A façanha bolsonarista: salários do Brasil e preços de Dubai
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Acabo de retornar de uma viagem de uma semana a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Ainda que, em razão de meus vários anos de atividade profissional em comércio exterior, eu esteja acostumado a viajar com frequência ao exterior, somente havia estado por ali de passagem, em trânsito pelo aeroporto, rumo a outro destino. Até então, nunca tinha tido a oportunidade de caminhar pelas ruas de Dubai e sentir na prática como é a vida desta tão badalada cidade do Oriente Médio.
No entanto, por se tratar de uma viagem de caráter pessoal e com todos os gastos por minha própria conta, estava bastante apreensivo quanto aos preços das coisas que teria de adquirir para minha manutenção durante minha estadia. Como o dinheiro não me anda sobrando, fiz planos para não ultrapassar os parcos limites de que dispunha.
A primeira medida que tomei foi a escolha de um hotel que, embora de nível mediano, me oferecesse condições para cuidar de minha alimentação sem precisar recorrer ao serviço dos restaurantes locais, conhecidos mundialmente pelos elevados preços que praticam. Portanto, encontrar um local razoavelmente confortável no qual pudesse dispor, ao menos, de uma pequena geladeira para conservar os alimentos e uma chaleira que permitisse a preparação de café, chá, ovos cozidos, etc. seria essencial. E assim se deu.
O segundo passo seria a ida a supermercados da vizinhança para comprar aqueles itens indispensáveis para minha alimentação no período em que estaria na cidade. Felizmente, havia vários deles a poucos metros de distância e, consequentemente, não tive grandes problemas neste quesito. Porém, o que realmente me atemorizava era a perspectiva de que, mesmo apelando para esse esquema meio farofeiro, os preços dos artigos que necessitava adquirir viessem a causar um rombo no modesto orçamento reservado para minha aventura.
De fato, pude constatar que o custo de vida em Dubai é altíssimo. Tudo me pareceu sempre muito caro. No entanto, não sei se felizmente ou infelizmente, tive uma enorme surpresa em contraposição aos pressentimentos que nutria. Embora a média dos preços dos bens alimentícios nos supermercados do local estivesse acima do que eu estava acostumado a encontrar em outros lugares do mundo, me dei conta de que, ainda assim, no conjunto, estava pagando menos pelos produtos essenciais de que precisava do que me custaria para obtê-los em supermercados no Brasil.
Por incrível que possa parecer, naquela cidade tida como caríssima, erguida artificialmente no meio do deserto, sem quase nenhum recurso natural para a produção de alimentos, com a quase totalidade de seus bens de consumo sendo importados de outros países muito distantes, ainda assim, a média dos preços dos produtos básicos para a alimentação estava abaixo daquilo que encontramos no Brasil na atualidade.
É certo que esse detalhe, de por si, poderia não significar muita coisa. Que uma cidade ou país tenha artigos com preços mais ou menos elevados em relação a outras cidades não vai ser de grande relevância se não levarmos em conta também o nível médio de rendimento de seus habitantes. Por exemplo, Tóquio, no Japão, é sabidamente uma metrópole onde o custo de vida é dos mais altos do planeta. No entanto, como a renda média de sua população também é consideravelmente alta, o problema de arcar com os custos das despesas necessárias para o dia a dia de cada um não é tão significativo para aqueles que vivem por lá e recebem seus rendimentos dentro dos padrões japoneses. Claro que para um assalariado brasileiro de nível médio o peso de passar alguns dias fazendo turismo em Tóquio vai representar algo muito mais doloroso.
Mas, voltando a Dubai, o que me estarreceu foi a constatação de que, por mais exorbitantes que possam ser considerados, os preços dos bens de consumo da cesta básica alimentar por lá estão num patamar ainda abaixo do que ocorre no Brasil. Tendo em vista que o nível salarial do trabalhador brasileiro está entre os mais baixos da comunidade internacional e bem aquém do patamar em vigor em Dubai, podemos nos dar conta do grau de penúria pelo qual nossas massas trabalhadoras andam passando para conseguir sobreviver em nossas terras tupiniquins.
Só para que nossos leitores possam ter uma melhor ideia daquilo que estou tratando de transmitir, vou listar à continuação alguns dos preços que paguei por uma série de produtos em supermercados de Dubai. Depois, basta compará-los com os que estão sendo praticados no momento em supermercados brasileiros. Tenho certeza de que a surpresa não vai ser das mais agradáveis.
O que pode fazer com que os habitantes de um dos países com maior potencial para a produção de alimentos no mundo sejam obrigados a pagar preços equiparados, ou até mais elevados, que aqueles praticados num país situado em plena aridez do deserto, cuja terra é imensamente menos fértil do que as vastas planícies brasileiras? Logicamente, isto é assim não por uma questão de nenhuma maldição divina. A gente se recorda que nem sempre a coisa foi assim. A gente também sabe que tudo poderia ser diferente. A atual situação calamitosa vigente no Brasil se deve a uma política deliberada, posta em prática a partir do golpe de 2016 e reforçada pelo governo bolsonarista, de desindustrializar nosso país, colocar nossas riquezas naturais à disposição do imperialismo estadunidense, centrar fogo na produção de commodities para exportação e manter os salários dos trabalhadores no nível mais baixo possível.
Gostemos ou não da ideia, a possível saída para tamanho entrave está fundamentada na política. E quanto a definir a quem a reorientação política vai beneficiar, tudo vai depender do grau de conscientização e de engajamento que as maiorias populares venham a demonstrar em relação ao processo de lutas.
Em vista da terrível constatação de que, no Brasil, precisamos desembolsar mais dinheiro para comprar os itens básicos para nossa alimentação, comecei a cultivar a ideia de voltar a Dubai com várias sacolas para regressar de lá trazendo os produtos da cesta básica que me permitam aguentar o tranco por um período de ao menos um ano. Quem sabe a ideia de ser sacoleiro de alimentos de Dubai venha a se tornar moda, como acontecia até pouco tempo atrás com o Paraguai no caso de artigos eletrônicos?
Para facilitar a compreensão de nossos leitores quanto à questão em pauta, listamos à continuação alguns dos preços que tivemos de pagar por alguns dos principais produtos da cesta básica alimentar.
- Tomate 1kg = EAD 3,50 - R$ 8,64
- Kiwi 1 kg = EAD 6,75 - R$ 8,64
- Banana 1 kg = EAD 4,99 - R$ 6,38
- Melão amarelo 1 kg = EAD 4,76 - R$ 6,09
- Maçã verde 1 kg = EAD 4,95 - R$ 6,33
- Laranja valeciana 1 kg = EAD 3,28 - R$ 4,20
- Pote yogurte 1 kg = EAD 5,95 - R$ 7,61
- Flocos de milho Nestlé pct 1 kg = EAD 22,75 - R$ 29,12
- Leite em cx de 1 litro = EAD 3,86 - R$ 4,94
- Bandeja c/ 15 ovos vermelhos = EAD 10,50 - R$ 13,44
- Baguete francesa 250g = EAD 2,50 - R$ 3,20
- Batata 1 kg = EAD 2,90 - R$ 3,71
- Queijo chedar fatiado 200g = EAD 4,05 - R$ 5,18
- Salami bovino fatiado 200g = EAD 15,75 - R$ 20,16
- Lata feijão ao molho de tomate 400g = EAD 2,70 - R$ 3,45
Os preços em reais foram calculados levando em consideração a cotação do dia da compra de R$ 1,28 por dirham dos Emirados Árabes Unidos. As notas fiscais de compra dos citados produtos estão num anexo para conferência.
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