A elite nunca incluiu o povo no Brasil
"Retirar Lula da campanha presidencial, depois de ter retirado a presidente eleita e legítima Dilma Rousseff, é mais uma demonstração desse processo histórico pelo qual a elite desconhece o povo e sua representação nos destinos do País", avalia o jornalista Aquiles Lins, editor do 247, sobre a decisão do TSE; "Só a manifestação nas ruas, cada vez mais forte, fará o povo impor de fato o poder que emana dele. Às ruas, por Lula"
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Na noite dessa sexta-feira, 31, seis juízes decidiram que o maior líder popular que o Brasil já produziu em sua história deveria ser cassado. E assim o fizeram, à revelia das leis nacionais e dos tratados internacionais que deram ingresso ao Brasil ao mundo civilizado. Retirar a candidatura a presidente de Luiz Inácio Lula da Silva foi uma decisão das elites, da oligarquia que sempre governou o País. Os juízes foram capitães-do-mato.
Não há novidade nesta violência. Desde que aqui desembarcaram os portugueses, as elites nunca incluíram o povo em seus projetos. Na Colônia, índios, negros e mestiços tiveram sua humanidade negligenciada por séculos.
A escravidão enquanto negócio perdurou por longos 300 anos no Brasil e só chegou ao fim por pressões externas como a da Inglaterra. Ainda assim, levou 38 anos entre o Brasil proibir o tráfico de escravos e abolir a escravidão, em 1888. O deputado Bernardo Pereira de Vasconcelos, uma espécie de tataravô político de Jair Bolsonaro, disse num debate parlamentar em 1826 que "a presunção é que um homem de cor preta é sempre escravo". Algo atualizado como todo homem preto é ladrão.
Quem melhor descreveu este período nefasto para a História do Brasil foi Joaquim Nabuco, para quem, segundo Evaldo Cabral de Mello, a escravidão não era “um fenômeno a mais”, mas sim "a variante sociológica mais abrangente", "aquela que ilumina mais poderosamente o nosso passado". Nas últimas páginas de “O Abolicionismo”, sua obra clássica, Joaquim Nabuco proclama a necessidade de uma reforma "de nós mesmos, do nosso caráter, do nosso patriotismo, do nosso sentimento de responsabilidade cívica" como o único meio de suprimir efetivamente a escravidão da constituição social do país. 135 anos depois, a necessidade ainda existe.
No primeiro ensaio que o Brasil fez na direção de uma República, o povo não foi convidado. O golpe militar que empossou o marechal Deodoro da Fonseca como o primeiro presidente brasileiro, em 1889, foi assistido por um povo atônito, surpreso, sem entender o que se passava. O povo foi literalmente ignorado, no sentido do não conhecimento, pela Primeira República. As elites governantes só tomaram a dimensão da miséria e exclusão que a imensa maioria da então população brasileira se encontrava durante as revoltas que explodiram no País.
A mais conhecida foi a de Canudos, na Bahia (1893- 1897), protagonizada por um povo que absolutamente não sabia o que era essa tal de República, que defendia a monarquia e a volta de Dom Sebastião. Seus defensores, incluindo seu líder, Antônio Conselheiro, foram massacrados pela República. A narrativa de Euclides da Cunha em “Os Sertões” foi uma contribuição importante para mostrar às elites as entranhas do País e obriga-las a se reconhecerem como parte de um país mestiço.
Foram esporádicos os momentos em que o povo recebeu atenção do Estado para a solução de seus problemas e a promoção do seu bem-estar. Os que se aventuraram nesta empreitada pagaram caro, como nos mostra a história de Getúlio Vargas, e como nos está sendo mostrada a perseguição a Luiz Inácio Lula da Silva.
Retirar Lula da campanha presidencial, depois de ter retirado a presidente eleita e legítima Dilma Rousseff, é mais uma demonstração desse processo histórico pelo qual a elite desconhece o povo e sua representação nos destinos do País. Só a manifestação nas ruas, cada vez mais fortes, fará o povo impor de fato o poder que emana dele.
Às ruas, por Lula.
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