A eleição acabou; começou a eleição
"O crescimento das forças da centro-direta não bolsonarista, alimentando suas ambições em relação à disputa presidencial, deve transformar o governo e o Congresso em verdadeiros campos de guerra", diz Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia. "A divisão no campo da direita tende a se espelhar também na centro-esquerda"
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Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia
A temporada eleitoral não acabou neste domingo, na hora em que os mesários desligaram da tomada as urnas eletrônicas – que deram um show de eficiência. Na prática, a nova temporada mal começou, e é fácil perceber que viveremos em estado permanente de campanha até 2022. O crescimento das forças da centro-direta não bolsonarista, alimentando suas ambições em relação à disputa presidencial, deve transformar o governo e o Congresso em verdadeiros campos de guerra. Jair Bolsonaro é candidato à reeleição, mas vai ficando claro que não é o candidato desse pessoal – e pode não vir a ser o do establishment.
O rescaldo do domingo traz um realinhamento de forças. O MDB, que perdeu em número de prefeituras, arrebanhou cinco capitais neste domingo e ganha o status de sócio proprietário do clube fundado pelo DEM, que já havia ido bem na primeira rodada, e pelo PSDB, que emagreceu mas manteve as jóias da coroa em São Paulo. Esse grupo, que hoje tem como articuladores mais visíveis o governador tucano João Dória e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), muito provavelmente terá candidato, que disputará os votos da direita com Bolsonaro e caminhará mais ao centro.
Nesse espectro, a direita não bolsonarista tem chances de atrair o apoio de setores do empresariado e do mercado, que em 2018 acabaram nos braços de Jair Bolsonaro. Essas forças só têm um probleminha: encontrar um nome eleitoralmente viável até lá. Não está fácil, e as opções, que vão do apresentador Luciano Huck ao governador Dória, não parecem tão animadoras assim. Mas alguém será escolhido.
A divisão no campo da direita tende a se espelhar também na centro-esquerda. A dupla PDT-PSB não se saiu mal no arremate do segundo turno, e tende a se manter unida em torno da candidatura de Ciro Gomes – uma coligação que pode não ter essa musculatura toda, mas que vai tentar agregar outras forças. A disputa à esquerda pode se dar por aí. Se o PT tivesse saído minimamente fortalecido do segundo turno, ainda teria condições de liderar a formação de uma frente antibolsonarista expandida ao centro.
Ao que parece, porém, PT e PSOL não devem contar com PDT e PSB em sua frente – e até o PCdoB é visto com certa dúvida, pois luta no mundo hostil da cláusula de barreira e irá para o lado onde tiver mais chances de sobreviver.
A partir de agora, o mundo político vai girar em torno disso, e a primeira batalha da guerra de 2022 será travada em fevereiro próximo, na eleição para a presidência da Câmara. Haverá um disputa ferrenha na centro-direita, opondo as forças de Rodrigo Maia às do centrão governista de Arthur Lira, cujas legenda, o PP, poderá vir a ser o carro-chefe da campanha de reeleição de Bolsonaro.
Se vencer, o bolsonarista Lira sairá fortalecido para manter no grupo o PSD, o Republicanos e outros que, no momento, têm um pé em cada canoa. Se perder, essas legendas poderão acabar preferindo a segurança do barco da velha política e rifar Bolsonaro em 2022.
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