A eleição que pode ser decidida pela homofobia
'Aumentaram as manifestações de militantes de esquerda nas redes sociais, que abandonaram a neutralidade e irão apoiar Leite', diz o colunista Moisés Mendes
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Por Moisés Mendes, para o 247
Sempre disseram que João Doria era um bolsonarista enrustido, até se autoproclamar como Bolsodoria em 2018. Falavam o mesmo de Eduardo Leite. Mas os dois foram oportunistas, e não bolsonaristas.
Não tinham histórico de bolsonarista, nem jeito e nem vocação para bolsonarista. Na eleição de quatro anos atrás, jogaram-se nos braços de Bolsonaro, mesmo que não percebessem reciprocidade.
Elegeram-se, por orientação de pesquisas e de marqueteiros, como se fossem aliados de Bolsonaro.
Leite foi mais longe e juntou líderes e quadros da extrema direita para se eleger e para governar. Na pandemia, tiveram a chance de saltar fora.
Doria virou o calça apertada, na definição de Bolsonaro, e ficou pelo caminho como presidenciável.
Eduardo Leite, que irritou o bolsonarismo com suas medidas protetivas contra a Covid, é agora o gay atacado por Onyx Lorenzoni, o adversário ao governo do Estado que diz oferecer aos gaúchos a chance de terem uma “primeira-dama de verdade”.
Quando ainda estava no armário, Leite cortejou o mesmo contingente organizado e declaradamente homofóbico e racista. Fora do armário, virou inimigo e passa a ser atacado por ser gay.
É esse o nível da campanha no Rio Grande do Sul, onde Daniel Krieger, Tarso Dutra, Sinval Guazzelli e outros líderes da direita mantinham, durante a ditadura – antes mesmo da abertura –, para consumo externo, relações de cordialidade com os adversários.
O fascismo passou a dominar as zonas de imigração europeia do Estado e agora sustenta eleitoralmente condutas radicais inimagináveis.
Leite é atacado no que Onyx considera seu ponto fraco: tem um namorado, e não uma esposa que possa apresentar como primeira-dama.
A política gaúcha, tão exaltada no século 20 como modelo a toda Terra, brinca de casinha. A escola de Damares Alves infiltrou um falso debate sobre costumes e fundamentalismo religioso num Estado de tradicionalismos e heroísmos fanfarrões.
Onyx induz os gaúchos de bota e bombacha a rejeitarem o político que não tem uma prenda para apresentar aos visitantes.
Uma patroa a serviço do marido patrão, como manda a hierarquia dos Centros de Tradições Gaúchas, há muito tempo transformados em redutos de reacionarismo e machismo militarista. Uma ajudadora, na definição de Michelle Bolsonaro.
Para que sua performance de macho seja irretocável, nessa sexta-feira Onyx aperfeiçoou o perfil. Depois de um debate na Rádio Gaúcha, Leite estendeu-lhe a mão para a despedida.
Onyx negou-lhe o cumprimento. O aperto de mão, tão caro à política e à diplomacia, que ganha importância quanto praticado por contrários, é um gesto cantado em prosa e verso pelos gaúchos.
Por que Onyx negou-se a pegar a mão de Eduardo Leite, se essa não é uma afronta comum na política do Estado?
Leite teve o aperto de mão negado por ser gay? É uma pergunta inevitável.
Desde quinta-feira, houve um aumento nas manifestações de militantes de esquerda nas redes sociais, que abandonaram a neutralidade e irão apoiar Leite.
A homofobia pode ajudar a decidir, para qualquer lado, o segundo turno no Rio Grande do Sul.
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