A dramática e ignorada crise humanitária no Afeganistão

"A mídia hegemônica no mundo não fala nada das invasões de Síria, Afeganistão, Iraque e Líbia, todas financiadas pelos EUA", escreve José Alvaro Cardoso

(Foto: Reprodução da TV)


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Por José Alvaro de Lima Cardoso

Na guerra da Ucrânia, a Rússia está sendo massacrada pela máquina de propaganda do imperialismo. O país foi rapidamente rebaixado à condição do líder mundial do “eixo do mal”. O fato, inclusive, da Rússia não ter voz na mídia hegêmonica, por si só, já revela que a Rússia não é um país imperialista. Só se ouve o outro lado.  

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A Rússia é uma potência regional, com vasto território (é o maior país do mundo) e muito bem armada. Mas é país subdesenvolvido, cuja economia se baseia na produção de commodities, tentando se defender de um inimigo ardiloso, em crise, e com muitos recursos bélicos e financeiros.  

O orçamento de defesa da Rússia para este ano, de US$ 65 bilhões, equivale a 8,5% do orçamento estadunidense, de US$ 764 bilhões. Não se trata de uma confrontação entre dois lados imperialistas, toda a ação da Rússia no processo tem sido defensiva.  

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A ação militar da Rússia na Ucrânia foi taticamente agressiva, mas do ponto de vista estratégico a Rússia visa defender suas fronteiras de um inimigo muito ofensivo, a OTAN, comandanda pelos EUA.  

A operação militar desencadeada a partir de 24 de fevereiro, ocorreu após 8 anos de provocações por parte da Ucrânia, e do fato deste país ter ultrapassado as “linhas críticas” de segurança geopolítica da Rússia. Não podemos ficar reféns das mentiras que os EUA espanham pelo mundo e que a grande mídia brasileira reproduz alegre e servilmente.   

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Uma informação veiculada recentemente pelo governo chinês ajuda a entender o que ocontece na Ucrânia: "dos 248 conflitos armados ocorridos entre 1945 e 2001 em 153 regiões do mundo, 201 foram iniciados pelos EUA, o que representa 81% do número total".  

A mídia hegemônica no mundo não fala nada das invasões recentes de Síria, Afeganistão, Iraque e Líbia, todas comandadas e financiadas pelo EUA, que destruíram esses países e mataram milhões de pessoas na guerra, ou pelos efeitos econômicos da guerra.  

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Joe Biden é o homem da máquina de guerra, era inclusive o vice de Obama no período em que foram dados os golpes de Estado na América Latina, incluindo o do Brasil.   

Um caso normalmente ignorado pela imprensa brasileira e mundial, merece toda a atenção, pela tragédia humana que representa: o caso do Afeganistão. No ano passado, depois de 20 anos de invasão imperialista no país, o império americano foi escorraçado do Afeganistão, por uma força militar, em princípio muito inferior: os guerrilheiros do Talibãn.  

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Os norte-americanos tiveram que sair fugidos de um país que, em duas décadas de ocupação, deixaram destruído e em estado de calamidade econômica e social.   

Se calcula que nos 20 anos de guerra dos EUA com o Afeganistão, a mais longa travada pelo Império, foram gastos mais de 2 trilhões de dólares (isso representa 10 trilhões de reais, mais que o PIB brasileiro). O valor equivale a gastos de US$ 300 milhões por dia, todos os dias, durante vinte anos.  

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O dinheiro seria suficiente para distribuir US$ 50 mil para cada um dos 40 milhões de habitantes do Afeganistão. Num cálculo mais preciso, se estima que o gasto total no conflito tenha alcançado a impressionante cifra de US$ 2,26 trilhões, várias vezes o PIB do Afeganistão de US$ 19,26 bilhões em 2019. Acreditem: os gastos da guerra em 20 anos, somente dos EUA, equivalem a 117 vezes o PIB do Afeganistão.   

O Afeganistão é um dos 15 países mais pobres do mundo, com um PIB per capita, por paridade de poder de compra, de US$ 2.088 ao ano, 7,1 vezes menor que o do Brasil.  

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Parte importante da economia afegã gira em torno da papoula, usada para a produção de derivados do ópio, como a heroína.

Em 2021, a expectativa de vida no Afeganistão (53,2 anos) e a mortalidade infantil (106,7 óbitos para cada 1.000 nascimentos) foram as piores do mundo. A taxa de alfabetização entre as mulheres é 29,8%, e 55,5% entre os homens.

Segundo informações da Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, 23 milhões de pessoas estão passando fome no Afeganistão (mais da metade da população).  

Há estimativas de que possa morrer um milhão de crianças de fome no país. Ao mesmo tempo, o imperialismo, em represália, está coordenando um boicote econômico, que vai acabar de matar a população do Afeganistão.  

O procedimento é conhecido. Todo país que ousa levantar a cabeça contra o império, ou sofre ataque militar, ou embargo comercial. E aquele que não enfrenta o império, mas tem recursos naturais abundantes e não se prepara, também é atacado (vejam o caso do Brasil em 2016).

Só na América Latina há três países que sofrem bloqueio econômico atualmente: Cuba, Venezuela e Nicarágua. Estão fazendo um boicote total à Rússia, neste momento. Qual o grave crime que todos esses países cometeram? Estão lutando para ser soberanos e criar as condições para se desenvolver economicamente.  

O bloqueio econômico é um verdadeiro crime contra a população, que fica sem alimentos, remédios, produtos industriais simples, em geral. Com o controle mundial que as multinacionais têm de setores inteiros, o país que sofre embargo econômico sente a falta de muitos produtos essenciais.  

O embargo econômico pode matar mais que a guerra, em si. Se estima que as sanções econômicas sofridas pelo Iraque na década de 1990 - um país que foi destruído pelos EUA com base em mentiras - é que cerca de 500 mil crianças morreram por falta de remédios e assistência social.

A Rússia está sendo muito prejudicada pelo embargo econômico. Porém, é uma potência energética e se preparou para enfrentar o bloqueio, o qual já suportou em outras ocasiões. Além disso, alguns aspectos da própria crise beneficiam o país, como a explosão do preço do petróleo, que já alcançou os patamares mais altos desde 2008 (o barril estava custando 130 dólares, ontem). A Rússia possui imensas reservas de petróleo e gás.  

Mas esta não é a situação do Afeganistão, que tem sua economia baseada na agricultura de subsistência, principalmente na produção de gêneros alimentícios, como arroz, trigo, cevada, milho e papoulas.  

Segundo a ONU 70% dos professores no Afeganistão estão trabalhando sem salários e milhões de crianças e jovens estão fora da escola. O Afegane, moeda do país, não existe mais, praticamente. Todo o sistema bancário, que já era atrasado, se desorganizou.  

As famílias estão sem dinheiro para alimentação básica, ao mesmo tempo que os preços das principais commodities, que, geralmente seguem lógica econômica mundial, continuam aumentando.   

É contra esse país que o imperialismo organizou um embargo econômico, que está colocando mais da metade da população no flagelo da fome. Mas a crueldade vai mais longe: os EUA “confiscaram” (roubaram) US$ 7,9 bilhões que o governo anterior (pró Estados Unidos), havia depositado no banco central norte-americano.  

Como os EUA foram escorraçados do Afeganistão, agora se recusam, de forma desumana, a devolver o dinheiro, mesmo diante das informações de fome epidêmica no Afeganistão. Num país no qual o salário bruto anual médio é R$ 244,00, imaginem o efeito que os US$ 7,9 bilhões teriam na diminuição da tragédia humanitária.  

Não se trata de qualquer tipo de empréstimo ao Afeganistão (ainda que fosse a atitude correta a ser tomada, num mundo que gasta trilhões de dólares com guerra).

Trata-se de devolver o dinheiro roubado pela nação mais rica do planeta, de um país miserável. Dinheiro roubado de um país com fome em massa e no qual as crianças que conseguem frequentar uma escola não dispõem de mesas e cadeiras nas salas de aula.                                                                                              

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