A doença imaginária
Esse genocídio da população mais vulnerável não tem nada de natural. Ou divino. É a marca da crueldade do capitalismo pandemônico de nossa famigerada época
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LA MALADIE IMAGINAIRE - Esse é o título de uma das mais conhecidas comédias de Moliére. Trata de uma doença imaginária de que se queixa permanentemente o personagem. A própria medicina criou uma especialidade chamada de doenças psicossomáticas. Ou seja, manifestações físicas (dor, ansiedade, medo) que têm sua origem na economia mental\ psicológica do paciente. É como se o sofrimento psíquico, a carência, o abandono, a depressão provocasse efeitos patogênicos no corpo da pessoa, dando a impressão que o mal-estar é físico e não de origem mental.
Fiz essa pequena introdução, para falar da doença enquanto uma metáfora social. Na verdade, essa expressão de uma ensaísta norte-americana, profundamente crítica da política externa dos EUA, cujo nome é Susan Sontag, que morreu de câncer. Segundo Freud, as sociedades - como os indivíduos - adoecem: ficam enfermas e são vitimas de patologias mentais. Ele próprio diagnosticou "um mal-estar na civilização", em uma de suas últimas obras.
Impressionado com o aumento da violência, Freud viu uma neurose coletiva se avolumando, em razão das renúncias sucessivas que a civilização impõe a todos nós, sem uma contrapartida razoável, além do conforto e a segurança. As pestes, a lepra, bem como os surtos mortíferos das grandes guerras também foram vistos numa perspectiva antropológica ou religiosa como sinais ou consequência da desordem ética, moral ou social das pessoas. Que dizer dessas últimas pandemias que têm assolado os povos, em todos os quadrantes do planeta?
Um primeiro ponto, é que vivemos uma época de uma civilização planetária, um mundo sem fronteiras (sobretudo, para as mercadorias, bens e capitais). Essa globalização das sociedades pode ter concorrido muito para a disseminação de virus e bactéria. Um segundo ponto é a guerra comercial entre as potencias econômicas. Aí, como a espionagem política e industrial, tudo vale contra os adversários, Inclusive a guerra bacteriológica. Terceiro, a biopolítica e anecropolítica como formas de governamentalidade, decidindo que merece viver ou merece morrer. A pandemia do Coronavírus parece carregar consigo todos esses elementos, numa época em que a globalização financeira dos mercados, a fragil soberania das nações e as políticas neoliberais e de direita passaram a tomar conta do universo.
Já sabemos quem são as principais vítimas: os pobres, as etnias remanescentes, os negros, os velhos, os deficientes, os desempregados etc. Essa população "superflua", que não tem lugar na história, segundo o professor Luciano Oliveira, em seu iluminado ensaio: "neomiséria, neofascismo". Não nos assustemos, Não nos assustemos muito. Esse genocídio da população mais vulnerável não tem nada de natural. Ou divino.
É a marca da crueldade do capitalismo pandemônico de nossa famigerada época. São esses os temas do debate de hoje na Livraria jaqueira, no paço da Alfandega, por ocasião do lançamento do livro: A DOENÇA COMO METÁFORA SOCIAL",
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