A esquerda será capaz de se recriar?
Não há partido ou liderança que seja o guardião único do mapa e das armas que nos levarão a uma sociedade pautada pela democracia popular e pela justiça social
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O jornalista Nicholas Carr, autor do livro "A Geração Superficial: o Que a Internet Está Fazendo Com Os Nossos Cérebro", escreveu um artigo publicado na revista "The Atlantic" o qual denominou "Porque Google está nos tornando estúpidos?".
Bem, Carr afirma que o uso irrefletido da internet das redes sociais está modificando o nosso processo cognitivo e que vem sendo criada uma dependência indesejada às informações disponíveis na rede, especialmente no Google.
Esse fato seria, segundo o jornalista norte-americano, causador de ansiedade sem precedentes. Nessa quadra está, por exemplo, o que ele chama de "ansiedade social". Por exemplo, ao criar e manter perfis em sites de relacionamento, bem como a observar e acompanhar outros perfis a tensão, inquietude e ansiedade seguem um caminho corrosivo à humanidade, tal qual a compreendemos.
É certo que não tenho formação para concluir "pelo sim" ou "pelo não", mas creio que a web está comprometendo a nossa capacidade criativa, a nossa concentração e reflexão, sem contar com o fim da privacidade.
Fato é que com a cognição comprometida, em razão da ausência de reflexão (essa sufocada pelo excesso de informações que o Google disponibiliza), acabamos todos reféns da lógica do consumo.
Feita essa introdução compartilho com o generoso leitor a seguinte questão: estará Slavoj Zizek certo ao dizer que a maior vitima da ultima grande crise capitalista é a própria esquerda, na medida em que tem se mostrado incapaz de apresentar alternativas para além da denuncia e da retórica?
À crise iniciada em 2008 quais alternativas a esquerda apresentou? Nenhuma, tanto que, diferentemente da crise de 1929, que originou o chamado Estado de bem-estar social e maior intervenção estatal na economia, o desastre financeiro de 2008 foi sucedido pelo reaparecimento de um populismo de direita - seja na figura de Donald Trump nos EUA, de Marine Le Pen na França ou no plebiscito de saída do Reino Unido da União Europeia, baseado numa retórica nacionalista, antimigração e antielitista e por aqui figuras como Jair Bolsonaro e João Dória Junior ganharam força.
Estaria a esquerda em crise?
Mas, qual a relação da questão da web e do Google com a crise da esquerda (se a resposta anterior por positiva)?
Esse é o ponto.
As lideranças de esquerda e a militância estão "tempo demais" na web e "tempo de menos" enfrentando o mundo real e o grande desafio para os próximos anos é estimular o pensamento critico, produzir analises e debates o que haverá de contribuir para a construção de "... uma nova frente política e enfrentar o regime autoritário que se configura e a nova forma de espoliação...", como escreveu Silvio Caccia Bava recentemente.
Não se transforma o mundo pelo facebook, ou no Instagran e os conteúdos necessários à compreensão, reflexão e superação dessa crise da esquerda não será encontrada no Google.
Lula mostrado isso a todos o que fazer. Ele tem cumprido um papel heroico, as caravanas tem sido essencial à reflexão sobre a realidade a toda a militância; tem feito que lembremos qual o nosso papel na sociedade.
Contudo, a crise existencial da esquerda não se resolverá nem com a vitória de Lula em 2018, pois as lideranças que se apresentam à esquerda foram, a meu juízo, cooptadas pelas elites e pela política tradicional, é necessária uma renovação no nosso campo.
O que fazer?
Bem, as lutas imediatas são: (a) a participação de Lula nas eleições e, (b) sua vitória, mas a grande batalha envolve uma reforma política, pois as regras atuais "permitem às elites controlar e reprimir as maiorias.", como escreveu Silvio Caccio Bava e isso não pode continuar assim.
Há ainda a necessidade de a esquerda levar mais a sério as frentes ('Frente Brasil Popular' e 'Povo Sem medo') e ampliar esses espaços convidando mais gente, os democratas de centro, independentemente de seus partidos.
Parcela da esquerda, ou que se apresentam como tal, é adepta de um hegemonismo de viés patológico.
Não há partido ou liderança que seja o guardião único do mapa e das armas que nos levarão a uma sociedade pautada pela democracia popular e pela justiça social; quem pensa assim é um estúpido e nega a democracia popular e a dialética; quem pensa assim tem comportamento que revela soberba e um viés autoritário; quem age assim é um estúpido da mesma cepa daqueles fanáticos que ignoram a verdade e afirmam suas convicções.
Pedro Benedito Maciel Neto, 54, advogado, sócio da MACIEL NETO ADVOCACIA – pedromaciel@macielneto.adv.br
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