A estratégia chinesa para infraestrutura internacional

No que tange às relações mundiais de comércio, o que hoje envolve praticamente toda a cadeia de relações econômicas entre países, inclusive aí a compra e venda de ações e títulos da dívida pública, a China traça para seu projeto de crescimento internacional uma estratégia diametralmente oposta àquela dos EUA, Japão e das grandes potências da UE



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No que tange às relações mundiais de comércio, o que hoje envolve praticamente toda a cadeia de relações econômicas entre países, inclusive aí a compra e venda de ações e títulos da dívida pública, a China traça para seu projeto de crescimento internacional uma estratégia diametralmente oposta àquela dos Estados Unidos, Japão e das grandes potências da União Europeia. Apostando em suas iniciativas de crescimento internacional compartilhado, a potência do leste quer desenvolver-se fomentando desenvolvimento em outros países.

Para cumprir com tal estratégia, é fundamental o papel de suas estatais, como a PowerChina, equivalente à Eletrobrás no Brasil, e a China Nacional Petroleum Corporation (CNPC), estatal do petróleo chinesa. Ambas mantêm investimentos espalhados por todo o mundo, obtendo lucros, sim, mas atuando estrategicamente para atender aos interesses do Estado e do país, por consequência. Exemplo disso são seus pontos de investimento, alem da relação que mantém com os países parceiros e o retorno aos mesmos.

No Brasil, por exemplo, a China assumiu dois trabalhos de difícil execução no início da década, ainda sob o Governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT, 2011-2016). Na Floresta Amazônica, a PowerChina investe na fixação das linhas de transmissão de energia Xingu-Terminal Rio, que vai transmitir mais ou menos 800 kv ao longo de 780 km pela Amazônia a partir da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, chegando também ao Rio de Janeiro.

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Assim, mantém-se a soberania energética do Brasil e soluciona-se problemas de transmissão de energia numa das áreas mais difíceis, em todo o mundo, para o estabelecimento de infraestrutura (vide a Transamazônica e a ferrovia Madeira-Mamoré). Tal investimento resultará na quarta maior linha de transmissão do mundo, a maior da América Latina. Igualmente, num dos mais caros investimentos em linhas de transmissão em todo o mundo, totalizando R$ 5,2 bilhões no início do projeto.

Outra iniciativa importante é a concessão de poços do pré-sal em Libra, ainda fruto do programa de concessões de Dilma. A cessão das áreas mais custosas da exploração do pré-sal, planejadas pelo Governo do PT para obter ganhos em impostos sobre os investimentos mais arriscados da camada submarina descoberta no Governo Lula (PT, 2003-2010), tinha o objetivo de deixar às empresas privadas e estatais estrangeiras os custos da exploração inicial e, havendo bom retorno, voltarem às mãos do Estado brasileiro ao fim do período de outorga.

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Na ocasião, em 2013, o leilão do poços de Libra sofreu ameaça de boicote pelas grandes companhias do setor, visto não ter sido considerado vantajoso para os ganhos das petroleiras (o lobby de guerras no Oriente Médio, aparentemente, foi). Por conta disso, a China entrou com imenso aporte financeiro e hoje é exploradora fundamental dos poços de Libra, através da CNPC. Ali estão alguns dos poucos poços que, frutos da outorga a longo prazo de Dilma Rousseff, ainda podem retornar sem traumas às mãos do Estado brasileiro. Os demais, só à moda Evo Morales: nacionalização com apoio militar; ou, no longo prazo, a compra de volta, que de qualquer forma resultaria em prejuízo. Se, na época, a cessão foi criticada, hoje a entrega indiscriminada do pré-sal pelos regimes ilegítimos do golpe de 2016 e das fraudes jurídicas e eleitorais de 2018 mostra o quão foi acertada a política estratégica para o petróleo implementada pelo Governo do PT.

Apenas a título de exemplo, os dois casos de investimentos mostram o quanto a China está disposta a jogar o jogo do desenvolvimento planejado pelos próprios países parceiros, estudando a viabiliddade econômica de seus investimentos, claro, mas respeitando os interesses das políticas comerciais dos demais países. O plano de futuro compartilhado, tão reiterado nos fóruns econômicos liderados pelo gigante asiático, segue esta toada, que inclui a compra do petróleo venezuelano e iraniano, por exemplo, embargados pelos Estados Unidos, o provimento de serviços na bloqueada Cuba, além de projetos de infraestrutura na África, continente que esteve por décadas carente de atenção pelas grandes empresas de infraestrutura de capital privado.

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Tem-se, daí, conclusões fundamentais quanto à importância de, primeiro, um novo projeto global de solidariedade entre os países, que não passe pela exploração inescrupulosa das riquezas de outras nações e pela opressão colonialista de seus povos. Segundo, a relevância estratégica das empresas estatais para atenção aos interesses do Estado e de suas relações internacionais, em favor do próprio e de outros países.

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