A dívida pública como poder de chantagem do capital

O poder financeiro conferido pela dívida pública é quase intuitivo: a escola neoliberal ensina que a origem da dívida é a demanda do setor público por dinheiro, e esse dinheiro deve ser pago com juros pois do contrário o Estado ficará desacreditado. Como expressão do poder financeiro, a dívida pública é um instrumento de pressão poderoso do setor privado por aumento das taxas de juros básicas que a remuneram

O poder financeiro conferido pela dívida pública é quase intuitivo: a escola neoliberal ensina que a origem da dívida é a demanda do setor público por dinheiro, e esse dinheiro deve ser pago com juros pois do contrário o Estado ficará desacreditado. Como expressão do poder financeiro, a dívida pública é um instrumento de pressão poderoso do setor privado por aumento das taxas de juros básicas que a remuneram
O poder financeiro conferido pela dívida pública é quase intuitivo: a escola neoliberal ensina que a origem da dívida é a demanda do setor público por dinheiro, e esse dinheiro deve ser pago com juros pois do contrário o Estado ficará desacreditado. Como expressão do poder financeiro, a dívida pública é um instrumento de pressão poderoso do setor privado por aumento das taxas de juros básicas que a remuneram (Foto: Jose Carlos de Assis)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

A dívida pública não é apenas expressão do poder financeiro do setor privado sobre o Estado, mas, sobretudo, a âncora do poder do capital sobre a orientação da política econômica geral dos governos. O poder financeiro conferido pela dívida pública é quase intuitivo: a escola neoliberal ensina que a origem da dívida é a demanda do setor público por dinheiro, e esse dinheiro deve ser pago com juros pois do contrário o Estado ficará desacreditado.

Portanto, como expressão do poder financeiro, a dívida pública é um instrumento de pressão poderoso do setor privado por aumento das taxas de juros básicas que a remuneram. No Brasil, a Selic. O raciocínio implícito é que o setor privado, como titular da dívida, pode exigir do governo sua liquidação, provocando um total desequilíbrio no mercado financeiro. Para evitá-lo, o Estado é "obrigado" a manter taxas de juros desejadas pelo mercado.

Ao lado do poder financeiro, a dívida pública confere ao setor privado um poder quase absoluto sobre a política econômica. De fato, para manter o valor financeiro da dívida, é necessário articular as políticas monetária e fiscal de maneira adequada. O governo não deve expandir a moeda, independentemente das necessidades da economia e da geração de emprego, pois do contrário haverá uma pressão de baixa da taxa de juros da dívida.

continua após o anúncio

A política fiscal, por sua vez, deve conciliar emissão de títulos públicos com emissão de moeda no sentido de evitar a emissão monetária para o pagamento dos juros/rolagem da dívida numa escala que pressione para baixo a taxa de juros. Em uma palavra, a essência da política econômica, que no Brasil é ainda mais travada que nos países desenvolvidos, fica atrelada às pressões políticas do setor privado para manter e ampliar a dívida pública.

Entretanto, vejamos essas relações de uma outra forma – para lembrar Abba Lerner, sob a ótica de finanças funcionais. Primeiro, vamos considerar que dívida pública não tem nenhuma relação com a demanda de dinheiro pelo setor público, mesmo quando em situação de gastos deficitários. O governo pode simplesmente emitir dinheiro em lugar de emitir dívida, sobretudo se a economia estiver em recessão, depressão ou contração, como agora.

continua após o anúncio

Nessa hipótese, não haveria nenhuma necessidade de dívida pública. A necessidade surge do próprio setor privado que precisa ter instrumentos financeiros seguros para neles aplicar seus lucros e suas sobras de caixa. Em última palavra, é o setor privado que precisa da dívida, não o setor público. E tão logo tenha um instrumento de dívida onde aplicar seus lucros o setor privado passa a exigir taxas de juros maiores para rolar toda a dívida.

Tão logo se "liberte" da necessidade de ter dívida, o Estado pode aplicar a política monetária – taxa de juros e expansão da moeda – indispensável à retomada do crescimento. Vimos que nos Estados Unidos, na Europa e no Japão a taxa de juros foi reduzida e aí mantida por anos na faixa do zero por cento. Nós, que copiamos tudo dos países desenvolvidos, não copiamos isso. Deles, em matéria econômica, copiamos apenas ideologia neoliberal.

continua após o anúncio

Em termos práticos, não é o valor absoluto da dívida que deve preocupar, mas seu custo. Amigos meus falam em forçar a "transformação" da dívida pública em investimento. É uma bobagem bem intencionada. Primeiro, são quase R$ 3,5 trilhões de dívida; não há como operacionalizar sua conversão de forma ordenada. Segundo, se a Selic for reduzida a níveis nipo-europeus, desaparece o custo da dívida, e seu estoque será gradualmente diminuído.

A zeragem dos juros da dívida tem implicações monetárias: seus titulares privados podem querer liquidar os títulos e mandar o dinheiro para fora. Podemos impedi-los com as reservas em dólar, e sobretudo com controle de capitais, como já admitido pelo próprio FMI. Finalmente, não devemos fazer uma segunda bobagem, a conversão da dívida "externa" em investimento, exceto na margem necessária para cobrir despesas de investimento em dólar.

continua após o anúncio

É que as reservas são um ativo do Estado em dólar. Se tomamos, por exemplo, US$ 100 milhões das reservas para fazer investimentos em reais, teremos duas alternativas para internalizá-los: ou criamos uma contrapartida em real, ou emitimos títulos da dívida pública para comprar os dólares. Os dólares ficarão no mesmo lugar. No meu entender, a alternativa mais razoável seria manter os dólares como "garantia" para simples emissão monetária interna, descolando esta última da política econômica atrelada à dívida pública.

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247