nitidez para disputar os rumos do país sem as velhas alianças e cedências programáticas para os partidos burgueses da centro-direita.
A defesa consequente da democracia é inseparável da derrota do projeto neoliberal, esta é uma questão estruturante e definidora da disputa de rumos no país.
Portanto, não é possível realizar uma frente nas atuais circunstâncias políticas e sociais com quem não reconhece a centralidade do combate à regressão neoliberal e ao esmagamento da soberania nacional.
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