A doença, o termômetro e o doente

Melhor fariam esses gestores se, ao invés de quererem intimidar seus críticos com pedidos de interpelação judicial sobre as críticas a eles destinadas, atacassem os inúmeros problemas que afligem à população



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Uma das inversões patológicas mais conhecidas é aquela onde o doente - muito enfermo - se vinga da doença, quebrando o termômetro ou investindo contra o diagnóstico ou o médico. Naturalmente o médico, o termômetro ou o diagnóstico não podem ser responsabilizados pela enfermidade do doente. Mas ele se ilude (ou pretende iludir a outros) de que não está doente, tão mal assim, e que é tudo culpa da Medicina, de seus profissionais ou dos exames clínicos.

Esse desvio de percepção parece caracterizar a atitude de certos gestores, quando recebem críticas à sua gestão. Ao invés de ter a humildade de reconhecer as dificuldades, os problemas e procurar consertá-los, na medida do possível, investem contra o diagnóstico de sua gestão, com medidas administrativas ou judiciais.

É o caso de uma curiosa inversão: a autoridade pública, escolhida para gerir recursos públicos tendo em vista atender as inúmeras carências da sociedade, conforme promessas feitas em praça pública durante a campanha eleitoral, acha que não deve mais nenhuma satisfação aos seus eleitores e concidadãos. Sua comunicação com a sociedade é a propaganda institucional ou os sofismas,a que se entrega, quando tem de responder a perguntas incômodas feitas pela imprensa.

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Melhor fariam esses gestores se, ao invés de quererem intimidar seus críticos com pedidos de interpelação judicial sobre as críticas a eles destinadas, atacassem os inúmeros problemas que afligem à população. Exemplo: pagar o aluguel dos imóveis onde funcionam as escolas públicas. Pagar a fabulosa dívida com os fornecedores e prestadores de serviço ao Estado, que inviabiliza a saúde pública, o funcionamento dos hospitais, postos de saúde etc.

Resolver o problema das merendas escolares do Ginásio Pernambucano. Cuidar dos cadáveres abandonados na IML. Remunerar condignamente os professores e servidores da educação estadual. Estancar o processo de demissão dos médicos nas UPAs , por falta de pagamento e condições de trabalho. E explicar convincentemente na Corte interamericana da OEA a mortandade e as rebeliões no sistema penitenciário que leva, aliás, o nome do santo.

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Isso sim seria a atitude mais responsável, madura e correta de um gestor que se elegeu pela mão do outro e a primeira medida que tomou foi anunciar, candidamente, um rombo de R$ 8 bilhões nas contas publicas!

Será que ninguém disse a esses gestores que déficit público não se resolve com aumento de impostos, corte de salários e falta de investimentos? - Num contexto de retração econômica, alta de juros, desemprego e queda da renda do trabalho, mais impostos só aumentam a recessão e a queda da arrecadação? - O problema do déficit público só se resolve com cortes na própria carne (andar de avião, por exemplo) e com o aumento da atividade econômica.

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Não se aumenta a arrecadação apenas com aumento de impostos, mais inflação e mais recessão. Aumenta-se o confisco, a expropriação da limitada capacidade contributiva do cidadão e da cidadã. Esse fundamentalismo fiscal - aprovado com pequenas ressalvas pela bovina maioria governista - só impõe mais sacrifícios à população e não vai resolver o problema de caixa do governo.

Ao invés de combater os sintomas da doença, o governo do senhor Paulo Saraiva Câmara devia fazer uma" mea culpa" dos inúmeros erros cometidos, ao invés de investir contra os críticos de sua administração.

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