A esquerda e o combate à corrupção
Combater a corrupção separando a luta genuína de um indesejado moralismo lacerdista é fundamental. E só a esquerda pode fazer isso. O papel estratégico de enfrentar as estruturas conservadoras que se apropriam de uma bandeira da esquerda é da sociedade e de cada um de nós; cabe também aos partidos políticos, à mídia não corporativa, à imprensa livre, aos intelectuais, estudantes e às centrais sindicais
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Na véspera da decisão que pode selar a sorte do senador do Leblon é possível e necessária uma reflexão sobre o combate à corrupção.
Bem, o desejo de combate à corrupção é genuíno, válido e legitimo, mas transformou-se na principal ou única agenda nacional, em torno da qual tudo gravita desde 2015.
Mas será que o combate à corrupção é a principal ação institucional?
E o combate à miséria?
E o permanente cuidado com a política macroeconômica (desemprego, inflação, etc.)?
E os necessários investimentos em infraestrutura?
E as políticas públicas no campo da educação, da saúde e da cultura?
Evidentemente que o combate à corrupção não é agenda de Estado, é tarefa das polícias, do ministério público, do judiciário e dos órgãos internos e externos de controle da administração pública, tanto que no pós-golpe os lacaios da plutocracia dedicam-se a aprovar reformas que atendem os interesses do mercado e não da população.
Penso que o combate à corrupção é necessário, mas não é uma agenda propriamente dita, por isso não se deve suspender os programas e projetos de Estado ou de governo por conta disso, pois o combate à corrupção deve estar contido nas ações cidadãs, nas ações de Estado e de todas as estruturas e instituições publicas e privadas do País e nossa posição individual em relação à corrupção deve ser denunciar, combater os efeitos e eliminar as causas.
Para o que se faz necessário entender as raízes da corrupção. Sem essa reflexão não me parece válido debater o tema, aliás, sem debate sobre as causas estaremos empunhando apenas a bandeira da hipocrisia.
É curioso registrar que o combate à corrupção nunca foi bandeira dos setores conservadores, salvo episodicamente e de forma oportunista e distorcida.
Não se pode esquecer que há uma contradição lógica entre os valores do sistema liberal (onde o que vigora são os interesses individuais e imediatos) e um sistema que respeite os Direitos Humanos que se contrapõe ao sistema capitalista liberal colocando no centro de preocupação e ação o coletivo e os interesses nacionais de longo prazo, o interesse coletivo e social.
Os conservadores são tão estúpidos que chegam a afirmar que defender eleições diretas como solução da crise de legitimidade é um golpe...
Por isso e muito mais os setores progressistas devem ser protagonistas de qualquer movimento de combate à corrupção, sem hipocrisia, cortando na própria carne se necessário. Acredito que pelo fato de a esquerda ter alguns de seus quadros envolvidos em denuncias, comprovadas ou não, acaba se colocando na defensiva no tema, o que é um erro tático que pode comprometer um projeto justo de aperfeiçoamento da sociedade.
Repito: temos que denunciar combater os efeitos e eliminar as causas.
É fundamental que o combate à corrupção volte a ser uma bandeira dos setores progressistas, dos partidos políticos, dos intelectuais, dos estudantes e das centrais sindicais, etc., da sociedade e não panfleto "moralista" usado pelos herdeiros da velha UDN, sucedida pela ARENA, pelo PDS, PFL, PSDB, DEM, PP, PSD, etc.
Combater a corrupção separando a luta genuína de um indesejado moralismo lacerdista é fundamental. E só a esquerda pode fazer isso.
O papel estratégico de enfrentar as estruturas conservadoras que se apropriam de uma bandeira da esquerda é da sociedade e de cada um de nós; cabe também aos partidos políticos, à mídia não corporativa, à imprensa livre, aos intelectuais, estudantes e às centrais sindicais.
A esquerda não deve temer o debate sobre o tema, mas sim mostrar, de forma clara, sua posição sobre o tema e agir com o rigor próprio dos progressistas e democratas.
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