A fraqueza da democracia
É preciso um grau de alienação social muito grande para permitir esse jogo de incitação popular, encoberto por uma retórica anticomunista, que ver o inimigo em toda parte
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A frágil institucionalidade democrática no Brasil nunca esteve tão ameaçada de morte como hoje. Não é por obra de nenhum agente externo. É em razão da falta de um consenso interno entre seus cidadãos e cidadãs sobre o valor da democracia. Vilipendiada por uns e outros como "burguesa" ou de "fachada", o fato é que parte da sociedade brasileira está decidida a ajudar a enterrar as instituições políticas brasileiras, sob o comando de um tresloucado chefe que brinca de ditador, confiando em seus eleitores em permanente estado de mobilização.
É como se as eleições não tivessem se acabado e o "inimigo comum" ainda estivesse aí para ser esconjurado. Neste sentido, ele estaria escondido na oposição, nos movimentos sociais, na imprensa, nas universidades, na cultura etc. De certa forma, é uma cruzada religiosa-política, sob as bençãos das igrejas pentecostais e neopentecostais, contra as liberdades e os avanços democráticos da Constituição de 1988.
Quando um Chefe de Estado estimula um ataque ao parlamento, confiado nos preconceitos e lugares-comuns da população contra os políticos e a política, sob a alegação de que ele obstrui as medidas necessárias para salvar o país da crise, ele calcula o desprestigio de que goza a ação parlamentar no país, transformada no bode expiatório do baixo crescimento econômico, na fuga de capitais, no enorme contingente de desempregados, na alta do dólar ou no preço da gasolina. Falta explicar - em bom economês - ao distinto público a razão de ser da política econômica do atual governo: a ancora fiscal que sobre determina todas as outras políticas, saúde, educação, meio-ambiente , seguridade social, emprego etc.
Deve o atual mandatário da República explicar em bom e claro português, que que está sendo feito para alcançar um superávit primário nas contas públicas que permita pagar as obrigações financeiras de uma dívida pública trilionária que hoje chega a 80% do PIB, e que leva 40% do orçamento da União, todos os anos, com o pagamento dos serviços dessa dívida, sustentada com o suor e o sangue do povo brasileiro.
Enquanto isso, o Presidente da República se aplica a exercícios de histrionismo, escatologia verbal, ameaça a repórteres e a instituições. É preciso um grau de alienação social muito grande para permitir esse jogo de incitação popular, encoberto por uma retórica anticomunista, que ver o inimigo em toda parte.
É a velha estratégia de mobilização popular que elege um adversário comum e procura unificar parte da sociedade contra a imaginária ameaça, como se estivéssemos numa guerra permanente. E a âncora fiscal vai sendo viabilizada, goela abaixo, sem discussão, sem debates, sem transparência. Este governo só deve obrigações ao mercado financeiro e as empresas multinacionais. E mais a ninguém. Seu nacionalismo vazio, oco, feito para engazopar os ingênuos, é uma mera cortina de fumaça para esconder a política rentista, especulativa a serviço do grande capital.
Fica para os seguidores a "mise-en-scène" fascista das demonstrações de força, das agressões verbais e físicas, da adoração dos símbolos nacionais, Só isso. Enquanto a pátria e o patrimônio público são vendidos na bacia das almas, a preço de banana, em "tenebrosas transações". É a pantomima coordenada pelos responsáveis da política econômica, Jogo de cena, espetáculos circenses de atores baratos e mambembes que vão entretendo a distinta plateia, com a conivência ou medo dos outros poderes e da grande imprensa.
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