A eleição e o período de derrota popular
"A eleição municipal de 2020 fortaleceu a oligarquia que executa a agenda destrutiva em curso no país", diz o colunista Jeferson Miola. "A tarefa prioritária das direções partidárias e dos movimentos progressistas é juntar-se numa Mesa Política comum para decifrar a mecânica do atual período e colocar em prática, urgentemente, uma atuação unitária
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1. É preciso ir além da conjuntura eleitoral e emoldurar a análise da eleição municipal dentro deste que é um período histórico de profunda e brutal derrota popular no Brasil. A análise periodizada é uma chave para se apreender os elementos estruturais que contribuíram para mais um episódio eleitoral desfavorável à esquerda e ao campo progressista.
2. Este período histórico se caracteriza pela derrota não só do campo progressista e popular, mas da democracia e do Estado de Direito. Esta derrota se iniciou no processo coordenado de desestabilização dos governos petistas e de conturbação do ambiente político a partir de 2012/2013, quando houve o julgamento midiático do chamado “mensalão” [2012] pelo STF e, na sequência, as “jornadas de junho” [2013] incensadas pela Globo.
O lançamento da Lava Jato [2014], o impeachment fraudulento da Dilma [2016] e a condenação e prisão ilegais do Lula [2018] ditaram de modo irreversível o avanço autoritário e conservador no país.
Hoje não há democracia efetiva no Brasil. O sistema de justiça foi metodicamente corrompido por dentro por agentes inescrupulosos a serviço de interesses estrangeiros, antinacionais e, naturalmente, também partidários e pessoais.
Segue vigente um regime de Exceção no qual as instituições legislativas, políticas e judiciais “funcionam normalmente”, sob tutela militar, e atendem a diretrizes de reprodução endógena da ordem fascista numa dinâmica de golpe continuado; de golpe dentro do golpe.
A omissão do TSE em relação à fraude eleitoral que elegeu Bolsonaro e Mourão; a conivência do Congresso com os crimes do Bolsonaro; a blindagem do clã miliciano e a letargia do STF acerca da suspeição do Sérgio Moro, são algumas das evidências mais vistosas deste regime.
3. Profundamente frustrada com a derrota do tucano Aécio Neves em 2014, no pleito de 2016 a oligarquia mobilizou sua artilharia de guerra [Lava Jato + aceleração do impeachment] para combater o PT e a esquerda. Com a missão cumprida, avançou perpetrando novas fraudes e ilegalidades – como a prisão do Lula 2 anos depois – para colocar em marcha o plano de tomada de poder, finalmente concretizado com Bolsonaro por meio da farsa eleitoral de 2018.
O gangsterismo político surtiu efeito. A votação do PT em 2016 despencou de 17,2 milhões de votos obtidos em 2012, para 6,7 milhões. De 630 prefeituras conquistadas pelo Partido em 2012, o PT baixou para menos da metade [255] em 2016. E agora, no 1º turno de 2020, o PT reduziu em 32% o número de cidades que passará a administrar [174], em que pese ter aumentado em cerca de 200 mil votos a votação na legenda em relação a 2016.
Os partidos de centro-esquerda [PDT, PSB e REDE], que em 2016 ficaram imunes ao tsunami, nesta eleição de 2020, contudo, sofreram o efeito tardio, e perderam 1/3 dos votos feitos em 2016 [quadro], respondendo pela maior derrota eleitoral específica no campo progressista.
O deslocamento de bases progressistas para a direita tradicional e, inclusive, para a extrema-direita, teve seu ápice na eleição geral de 2018, quando foram eleitos, além do Bolsonaro, governadores, senadores e deputados fascistas e ultra-reacionários, estabelecendo a atual correlação de forças notoriamente desfavorável ao campo popular.
4. Nesta eleição de 2020, quase todos candidatos apoiados pelo Bolsonaro perderam. O cenário resultante, assim, é de [1] derrota do Bolsonaro, [2] fortalecimento da direita tradicional, [3] desempenho estacionário da esquerda em relação a 2016, e [4] queda da centro-esquerda.
A derrota pessoal do Bolsonaro não significa, entretanto, a derrota da agenda bolsonarista ultraliberal, que é unanimemente aprovada pelo Congresso no contexto do pacto oligárquico de dominação racista, antipopular e antinacional que une todas frações da classe dominante num inaudito processo de devastação da soberania nacional.
5. O elemento estratégico comum da pregação conservadora e reacionária continua sendo, fortemente, o antipetismo. Antipetismo já não significa apenas destilar ódio contra o PT; se tornou uma designação genérica para anticomunismo, racismo, misoginia, machismo, LGBTQ+fobia etc. É uma arma genérica que serve para atacar qualquer pessoa com uma visão de mundo democrática, plural, justa, e que defende valores civilizatórios e humanistas.
A oligarquia dominante descobriu no antipetismo, no preconceito e na estigmatização fascista dos seus inimigos de classe o elixir para sua longevidade.
Quando o adversário/inimigo é progressista, o código de guerra antipetista é o remédio eficaz. Até mesmo para a centro-esquerda, como fez o jovem candidato peessebista do Recife, que não hesitou em se servir do cardápio fascista para desconstruir a oponente petista com um método imundo e vomitável.
6. Segmentos extremistas da oligarquia se refugiam no subterrâneo das igrejas neopentecostais, do sectarismo religioso, dos grupos fechados de estilo maçônico e nas redes sociais, de onde promovem uma guerra antipetista virulenta e suja todo dia, 24 horas por dia.
Esta ação permanente e sistemática, operada em conexão com agentes da extrema-direita internacional, tem sido notavelmente eficaz no Brasil.
7. A eleição municipal de 2020 fortaleceu a oligarquia que executa a agenda destrutiva em curso no país.
A tarefa prioritária das direções partidárias e dos movimentos progressistas é juntar-se numa Mesa Política comum para decifrar a mecânica do atual período e colocar em prática, urgentemente, uma atuação unitária para enfrentar e deter o fascismo e sua agenda destrutiva, que avançou e se fortaleceu ainda mais na eleição.
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