A eleição do Conselho Tutelar e o equívoco da crítica aos evangélicos
Portanto, não tenho procuração para fazer defesa dos Evangélicos, por não ser eu um deles. Se o faço, é porque minha liberdade de pensar e analisar me levam a construir algumas reflexões
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Quem me conhece, sabe de minha participação como Cristão, na Igreja Católica. Desde muito jovem, sempre dediquei parte de minha vida naquilo que minha fé me leva a fazer. E foi isso que me levou a ser Conselheiro Tutelar aos 23 anos de idade. Mais tarde, aos 33 fui eleito vereador, também com a efetiva participação das comunidades cristãs católicas em minha eleição.
Portanto, não tenho procuração para fazer defesa dos Evangélicos, por não ser eu um deles. Se o faço, é porque minha liberdade de pensar e analisar me levam a construir algumas reflexões e me impulsionam a esclarecer algumas questões que julgo serem fundamentais para compreender onde está o equívoco destas críticas que alguns setores da sociedade vêm fazendo aos Evangélicos.
Neste 06 de Outubro acontecem as eleições gerais para Conselheiros/as Tutelares em todo o Brasil. É uma eleição de fundamental importância, pois se trata de um projeto onde a efetivação da aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente se aplica sob a tutela e responsabilidade de gente do povo.
Em meu ponto de vista, a eleição do Conselho Tutelar, é a eleição mais democrática que existe no Brasil em razão de suas características, objetivos e poder delegado pela sociedade através das eleições aos eleitos.
A característica exemplar do voto para Conselho Tutelar se dá por seu caráter autônomo e não obrigatório. Trata-se da única eleição que delega poderes a um cidadão de forma facultativa, ou seja, o eleitor não vai votar por ser obrigado, vota por causa do candidato! Em tese, essa é certamente a forma mais democrática de participação eleitoral, pois não traz consigo aquele eleitor xucro que está ali alimentado por dois sentimentos:
O primeiro sentimento é o do incômodo de estar votando obrigatoriamente, logo, não acredita neste processo. E o segundo é a consequência deste: este eleitor ao não acreditar no processo eleitoral, não se sente beneficiado por ele, logo, é facilmente cooptado para que havendo alguma vantagem, topa eleger qualquer porcaria. E nisso elege quem lhe ofereça vantagem, que pode ser de uma simples carona até dinheiro para que se sinta recompensado por sua frustração. Temos aqui a origem do eleitor corrupto!
Quem vota pra Conselheiro Tutelar vota por duas razões. Ou acredita na pessoa que é candidata ou acredita em quem está indicando o voto nesta candidatura! É bem verdade, que pode haver cooptação e compra de votos neste caso? Sim... pode haver! Mas o interesse e a capacidade financeira neste caso são muito menores!
A questão do voto dos evangélicos! Como a questão deste voto não está relacionada a compra de votos, então, o que sobra é a indicação das Igrejas nos candidatos a Conselheiros Tutelares. E em meu ponto de vista eles estão CORRETOS! Algumas igrejas estão preparando seus candidatos a muito tempo. Fazem uma leitura sobre seu ponto de vista relacionado ao Estatuto da Criança e do Adolescente e criam a partir daí um programa para que sua visão de mundo seja aplicada pelo candidato eleito, em sua atuação como Conselheiro Tutelar.
Aqui reside uma curiosidade. Somente quem não conhece a dinâmica de um Conselho Tutelar acredita que um conselheiro possa doutrinar a ação cotidiana da atuação de um Conselho seguindo as premissas de sua religiosidade! Não consegue! O serviço de um Conselheiro Tutelar obedece a critérios que não podem estar limitados a crença religiosa de quem quer que seja, pois há um controle rígido feito por diversos atores.
E o primeiro deles é o próprio atendido! Nem um Conselheiro Tutelar, em razão de sua função consegue obrigar uma pessoa ir pra sua Igreja sem que essa queira ir. A família por mais desestruturada que seja tem suas perspectivas próprias sobre a religiosidade que lhes afeta, e quando não as tem, aí é que não obedece a comandos religiosos de nenhuma forma.
Mas escapando deste, há os Conselhos Municipais do Direito da Criança e do Adolescente (CMDCA) que funciona como uma espécie de órgão controlador das politicas públicas voltadas para a Criança e ao Adolescente e, portanto, fiscalizador das ações até mesmo de Conselheiros Tutelares.
Por fim há o próprio Ministério Público e Poder Judiciário, que criam uma relação muito estreita com os Conselhos Tutelares em razão da aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo que os abusos, são possíveis de serem diagnosticados e por muitas vezes, até mesmo pelos próprios Conselheiros Tutelares. Logo, é uma bobeira, achar que Conselho Tutelar pode doutrinar religiosidade através desta função.
Diante deste diagnóstico, penso que o problema não está nas Igrejas que se organizam para ter seus candidatos a Conselheiro Tutelar. O PROBLEMA ESTÁ NAS QUE NÃO FAZEM ISSO! Tenho acompanhado algumas criticas que entendo ser equivocadas por princípio.
Por exemplo: Igrejas como a Católica, a Metodista, Batista, Anglicana e Presbiteriana, são fundadoras do Estatuto da Criança e do Adolescente. Particularmente, as Igrejas Católica, Presbiteriana e Metodista, foram precursoras e tiveram papel essencial na aprovação do ECA no ano de 1990 com intensa campanha para que deputados aprovassem aquela lei. E isso se dá pela natureza da função das Igrejas.
Elas lidam com as mazelas da sociedade e são as Igrejas que na maioria das vezes são as únicas a oferecer soluções para os conflitos existentes no seio da sociedade que não raras vezes, sequer chegam ao poder público.
Os primeiros Conselhos Tutelares, eram formados por gente profundamente comprometida com o Estatuto da Criança e do Adolescente e foram pioneiras em diversas ações que levaram ao amadurecimento e adaptação da lei que garantiu diversas mudanças no comportamento das famílias, do poder público e da sociedade no que tange a relação com a criança e o adolescente. Mas essas igrejas que garantiram a aprovação da lei e a efetivação de sua aplicação nos finais dos anos 1980 e início dos anos 1990, em geral, abandonaram o ECA à própria sorte!!
O mesmo fenômeno aconteceu em Pastorais ditas como sociais, como a Carcerária. Também aqui, em razão do afastamento destas mesmas Igrejas, (Católica, Metodista, Presbiteriana) quem tomou conta foram os Evangélicos, detidamente os de confissão pentecostal e néo-pentecostal. Oras... então, estão reclamando do que? Dou Graças a Deus por esta gente estar onde aqueles que se dizem detentores da ação evangelizadora se omitem e se omitiram! Então, que bom que os pequenos assumiram esta missão. Podem até errar aqui e acolá, mas estão presentes no sofrimento dos mais vulneráveis. Então, não tenho como deixar de lembrar o Evangelho:
“Eu te louvo, Pai, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos (Mt 11,25-30)”
Os evangélicos, portanto, não são o problema, mas, na verdade parte da solução no que se refere aos Conselhos Tutelares e sua ação libertadora. Onde estão os padres, pastores, agentes de pastoral, movimentos sociais e demais atores que se preocupam com a temática dos Direitos da Criança? Reclamando da vida? Então, aqueles que não estão reclamando, é que estão certos!
Tivemos tempo para fazer esta discussão antes das eleições. Fizemos? Se a resposta for não, o problema não está em quem se organiza, mas em quem reclama da organização dos outros! O que precisamos cobrar é justamente isso. Fazer com que estes organismos vivos da sociedade comecem a elaborar uma plataforma de formação para interessados em contribuir com esta causa! Ela é nobre e bela! Mas precisa de dedicação e muita vontade! Pois como diz o próprio evangelho, não adianta ter talentos se estes estão enterrados em baixo do chão!
Neste ponto, quero aqui fazer uma defesa enfática sobre o que penso sobre o papel dos Evangélicos. É uma critica injusta!
Primeiro porque colocam no mesmo balaio TODOS os Evangélicos. E eu como Católico, acho isso abominável! É uma nivelação irresponsável e demagógica.Segundo: O ponto não está naqueles que estão se organizando, a critica deve ser direcionada aos que NÃO ESTÃO se organizando. E tentar fazer isso faltando três semanas para uma eleição é no mínimo risível.
Terceiro. Traduzir esta posição como se toda ela fosse uma atitude política eleitoral é um equívoco que afasta mais do que agrega! A pratica da ação do Conselheiro Tutelar, irremediavelmente o obriga a modificar rapidamente conceitos relacionados aos Direitos Humanos, então, ao invés de reclamar, os militantes que estão ligados à questão da Infância e Juventude, deveriam começar a se preparar para ajudar os Conselheiros/as eleitos em sua formação.
Por fim: Aprendemos no decorrer da vida e depois de tantas injustiças, que o preconceito é mal conselheiro. Logo, antes de fazer certas avaliações, o ideal é conhecer antes de emitir juízo de valor e principalmente oferecer ao outro lado a chance de se defender! Eu fiz isso, e me surpreendi com o tanto de companheiros e companheiras evangélicos que temos!
Aos que não se encaixam no perfil dos preconceituosos, mas que estão corretamente preocupados com esta ação deletéria de algumas denominações religiosas, fica o conselho... vamos nos organizar para não permitir esta manipulação.
Bom voto e que Deus nos abençoe!
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247