A emergência da luta contra a fome e a carestia cresce no país

"Resta saber se a esquerda – partidária e social – atuará de forma diligente para impulsionar um amplo movimento", escreve Milton Alves

(Foto: Davis Sena Filho)


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O clima natalino toma conta dos sentimentos das pessoas e das famílias que planejam encontros e viagens na transição para o novo ano que se aproxima. Enquanto isso, milhões de brasileiros estão mergulhados no desespero da fome e da indigência, são famílias do andar de baixo da sociedade, jogadas na zona da exclusão social, após as sucessivas políticas de destruição de direitos sociais e da aplicação da barbárie neoliberal — agravadas durante a pandemia e pela nefasta política econômica do governo bolsonarista.

Nos últimos dias, diversas organizações e movimentos sociais urbanos realizaram mobilizações exigindo políticas públicas e ações imediatas para minorar o flagelo da fome e a escalada da insegurança alimentar, que atingem com maior intensidade a população mais pobre das periferias das capitais e regiões metropolitanas — um cenário dramático.

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E tudo indica que tende a ganhar corpo nas próximas semanas os protestos que demandam comida, fim da carestia e empregos. Uma série de ações como marchas e atos aconteceram nesta terça-feira (21) em diversos bairros da periferia e da região central da cidade de São Paulo: concentrações foram realizados no Butantã, nas favelas de Heliópolis e Paraisópolis, nas regiões de São Mateus, Grajaú, Capão Redondo, Jardim Caraguatá, Vila Prudente, Tucuruvi, Sapopemba, Cidade Ademar, Brasilândia e no centro velho da capital, nas cercanias da Bolsa de Valores.

Na semana passada, em nove capitais – Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo – ocorreram “ocupações simbólicas” de supermercados, com os manifestantes reivindicando cestas básicas e políticas públicas contra a fome.

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O aumento generalizado dos preços dos alimentos da cesta básica, do aluguel, do botijão de gás, dos combustíveis e das tarifas de energia tem penalizado as camadas mais empobrecidas da população. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta quinta-feira (23), que a inflação oficial deve encerrar o ano em seu maior patamar desde 2015, atingindo um índice acima de 10%.

Além disso, o desemprego continua muito alto, cerca de 14 milhões de trabalhadores, e a fome castiga diariamente 20 milhões de brasileiros, são questões cruciais que demonstram na ponta o resultado final da política econômica do governo Bolsonaro.

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Segundo o dirigente da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, “o drama do desemprego e da fome é de tal magnitude que não bastam palavras de ordem, do tipo Natal sem fome, pois milhões de pessoas passarão fome neste Natal. Por isso, faremos as marchas por emprego, contra a carestia e a fome. Mostraremos que há comida nos supermercados, mas o que falta é emprego e dinheiro para comprá-la”. Novas ações da CMP estão programadas para 2022, informou Bonfim.

O desemprego, a fome e a carestia serão, obrigatoriamente, temas da agenda da disputa presidencial de 2022, demandando dos postulantes à presidência da República propostas concretas para enfrentar os resultados da política neoliberal de exclusão social e recolonização do Brasil.

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Para além dos sinuosos arranjos eleitorais de Lula e das tramas políticas da Faria Lima, incansável na busca de uma quimérica terceira via, o sopro desesperado da barriga vazia da população empobrecida pode sacudir o processo eleitoral e provocar ações mais vigorosas para garantir o seu direito à vida.

Resta saber se a esquerda – partidária e social – atuará de forma diligente para impulsionar um amplo movimento, canalizando os protestos para uma saída que derrote ao mesmo tempo o governo esfomeador de Bolsonaro e os projetos neoliberais dos candidatos da terceira via — defensores da continuidade da atual política econômica de exclusão social e de destruição do país.

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