A dor dos outros
É triste perceber que quem perdeu toda família e sua casa vai continuar a lutar sozinho, apesar das manobras retóricas e eleitoreiras das autoridades públicas
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Num belo ensaio sobre fotografias de guerra, Susan Sontag criticou a cobertura jornalística das vítimas que morriam nas frentes de batalha. O seu argumento é que faltava empatia no olhar dos fotógrafos e cinegrafistas para com o sofrimento dos feridos e mortos.
Estamos acostumados com a exposição das estatísticas macabras dos atingidos pelas catástrofes, e isso retira do coração de quem vê o sentimento de identificação humana com as vítimas. Ninguém empatiza com números e nomes. Cada pessoa que morre, sofre ou chora pela desgraça que se abateu sobre si, é uma pessoa, tem uma história de vida, família e sentimentos.
Catástrofes como a que resultou na morte de 128 pessoas no Recife e mais de 9 mil desabrigados, sobrevivendo da solidariedade pública, necessitam muito mais do que o olhar da sociedade. Exige uma reflexão sobre a clamorosa desigualdade social que existe entre nós. Silenciosa e persistente, ela se escancara como uma tragédia humana nesses momentos, como se nunca estivesse ali diante de nossos olhos.
É triste perceber que quem perdeu toda família e sua casa vai continuar a lutar sozinho, apesar das manobras retóricas e eleitoreiras das autoridades públicas e da ajuda emergencial da comunidade. A pergunta que não cala: qual o significado de sobreviver, numa sociedade insensível e desigual (como a nossa), quando se perdeu tudo ou quase tudo. Pergunta que nos diz respeito diretamente como membros dessa comunidade humana e social.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247