A força da dignidade
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A ida à COP-27, no Egito, entre outras coisas, estampou aos olhos ardidos de parte da nossa população qualidades que, se não suspeitava, já existiam em nosso novo Presidente da República. O New York Times designou como “exuberante” o discurso dele diante de um auditório lotado. Nenhum dos dirigentes havia sido recebido com tal calor e consideração, aplaudido, em seguida, de pé, pelo conjunto dos assistentes. Não deixava de se mostrar espantoso. Aquele líder sindical, que começara à testa de um sindicato de metalúrgicos, passara pela administração pública em dois mandatos no Brasil e 580 dias de cadeia, condenado injustamente por um juiz parcial, ressurgia das cinzas mais forte do que nunca.
No período que sucedeu às eleições, houve uma espécie de lua de mel. A imprensa canônica, cansada de Bolsonaro, declarara-se divorciada e aderira às propostas de ajuste social pregadas por Lula. Nomeada a comissão de transição, por coisas ditas e reafirmadas ene vezes no decorrer da campanha, inicia-se um zunzum de insatisfeitos, em particular os que giram como moscas em torno das luzes do setor financeiro. Curiosamente, nada condenavam em Paulo Guedes, o ministro que arruinou nossa economia, jogou centenas de pessoas aos rigores da fome, conduziu nossas universidades aos limites da falência e trabalhou orgulhosamente com a deterioração dos laços de fraternidade que antes costumávamos exibir. Comentaristas do mercado, por muito mais do que enuncia Lula, aparentemente, se alimentavam bem e tiravam proveito dos lucros que lhes vinha por quem sabia o que fazia.
No entanto, o novo Presidente não se intimida. Aprendeu com a mãe, com a pobreza e com os irmãos que dignidade não se vende, a nenhum preço. Ainda na Polícia Federal, em Curitiba, rejeitou com um sonoro NÃO à proposta de uma tornozeleira eletrônica que o conduziria de volta a casa. “Daqui só saio inocentado”, costumava dizer para os que não suportavam vê-lo em estado de sofrimento. Tinha razão. Um pequeno conforto aqui, outro ali (a política se revela farta na matéria), levam de roldão a ideia há muito acalentada de uma resistência que só se conserva intacta à custo de uma personalidade marcada pela noção da dignidade, mesclada à força espiritual. Prisões destroem os mais corajosos porque tocam nas raízes da alma humana, minam a capacidade de resistir e derrubam a moral de sólidos e tenazes temperamentos. Lula passou pelos testes de cabeça erguida. Só por isso merece a confiança dos eleitores que puseram nas urnas os votos em sua vitória.
Cabe observar aos adeptos do mercado que não lhes será fácil dobrar alguém de semelhante estirpe. Para ilustrar o volume da tarefa, lembro uma ida de Celso Amorim à UFRJ e à Coppe para falar a um público universitário. Estava presente o embaixador de Angola, perplexo com a quantidade de ataques que exibiam todos os dias nos jornais contra as ações do governo. Não sem ironia, Celso respondeu: “Eles atacam e a popularidade de Lula aumenta”. É uma pequena advertência para quem acha que, batendo na tecla, atinge seus objetivos. A força da dignidade se impõe.
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