A faixa presidencial deve ser passada por Dilma
Essa ideia surgiu num grupo virtual, encampada por mim e muito outros, e com este artigo inauguramos uma campanha
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A faixa é um símbolo histórico e de poder. Nada mais que um símbolo e a sua história desde 1910.
“Se essa for a vontade de Deus, eu continuo [na Presidência]. Se não for, a gente passa aí a faixa, e vou me recolher. Porque, com a minha idade, eu não tenho mais nada a fazer aqui na Terra se acabar essa minha passagem pela política aqui em 31 de dezembro do corrente ano”, disse Bolsonaro numa entrevista em 12 de setembro.
Bolsonaro não tem palavra, portanto, não se pode confiar se vai ou não passar a faixa.
Para o Brasil e também para a sua imagem no exterior seria um marcante e alvissareiro gesto, porém, se assim não for, pode ser uma oportunidade para resgatarmos e corrigirmos simbolicamente a história, com um viés de justiça.
Foi noticiado na mídia, que o vice-presidente e senador eleito, gal. Hamilton Mourão, teria se colocado a disposição para passar a faixa. Como se não fosse cúmplice de todo o fascismo do governo que se finda, cuja diferença com o titular do cargo era a linguagem e postura menos tosca, demonstra como esse oferecimento ser um oportunista desleal e continua perigoso golpista.
Acho um desprestígio ao Lula e também uma ilegitimidade, visto que o Mourão não recebeu a faixa presidencial.
Seria uma dupla grosseria, com repercussões negativas e ainda empanaria a posse pela caricata solução.
Nesta altura já estou torcendo para o futuro presidiário se negar a passar a faixa, porque daria a oportunidade dessa liturgia ser transferida por quem recebeu do povo o mandato presidencial e foi impedida de mantê-lo por um golpe dos mais rudes, arquitetado e concretizado com o “Supremo, com tudo", como expôs o ex-senador Romero Jucá.
Ocorre que, segundo os bastidores, o Bolsonaro pode seguir os mesmos passos da Zambelli, e neste caso o Mourão estaria como presidente e passaria a faixa.
E o que fará a Justiça? Vai esperar sentada a fuga de um covarde? E quanto aos filhos, sem a proteção do papai zero à esquerda, respeitando as lei ou aprontarão até a prisão?
Dilma é a ex-presidenta do Brasil, cujo golpe sofrido, mudou o rumo da história do país, inaugurando uma sucessão escandalosa de golpismos, que estamos começando a encerrar com a vitória do Lula, numa frente das mais amplas da biografia política do país.
O atual presidente genocida é produto do golpe que foi a prisão do Lula. Portanto, tanto Dilma sofreu um impeachment ilegal como Lula sofreu uma prisão ilegal. Sem essas arbitrariedades não teria existido o governo Temer e o do Bolsonaro.
A história ensina que quando a impunidade perpetua, as sementes do autoritarismo continuam a germinar.
Quase 50 anos depois do golpe de 64 o mandato de João Goulart, Jango, já falecido, foi devolvido pelo Congresso, em 18/12/2013.
"A devolução do mandato presidencial de Jango, é uma decisão simbólica, porém, histórica. A devolução simbólica do mandato de Jango revela a força da nossa democracia e o compromisso do Estado brasileiro com a verdade e a memória", disse Dilma em seu Twitter no dia 11/12/2013, data inicial da cerimônia, que fora adiada para o dia 18, porque a família do Jango ficou impossibilitada de chegar a Brasília devido a fortíssima chuva que se abateu sobre o Rio de Janeiro, de onde a família embarcaria.
Com ou sem o presidente atual na cerimônia de posse, a faixa tem que passar pelas mãos da ex-presidenta Dilma Rousseff, pois será também uma simbólica correção histórica e de legitimidade política.
Dilma, com quem militei quando ela era Vanda e eu Túlio, sofreu provocações e agitações para dificultar a sua ascensão à presidência da República desde a sua vitória nas urnas, quando o derrotado fez de tudo para não reconhecer a vitória dela e jurou tornar o seu governo um inferno e vaticinou: "Ao final do seu governo, que eu não sei quando ocorrerá, talvez mais breve do que alguns imaginam, ...” E teve a oposição sistemática do presidente da Câmara, o famigerado Eduardo Cunha, preparador do golpe, que viria também pela traição mais ignóbil do seu próprio vice, Michael Temer.
Após criar a Comissão Nacional da Verdade, Dilma passou a ser alvo, mais uma vez, das Forças Armadas, que estiveram presentes no golpe de 64, de 2016, na prisão do Lula e na ascensão do genocida-canibal-pedófilo.
Durante um tempo não distante, pragmáticos sem princípios, queriam esconder a Dilma da campanha eleitoral, mas não se esconde quem a história bendiz por sua coerência e coragem.
Sabemos todos que o Estado brasileiro lhe deve mais que uma representação no exterior, todavia, por ora, passar a faixa já será um ato de amplo e profundo significado de redenção.
Essa ideia surgiu num grupo virtual, encampada por mim e muito outros, e com este artigo inauguramos uma campanha.
Ousar lutar, ousar vencer.
Francisco Celso Calmon
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