A extrema-direita veio para ficar
Para o sociólogo Emir Sader, a onda de apoio à candidatura de Jair Bolsonaro pode ser compreendida "a partir da reação de setores – especialmente da classe média e dos setores mais ricos da nossa sociedade – de forma muito negativa à promoção dos direitos para toda a massa da população", promovida pelos governos do PT; "Se na democracia cabem todos os setores, não é positivo que se incluam setores com o grau de intolerância que esse tipo de candidatura propaga, incompatíveis com a democracia", avalia
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A maior novidade política desta campanha eleitoral é a projeção de um candidato que tem posições de extrema-direita. Essas posições já foram defendidas por outros candidatos, mas eles não tinham maior apoio. Desta vez, embora seu nível de rejeição coloca muitas dificuldades para que seja eleito presidente do Brasil, o certo é que ele é um provável participante do segundo turno, com uma votação surpreendente.
Podemos compreender esse fenômeno a partir da reação de setores – especialmente da classe média e dos setores mais ricos da nossa sociedade – que reagiram muito negativamente à promoção dos direitos para toda a massa da população. A reação se expressou numa onda de ódio de classe, que instalou um clima de intolerância, de agressividade, de discriminação, que o Brasil nunca tinha conhecido.
Foi apoiado nesse ambiente que foi se constituindo uma ideologia com claros traços fascistas, expresso em novos movimentos e em lideranças políticas. O uso de métodos arbitrários para conseguir o fim político de ruptura da democracia, com o impeachment sem fundamento que derrubou uma presidente recém reeleita democraticamente pela maioria dos votos, validou a ação violenta desses grupos.
A candidatura do Bolsonaro representa eleitoralmente a força do extremismo de direita. Ele alia a promoção do uso indiscriminado de armas e da violência, a discriminação de gênero, de etnia, e de todo tipo de afirmação da superioridade do homem branco sobre os demais. Seu eleitorado está composto, no seu núcleo duro, por homens brancos, de mais idade, de nível alto de renda e evangélicos.
Em outros países, como os EUA, a Grã Bretanha, a França, os candidatos da ultra-direita tiveram sucesso porque, a esse ideário dogmático, incorporaram o tema do emprego, abandonado pela social democracia, com seu diagnóstico específico: a perda de empregos era devida à chegada dos imigrantes. Donald Trump diaboliza os mexicanos e conseguiu triunfar com voto de setores sindicalistas, que tradicionalmente votam no Partido Democrata.
O triunfo do Brexit na Grã Bretanha foi possível porque setores trabalhistas do interior do país, que se sentem abandonados pelos sindicatos, votaram a favor, na defesa do seu emprego, supostamente ameaçado pela chegada de imigrantes africanos, árabes e de outros países.
Aqui a candidatura do Bolsonaro reza pela cartilha do neoliberalismo, nem toca no tema do emprego, que está nas mãos dos candidatos de esquerda. Isto limita a possibilidade de o candidato da ultradireita ampliar os apoios sociais na direção de setores populares.
No entanto, os valores encarnados por esse tipo de candidatura ou o fato de que ele pode ser o último obstáculo para uma volta do PT ao governo fazem com que o grande empresariado aparentemente a prefira à candidatura do Fernando Haddad e, se derrotado Bolsonaro, setores mais militantes dessas posições possam eleger bancada expressiva de parlamentares e protagonizarem a principal oposição a um eventual novo governo do PT.
Se na democracia cabem todos os setores, não é positivo que se incluam a setores com o grau de intolerância que esse tipo de candidatura propaga, incompatíveis com a democracia. A ponto que o seu candidato exalta a ditadura militar, chega a dizer que o erro daquele regime foi não ter exterminado mais gente, assim como do próprio nazismo. O voto do candidato no impeachment em Dilma Rousseff, dedicando seu voto ao mais brutal torturador do regime de terror imposto pela ditadura, revela como se trata de posições que atentam contra a própria democracia.
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