A digital militar

"O 8 de janeiro condensa aspectos centrais da guerra fascista contra a democracia", aponta

Forças de segurança diante de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília
Forças de segurança diante de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


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O 8 de janeiro condensa aspectos centrais da guerra fascista contra a democracia.

Não há paralelo na história brasileira de atentado assombrosamente ousado, violento e destrutivo contra os Poderes da República e o Estado de Direito.

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A fúria da horda fascista tinha endereço certo: o coração do poder civil e a institucionalidade democrática.

Um ataque tão esperado quanto anunciado. Apesar de previsível, mesmo assim impressionantemente surpreendente, devido ao rastro deixado, de terror e destruição.

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No 8 de janeiro não teve improviso ou desatenção. Tampouco houve falha involuntária da PM, perda de controle da situação, ou insuficiência “ocasional” de tropa do Batalhão da Guarda Presidencial do Exército para impedir a invasão do Palácio do Planalto.

Tudo foi metodicamente arquitetado para acontecer tal como aconteceu.

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PM’s fazendo selfies enquanto hordas de terroristas saídos do QG do Exército invadiam o Congresso, o STF e o Planalto, evidenciam a associação criminosa de policiais e militares – sobretudo do Exército – com o caos.

Caso os atentados tivessem sido perpetrados ainda durante o mandato do governo fascista-militar, o Brasil hoje estaria nas trevas.

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Bolsonaro e seus generais-mentores teriam decretado uma GLO “para que algum general assuma o governo”, como resumiu o presidente Lula em 10/1 ao explicar porque rechaçou a inconveniente proposta levada a ele pelo seu ministro da Defesa José Múcio.

O professor Odilon Caldeira Neto/UFJF aporta uma hipótese interessante sobre o “Capitólio de Brasília”.

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Para ele, o 8 de janeiro foi “um evento apoteótico de deslegitimação das lideranças políticas e instituições democráticas. O plano é cercear o governo pelo centro e beiradas para tornar insustentável o exercício de poder. O caos é um instrumento para demandar militarização”.

É notório que os próprios militares são “os engenheiros do caos” – título do livro do italiano Giuliano da Empoli sobre o papel instrumental das redes sociais para a expansão da extrema-direita.

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Depois da tormenta que eles próprios [militares] fomentam e geram, se apresentam como a força apaziguadora, que assegura ordem e calmaria. As mídias sociais são armas poderosas e eficazes da estratégia de produção de caos, confusão e desorientação.

O general Rêgo Barros, ex-porta-voz de Bolsonaro, enaltece o domínio, pelo Exército, das tecnologias digitais. Ele se gaba que o Exército “mergulhou de cabeça no ‘submundo’ das mídias sociais” e, com isso, se tornou “o órgão público com maior influência no mundo digital no Brasil”.

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Com seu estilo rococó característico, o general Rêgo Barros celebrou este êxito do Exército, que “exigiu sangue frio na interlocução sem rosto, típica da internet, suor à frente do teclado e lágrimas de emoções pela conquista do cimo”.

O empenho em fazer do Exército a instituição “com maior influência no mundo digital” é coerente com a estratégia militar de guerra híbrida para gerar caos, desestabilizar a democracia e fazer avançar o projeto de poder fardado.

A militarização das instituições e da sociedade – e, em consequência, a tutela da democracia e a interferência ilegal das Forças Armadas na política – é uma chave explicativa essencial para identificarmos os atores centrais deste processo e os complexos desafios a serem enfrentados na conjuntura.

O presidente Lula impôs uma derrota estratégica aos militares na batalha do 8 de janeiro. A solidariedade internacional e a coesão nacional em defesa da democracia criaram uma oportunidade histórica inédita para o poder civil enterrar em definitivo o delírio do Poder Moderador.

A democracia venceu a dura batalha de 8 de janeiro, mas ainda é preciso vencer a guerra fascista contra a democracia. Para isso, o enfrentamento urgente da questão militar será crucial.

* charge: Celso Schröder
** ampliado de texto publicado no
Grifo-jornal de humor

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