A experiência de prestar um inusitado concurso na USP

Algo de desanimador paira no ar, quando a pressão pela inovação e criatividade implodem em choque com a morosidade e letargia do funcionamento da máquina universitária



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Que fique claro que o inusitado do título é adjetivo para minha condição pessoal de submissão ao certame, não às condições e procedimentos da Universidade, que seguem os dispositivos constitucionais e legais, além dos estabelecidos por normas internas.

No início de julho, depois de sete anos sob a égide da USP, prestamos concursos para ingresso na carreira docente desta universidade. Para mim, há um quê de estranheza, uma vez que vim para Lorena prestando concurso para entrar na extinta Faenquil (Faculdade de Engenharia Química de Lorena), estadualizada em 1991, nos mesmos moldes exigidos para a universidade pública.

Aquele concurso foi considerado irregular alguns anos depois e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) decretou que aceitaria se tratar de um processo seletivo para ocupar vagas na ainda mais extinta FTI (Fundação de Tecnologia Industrial), antecessora da Faenquil.

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Mas o que saiu publicado no Diário Oficial de outrora era explícito em convocar inscrições para um concurso público e minha boa fé de nada adiantou.

Recentemente, houve busca jurídica para permitir a continuidade do Diretor à frente da administração da Instituição (desde a incorporação da Faenquil à USP), mesmo aposentado compulsoriamente devido a seus mais de 71 anos de idade. No entanto, o mesmo empenho não foi sequer cogitado para um eventual aproveitamento dos concursos realizados anteriormente.

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Os concursos para a USP chegam muito atrasados. Sete anos contados da entrada na USP, 15 anos contados daquela decisão do TCE e mais de 20 da época da estadualização, quando já se tinha certo como destino da instituição a entrada de todos os docentes na carreira universitária.

Houve dúvida quanto à constituição das bancas examinadoras, uma vez que nós, como docentes pertencentes a um quadro em extinção, lotado na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, atuamos regularmente em bancas de concurso de outras universidades e mesmo na USP. Poderíamos atuar nessas bancas de agora? Somos doutores e livre-docentes como quaisquer outros colegas. A USP nos deu a prerrogativa da equivalência funcional, de forma incompleta desde outubro de 2006 quando assinamos o termo de anuência para prestar serviços à Universidade e, de forma plena, em 2009, quando da aprovação do Regimento da Escola de Engenharia – Resolução 5515/2009 – pelo Conselho Universitário. Mantivemos as quatro comissões tradicionais (Pesquisa, Graduação, Pós-Graduação e Cultura e Extensão), a Congregação, CTA e a composição dos Departamentos, de onde saíram as solicitações de contratações, elaboração dos editais para os concursos e propostas das bancas examinadoras.

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A questão de fundo é se estaríamos "advogando em causa própria". Após consultas jurídicas, houve pleno esclarecimento que não, pois todas as prerrogativas legais estavam sendo seguidas. Pode causar estranheza que um docente preste um concurso tendo um colega não concursado na banca e, depois, venha a presidir a banca em que aquele colega é, agora, candidato. A situação toda é inusitada: somos docentes celetistas, mas com todas as obrigações funcionais de um docente de carreira da USP, à exceção única da submissão às regras e controle da CERT, por decisão dessa comissão.

Nesse contexto, preparei meu memorial em março deste ano, utilizando uma estratégia que não foi bem aceita pela banca que o avaliou. Coloquei aquilo que entendia ser o mais importante – as publicações em revistas internacionais, que sequer foram questionadas –, com citações ao que executei ao longo da carreira de quase vinte anos, uma vez que não se tratava de concurso para Livre-Docente ou Professor Titular. Não foi displicência e, sim, uma estratégia equivocada. Mesmo assim, obtive média perto de 8,5, ficando com o segundo lugar das quatro vagas em disputa.

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Aprendi que o ideal é incluir comentários em cada atividade, não apenas apresentar uma lista, como visto e realizado em outras situações. E no texto introdutório deixar mencionado que os comentários sobre cada atividade citada estão juntos à lista apresentada.

Segundo um dos avaliadores, faltou apresentar uma visão menos econômica de minha atuação na Graduação, como a assimilação de alunos em projetos de ensino e pesquisa e o estabelecimento de uma disciplina nova, a Química Bioinorgânica, na grade do curso de Engenharia Bioquímica, o primeiro desse gênero no Brasil.

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Verifiquei junto a outros participantes que uma estratégia é preparar os temas do concurso, tanto na forma de aulas como na de escrita, como treino e ganho de tempo. Não fiz nem uma nem outra coisa, confiando na distensão e relaxamento prévios ao certame e focar na elaboração após os devidos sorteios.

É importante observar que as notas dos cinco membros da banca examinadora foram coerentes entre si, com baixa dispersão. É inegável a satisfação pessoal de obter notas parelhas e até acima das atribuídas a candidatos mais experientes e atuantes nas disciplinas objeto do concurso.

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Tramita a homologação do resultado do concurso e, em breve, como dezenas de outros colegas docentes, terei a opção pela decisão do futuro profissional.

As mudanças na Universidade são lentas, porém constantes. Algo de desanimador paira no ar, quando a pressão pela inovação e criatividade implodem em choque com a morosidade e letargia do funcionamento da máquina universitária. Ter a opção de ingresso na carreira docente da USP é muito prazeroso. Temos a oportunidade, talvez única, de ter acompanhado de dentro todo o processo de incorporação de uma estrutura de faculdade isolada à USP, com todos os percalços, vitórias e frustrações. A manutenção do modus operandi das questões financeiras avaliadas no artigo anterior ("Aprimorar a legislação das licitações", Jornal da USP, edição 994, de 15 a 21 de abril de 2013, página 2) é um forte balizador da opção a ser feita.

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