A elite prefere ser pária global a ser protagonista pelas mãos de um ex-operário nordestino
A imprensa progressista não hesitará em criticar Lula, sempre que motivo houver, mas enxerga nele a probabilidade de avanços civilizatórios
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Lula não está blindado pelos veículos de imprensa progressistas. Conhecendo os jornalistas que os integram, pode-se afirmar sem chance de errar que equívocos do presidente serão apontados, que desvios do seu governo serão denunciados, que resultados serão cobrados. A forma como tem lidado com a Câmara de Arthur Lira, por exemplo, não agrada a este colunista, apesar das enormes dificuldades perante uma casa majoritariamente reacionária.
Por ora, contudo, em regra o que se vê é um governo que busca trazer o Brasil para o rol das nações civilizadas. Não se pode esquecer de que até sete meses atrás o presidente brasileiro negava a eficácia de vacinas, duvidava de urnas eletrônicas, enaltecia torturadores, insultava mulheres e todas as minorias, estimulava o desmatamento e tantos outros horrores.
O potencial econômico do Brasil e sua natural liderança na área ambiental estão novamente sendo exibidos ao mundo. Lula tem vez e voz no palco internacional.
A imprensa tradicional, por sua vez, acusa o presidente de apregoar valores ultrapassados, como igualdade e justiça social, de querer baixar os juros em nome do desenvolvimento econômico - olhem só! - e de outras coisas só defendidas por esquerdistas. Em nítido surto de um rodrigueano complexo de vira-latas, acusa-o de megalomania.
Quando recebeu solenemente Nicolas Maduro, gesto talvez exagerado, Lula viu os jornalões anunciarem seu isolamento peremptório no cenário global. As visitas, as reuniões e os discursos do presidente brasileiro na Europa, semana passada, mostram o quanto essa imprensa descola-se da realidade e erra feio nas apostas.
O problema real é o de sempre: a elite brasileira, representada pelos jornalões e emissoras familiares, prefere ser pária global a ser protagonista pelas mãos de um ex-operário nordestino. O preconceito explica tudo.
Um conhecido deste colunista foi embora do Brasil em março. O idiota fugiu de Lula, foi respirar os ares “sem corrupção” da França. Imagina-se a expressão do sujeito, um desinformado, ao dar de cara com o barbudo discursando para uma multidão aos pés da Torre Eiffel. Com expressão de “como assim?” deve ter recebido a notícia de que a S&P elevou o rating brasileiro. Católico que odeia pobre, certamente sentiu saudades do anticomunista Karol Wojtyla ao ver Jorge Bergoglio congratular-se com o político que saiu da cadeia para subir rampa do Planalto ao lado de índios, pretos e outras gentes.
A imprensa progressista não hesitará em criticar Lula, sempre que motivo houver, mas enxerga nele a probabilidade de avanços civilizatórios. Já a outra imprensa, dita tradicional, prefere comportar-se como meu conhecido que foi embora do Brasil, ainda que neste solo permaneça.
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