A eleição do ódio
Aécio e Dilma há muito deixaram de ser meros expectadores desse pugilismo midiático para serem os violentos protagonistas da mais esperada luta pelo poder brasileiro
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Os reflexos internos dessas eleições de 2014 no povo brasileiro são repugnantes. A saber, o comportamento das pessoas, seja nas rodas de conversas ou através das redes sociais, refletem a mesma viralidade. Ou seja, o sentimento mais brutal do ser humano - o ódio - manifesta-se de todas as cores e formas possíveis e inimagináveis.
Ilações entre crença, raça, opções sexuais, preconceitos e política são o tema de milhares de frases de efeito, que contaminam as telas de computadores, tablets e celulares País adentro. Na minha concepção, nunca se debateu tanto um pleito – e já era de se esperar por conta das redes sociais– desse que vivemos nesse outubro, que de rosa só tem o nome. Para mim já escureceu, ficou rubro, da cor do tom das mais nobres discursões que presenciamos todos os dias.
Meio que por simbiose, esse sentimento violento de manifestação política, deixou as ruas e adentrou aos meios de comunicação de massa, na grande imprensa nacional, contaminando até, por incrível que parece, os próprios candidatos. Fato comprovadamente real, visto a olhos nus, a cada debate televisionado, onde as mais doces perguntas viram as mais perversas respostas ou vice-versa.
Aécio e Dilma há muito deixaram de ser meros expectadores desse pugilismo midiático para serem os violentos protagonistas da mais esperada luta pelo poder brasileiro, cujo troféu é senão a Presidência da República. Emparedados num imenso Big Brother da vida real, eles desafiam as mais incautas descobertas de Freud.
O Brasil assiste a transtornos compulsivos (da torcida e dos atores) em meio a gestos obscenos (como o do médico do RS) e lindas frases de efeito nos mais diversos temas abordados. Expressões de tranquilidade e nervosismo, raiva e paz configuram e desfiguram os rostos dos partícipes da peça principal. E isso é preocupante, visto aos olhos do mais atento expectador, ou até mesmo do menos letrado.
Formadores de opinião, os protagonistas se deixaram levar pela onda dos figurantes, pelo cenário (de batalha) e pasmem! Até mesmo pelos spoillers de platéias meramente organizadas.
Infelizmente nesse jogo de empurra- empurra o sentimento que fica é o de que houve um vencedor e um perdedor. Um que bateu melhor e outro que apanhou mais. Entretanto, na realidade, todos são perdedores; inclusive os animados expectadores de plantão. Explico: Onde deveria existir uma linda e transparente vitrine de programas e/ou projetos que beneficiasse a população, reina o jogo de palavras frias e agressivas, que de nada vai engradecer um ou outro.
Eventos como esse dá audiência vazia, que não traz a esperança que a maioria das pessoas queria encontrar, nesse ou naquele político. Não traz um sentimento de representação eficiente, de segurança e de ufanismo. Muito ao contrário, mostra que estamos (In)voluindo, saindo de um estado expectativo de obras, para um simples jogo de palavras , onde nada, nada é verdadeiramente palpável e concreto. Nem mesmo as doces palavras soltas ao vento trazem o alento e a reflexão necessários, para uma boa opção de escolha na hora da eleição.
Termino esse texto citando William Shakespeare em seu poema sobre o ódio ( E o amor), que traz uma reflexão interessante para o debate Dilma versus Aécio e vice-versa:
" ~ Soneto 35 ~
Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;
Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;
Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te excuso, e me convenço
Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,
Dou-me ao ladrão amado e amoroso."
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